Creed II | Crítica | Creed II, 2018
Se levando mais pela nostalgia do que pela ousadia, Creed II prefere um lugar seguro ao invés de tentar ser criativo.
Parece difícil entender a regressão de uma proposta tão boa executada por Cooper no filme anterior para a de Caple Jr em Creed II. Mas percebemos que ela tem um nome: Stallone. Sabe-se que a história de Rocky é um paralelo com a vida de Sly, e que ele fez aqueles filmes para exorcizar os momentos ruins que passava e a celebrar os bons. Mas no filme de 2015, a tocha tinha sido passada e retornar um personagem em nome tão somente da nostalgia não condiz que a intenção tomada anteriormente. Sem dúvida há momentos emocionantes envolvendo o protagonista – além das atuações de cada um deles – mas o criador desse universo pareceu mais preocupado em reafirmar que ele é responsável por tudo do que deixar sua criação voar.
Agora um jovem campeão, e um tanto perdido por não saber como reagir à essa sensação, Adonis Creed (Jordan) começa a ver as grandes mudanças na sua vida. No aspecto oposto está Viktor Drago (Munteanu), um homem esquecido apesar do sobrenome. Enquanto Donnie vive cercado por amor vindo de Bianca (Thompson) e Rocky (Stalone), o filho de Ivan Drago (Lundgren) não recebe o mesmo do pai, algo que é posto em contraste tanto pela fotografia e pela maneira que os dois pugilistas são tratados por seus mentores. Na introdução, Viktor é acordado pelo pai num soco, e não há troca de palavras, apenas olhares perdidos. No nosso reencontro com Adonis e os outros, há uma preocupação, conselhos e uma câmera que se move em círculos, sem pressa, para reforçar o carinho e que aqueles dois são parte do mundo do filho de Creed.
Nos é apresentado um terreno que fala sobre o peso dos pais, e como isso nos influência – e não apenas à Donnie ou Viktor. Mesmo que o pai de D não esteja presente fisicamente, ele existe como uma presença, ainda que a história de Rocky seja mais lembrada na Filadélfia, um legado que mesmo que ele quisesse não poderia ser ignorado. Com a ajuda de um inescrupuloso produtor de eventos e por um Viktor que foi alimento mais com ódio do que com carinho, esses dois gigantes se encontram nos trilhos que seus pais deixaram. A diferença é que Viktor não conhece outro mundo e para ele a única maneira de resgatar a honra dos Drago é vencer o filho de Creed. Já Donnie teria a oportunidade de fazer isso de maneira diferente, mas como costumar acontecer com todos os pupilos, ele não dá ouvidos ao treinador.
Após essa identificação – que possivelmente qualquer ser humano na Terra sentiu alguma vez – é que a trama cai demais para a obviedade. Pois quando Donnie aceita o desafio de Viktor, depois de uma cena bem fora de lugar entre Drago e Rocky, sabemos exatamente o rumo que a história vai tomar. Na segunda parte, a da queda, se joga o personagem na escuridão, quebrado tanto física quanto espiritualmente. Ali, ele encontrará tempo para reflexão, reaprender o que realmente importa e tudo tão típico de produções que prezam tanto pela nostalgia que se afundam nela. Para quem assistiu inúmeras vezes Rocky IV (1985, dir Sylvester Stallone) encontrará até mesmo estruturas similares com aquele filme, inclusive sabendo que a segunda parte irá acontecerá na Rússia – apesar dos Dragos serem ucranianos.
E as referências continuam até visualmente, mas elas não estão ali como homenagem, mas para reverenciar um passado, o que não permite que a história tome seus próprios rumos. Então, na terceira parte para o renascimento dessa fênix, Adonis se isola assim como Rocky, treina pesado e de maneira quase como se fosse uma luta de rua. Antes ele lidava com uma insegurança, algo normal e bem compreensível, mas agora que ele descobriu pelo que lutar – no filme de 1985 Rocky faz pela memória do amigo – a fera saiu da jaula. Por causa da idade, Rocky virou algo como o Sr Miyagi para Donnie, rendendo alguns momentos que tiram risos da plateia.
Podemos ao menos aprovar que há na revolta de Donnie com Rocky por não aceitar treiná-lo no início a mudança que o protagonista precisava. Um novo lar e uma nova filha que está a caminho poderiam ampliar sua visão de mundo. Então é curioso notar que apesar disso tudo, Adonis entra no ringue na sua primeira luta contra Viktor da mesma maneira que o pai fizera quando morreu: cheio de pompa e circunstância, ovacionado, coberto pela bandeira americana. E mostrando mais uma vez domínio das cenas mais empolgantes, Caple Jr tira a audiência da cadeira com as coreografias de luta, onde por causa dos cortes e dos sons, sentimos parte daquela experiência e também potência dos socos.
Infelizmente, a história cai no redemoinho da saga, e por isso acredita que precisa referenciar em praticamente 2/3 do filme Rocky IV. Falta uma novidade, algo que evitasse tanto a nostalgia para que alguns elementos fossem próprios para lembranças futuras, como fez o próprio Coogler no filme anterior, ou algo parecido com Star Wars: Episódio VII – O Despertar da Força (Star Wars: Episode VII – The Force Awakens, 2015, J.J. Abrahms). E o pior é que notamos que existe um espaço perfeito para ousadia, uma janela de oportunidade que serviria para sair do clinch, mas o abraço de Stallone falou mais alto aqui. Está acontecendo com gente graúda como J.K. Rowling, e parece que nosso Sly sofre do mesmo mal.
É verdade que a terceira parte do filme não deixa ninguém parado, com decisões narrativas e estéticas que fazem nos lembrar do momento político nos EUA. É bem marcante que Donnie chegue para lutar apresentado pela esposa que canta I Will Go To War (Eu Vou Para a Guerra) e com o protagonista abandonado as cores da bandeira e lutando de preto. Pode ser que tais escolhas do diretor e de Ryan Coogler, na cadeira de produtor, passem despercebidas pela empolgação que vem depois com tanta adrenalina envolvida. Mas, da mesma maneira que os filmes de Rocky não são sobre boxe, o filme de Caple Jr também não é.
O que acontece e que prejudica bastante a produção é que isso é deixado para trás em muitos momentos. Apesar sobre a superação do espírito humano, e apesar de isso acontecer também em algum nível em Creed II, a influência de Stallone na produção é tão grande que afundou o que tinha sido apresentado no filme anterior, mas não de maneira definitiva. Assim esperamos. A nostalgia é até um sentimento bonito pois mostra um carinho por momentos que fizeram parte na nossa vida e até podem ter nos feito pessoas melhores, mas não saber quando se libertar dela para trilhar caminhos diferenças é se entregar à falta de criatividade.
Elenco
Michael B. Jordan
Sylvester Stallone
Tessa Thompson
Wood Harris
Phylicia Rashad
Dolph Lundgren
Florian Munteanu
Brigitte Nielsen
Direção
Steven Caple Jr
Roteiro
Juel Taylor
Sylvester Stallone
Argumento
Sascha Penn
Cheo Hodari Coker
Fotografia
Kramer Morgenthau
Trilha Sonora
Ludwig Göransson
Montagem
Dana E. Glauberman
Saira Haider
Paul Harb
País
Estados Unidos
Distribuição
Warner Bros. Pictures
Duração
130 minutos
Data de estreia
24/jan/2018
Adonis é o campeão! Mas o passado bate à porta quando o filho de Ivan Drago começa a ganhar notoriedade e desafio e filho de Apollo Creed. Buscando o conselho deseu treinador, Rocky acredita que o pupilo não está pronto. Mas isso não impede D de tentar vencer o fantasma do pai.
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