Venom | Crítica | Venom, 2018
Ao invés de aproveitar a falta de amarras do universo que está contido, Venom não consegue ser a ideia que passou na divulgação, se desculpando na batida tecla da diversão.
Quando pensamos no que Venom poderia ter sido uma janela de oportunidades abertas para um filme de heróis sem amarras, é mais triste ainda constar o resultado comum da aventura. Não basta apenas se apresentar como a chamada dos trailers que diziam que o mundo já tem muitos heróis e fazer um filme com apenas uma leve maquiagem de anti-heroismo. Toda a estrutura da produção acaba levando aos mesmos erros das produções mais fracas do gênero e sem nenhuma das suas qualidades das melhores. Poderia ser uma produção descompromissada, inserida dentre de um gênero que na última década tem trazido bons e maus títulos, mas preferiu ser só caricata dentro de si e, dessa maneira, não se arrisca em nada.
Querendo ser épico desde a introdução – veja como a trilha sonora age nesse sentido – o novo filme do universo Marvel-Sony, sem ligações com o foi feito até agora pelo estúdio, agindo quase como um reboot dessa malsucedida parceria, começa bem com o ritmo e a aparente junção de ficção científica com filmes de terror. Pode ser involuntário, mas parece que alguém ouviu a minha piada quando disse que Vida (Life, 2014, Daniel Espinosa) deveria ser uma prequela de Venom – pois a empresa que traz os quatro simbiontes para a Terra, fazendo um paralelo com os Cavaleiros do Apocalipse, tem esse nome. Infelizmente a coisa só desanda depois dos créditos de abertura.
Com uma montagem ágil e elementos visuais se dividindo na tela emulando os quadrinhos, a vida de Eddie Brock (Hardy) é agitada: correndo na sua motocicleta e fazendo justiça da maneira que sabe, ele vive como repórter freelancer despindo os poderosos de sua armadura, é apaixonado por Annie (Williams) e tem um gato. Todo o primeiro ato, aliás, reforça que Eddie é um cara legal, como dar US$20 dólares para ajudar uma moradora de rua. Mas, ao invadir o e-mail da noiva para ter uma matéria sólida contra Drake (Ahmed), o filme entra no mais dos clichês de um filme romântico: o do menino que perde a menina porque fez uma coisa idiota. Pelo menos isso acontece ainda nos primeiros minutos.
É verdade que essas atitudes de Eddie servem para deixa-lo mais humano, diferente de Drake que é praticamente o Elon Musk do mal, usando cobaias humanas para integrar humano e simbionte e fazendo ameaças veladas a seus funcionários perguntando sobre suas famílias. Ou, quando já desempregado e sem Annie há meses, ele não consegue se impor contra um agiota que vem cobrar a proteção de uma comerciante da vizinhança. Tudo isso para gritar que Eddie não é nenhum herói, o que justificaria sua simbiose perfeita com Venom que veio a esse planeta com objetivos sombrios. E a história segue nessa simplicidade de bom versus mal e como alguém pode mudar se estiver rodeado de pessoas boas – a cafonice aqui chegou bem alta.
Assim como sua produção anterior, Fleischer quer fazer um filme de ação de maneira caricata. É verdade que rimos da situação desesperada de Eddie quando ele tenta entregar para Annie provas que Drake não é o filantropo que gosta de dizer que é. Ao mesmo tempo, essa não parecia ser a intenção do diretor, pois ele não aproveita de o fato desse filme não ter amarras com produções anteriores – sem referências aos universos do Homem-Aranha ou da Franquia X que são do mesmo estúdio. Se fosse um tipo de caricatura dirigida ao gênero, com certeza seria uma obra mais corajosa. Mas o diretor apenas acelera no automático para entregar uma obra sem personalidade, numa ação que deságua sem intenção na comédia.
Desde conveniências até cenas de ação que servem só para acelerar a narrativa e esconder os defeitos dos roteiros – o ritmo que aparece no começo só volta depois de se arrastar por quase uma hora –, a produção deixa de explicar coisas que precisam de explicação: por que a SWAT foi chamada para resolver uma invasão, como Annie encontrou Eddie sem ele ter dito para onde estava indo e de que jeito um simbionte consegue encontrar o outro mesmo a meio mundo de distância – e claro que o humano do mal é o hospedeiro perfeito para o alienígena mais malvado da história – são algumas coisas que podemos destacar. É uma construção tão rasa de roteiro e de personagem que quando Drake se autoproclama divinamente no seu trabalho, você desiste de encarar o filme com seriedade.
Porém, como sempre, é bom procurar bons motivos para tentar não sair tão frustrado da sessão. Além do começo, o filme tenta duas vezes manter o clima de terror – que são cenas interessantes – o disfarça de carne perfeito de Riot, a mise-en-scène da sujeira que a vida de Eddie se tornou depois de ser desacreditado, e a questão de Venom ser um grilo falante que veio do inferno e a maneira bem natural de como a fraqueza dos simbiontes é estabelecida na narrativa. Pode ser estranho para um fã da Marvel não ver o grandalhão com a marca da aranha branca no peito ou o ódio como motivador, mas não era essa a intenção do filme e isso é estabelecido desde o começo.
Mas mesmo que aceitássemos as faltas de explicações e nos apegássemos aos poucos pontos positivos – um dos mais legais é Annie lutando com o cérebro – Venom peca demais por não se aproveitar da maneira solitária que é inserida no mundo que já está lotado de seres que conseguem voar ou entortar barras de aço com as mãos. Visto desse prisma, é uma produção sem coragem. E se a colocarmos na mesma cesta desse mesmo gênero, não existem motivos para nos lembrarmos com algum sentimento além de frustação depois dos créditos. Ao tentar fazer um filme de ação com a intenção de não ser um filme de heróis, o estúdio falhou em ambos, se segurando apenas na velha história da diversão – e temos que continuar perguntando se isso é suficiente.
Como todo filme da Marvel, há cenas extras. A primeira no meio estabelece o vilão para um próximo filme, se acontecer. A segunda não tem nada a ver com o filme, mas pode atiçar os fãs que esperam um bom filme do Homem-Aranha.
Elenco
Tom Hardy
Michelle Williams
Riz Ahmed
Scott Haze
Reid Scott
Direção
Ruben Fleischer (Caça aos Gangsteres)
Roteiro
Jeff Pinkner
Scott Rosenberg
Kelly Marcel
Argumento
Jeff Pinkner
Scott Rosenberg
Baseado em
Venom (David Michelinie, Todd McFarlane)
Fotografia
Matthew Libatique
Trilha Sonora
Ludwig Göransson
Montagem
Alan Baumgarten
Maryann Brandon
País
Estados Unidos
Distribuição
Sony Pictures
Duração
112 minutos
Cena Extra
Ao investigar casos de indigentes desaparecendo das ruas da cidade, o repórter Eddie Brock encontra um ser vindo do espaço: o simbionte Venom que agora faz parte de Eddie.
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