Viva: A Vida é Uma Festa | Crítica | Coco, 2017
Viva: A Vida é uma Festa atinge diferentes faixas etárias por causa de suas diferentes camadas, além de mostrar como outra cultura encara a morte.
Bonito por fora e emocionante por dentro, assim é Viva: A Vida é uma Festa. A produção é uma daquelas com selo Disney•Pixar de qualidade onde as diferentes faixas etárias irão curtir por motivos diferentes. É um amplo espectro, vindo desde as crianças, por causa das cores e das situações engraçados, até os adultos que vão se identificar pela mensagem. A maturidade do estúdio foi atingida em Divertida Mente (Inside Out, 2015, Dir Pete Docter), mas nada que tire o brilho próprio desse filme que volta os olhos para a dificuldade de ser o que somos, a busca por um equilíbrio, perdão e amor incondicional. Além de focar numa cultura que celebra a morte de maneira diferente.
A verdade é que a cultura cristã é bem chata em relação ao pós-vida. Seja um sofrimento infinito ou ficar tocando harpa pela eternidade, a maneira que fomos criados parece não levar em conta que o Além deveria ser algo bom, um alento para depois de uma vida sofrida. Por isso a primeira visão de Miguel (Gonzalez) quando chega ao outro lado é tão marcante para nós, mais acostumados com a visão católica das coisas. Lá é um mundo, em geral, alegre e colorido, cheio de música e dança. Mas ainda humano – e há uma oposição mundana nesse lugar, exatamente o lugar onde Diego de La Cruz (Bratt), o grande herói de Miguel mora.
O nosso jovem herói é um pária numa família de párias – ele é o único que gosta de música na única família do México que não gosta de nenhum tipo – e, passando por essas idades de descobertas, se revolta com a família que lhe impõe um futuro. Se formos fazer um parelelo com a vida real, pode parecer a primeira vista como casos que pais querem que seus descendentes sigam carreiras parecidas, como estar no comando da empresa, ou do escritório de advocacia. Porém, para Miguel, é um destino mais a ver com sua condição social. Ele e a família são muito pobres e apesar de nunca reclamar disso, o jovem faz serviços de engraxate fora de casa e seu violão é feito com madeira mal pintada e os trastes e as escalas são pregos usados.
Levando isso em conta, a música é um escapismo dessa vida, mas também por estar no seu sangue tanto quanto a carreira de sapateiro da família. Porém, ao ouvir essa voz do coração e principalmente por acreditar que ele é da família de La Cruz, é que Miguel começa sua aventura. A história é bem dinâmica, então não há uma explicação lógica porque ao tentar roubar o violão do finado musicista que admira faz com que ele transite entre o mundo dos vivos e dos mortos. Assim como toda a trama, a mágica que só seria possível no dia de los muertos é motivo suficiente.
Tão perdido quanto Miguel, que não encontra apoio sobre seguir o que deseja ser nem mesmo com seus parentes mortos, está Hector (Bernal) que tenta escapar para o mundo dos vivos para poder rever a filha, sendo impedido por não ter um altar. É no começo da intereção entre os dois que o roteiro dá um leve tropeço e onde o filme perde um pouco da emoção inicial, que volta com toda a força já perto do fim. Ao entrar em acordo com Miguel para que ele coloque a foto do morto num altar para que ele possa voltar, o roteiro esquece de que o ritual só vale se existirem nesse mundo descendentes para honrar seus antepassados. Se for isso mesmo, a missão de Miguel seria inócua, pois ele não sabia como chegar na família de Hector.
E todo o segundo ato é toda a busca de Miguel por seu suposto tataravô e tem algumas piadinhas fantásticas, a maioria envolvendo a fisiologia dos esqueletos, com ossos se desprendendo e muita música. É aquela parte em que as crianças vão vibrar e rir muito; e junto com os pais, pois são situações bem engraçadas. As discussões mais profundas ficam diluídas, é verdade, mas mesmo na correria contra o relógio, como qualquer filme com elementos fantásticos, uma missão precisa ser cumprida num determinado tempo – no caso, a própria vida de Miguel.
Há uma tentativa de criar um mistério sobre quem é a pessoa que a família de Miguel renegou de seu altar, um pequeno mistério que com certeza intrigará os mais jovens, mas que não é tão dífícil assim de se resolver. O que não quer dizer que não existam elementos para solucionar a questão, mas o diretor se esforça para esconder tudo da gente – e percebemos que uma simples conversa resolveria essa questão. O que tem a ver, no entanto, exatamente como a maneira que a família de Miguel o trata. Sim, eles o amam, mas se recusam a ouvir, como a maioria que ousam quebrar o status quo, seja lá de onde ele vier.
Mas só alguém sem coração não deixaria se levar por Viva: A Vida é Uma Festa. É verdade que existem elementos já usados em outras produções da Pixar ou o recente Festa no Céu (The Book of Life, 2014, Jorge R. Gutierrez), o que taxaria o filme de não-original – o que não quer dizer que não seja criativo. Há boas piadas, situações bem típicas de criança – a de Miguel automaticamente descumprindo sua promessa é fantástica. E mesmo sabendo que o filme puxa no emocional para qualquer um que tenha perdido alguém querido, é impossível não ficar com aquela pontada de emoção na garganta. A Pixar pode muito bem ser acusada de manipular a audiência, mas faz parte do jogo ser enganado por essa magia que chamamos cinema – o importante é ver os fios.
Viva: A Vida é Uma Festa concorre ao Oscar 2018 nas categorias Melhor Animação (Lee Unkrich e Darla K. Anderson) e Melhor Canção Original (“Remember Me”, Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez).
Elenco
Anthony Gonzalez
Gael García Bernal
Benjamin Bratt
Alanna Ubach
Renée Victor
Ana Ofelia Murguía
Direção
Lee Unkrich
Roteiro
Adrian Molina
Matthew Aldrich
Argumento
Lee Unkrich
Jason Katz
Matthew Aldrich
Adrian Molina
Fotografia
Matt Aspbury
Danielle Feinberg
Trilha Sonora
Michael Giacchino
Montagem
Steve Bloom
Lee Unkrich
País
Estados Unidos
Distribuição
Walt Disney Pictures
Duração
105 minutos
3D
Indispensável
O jovem Miguel é um humilde rapaz que vive junto da sua família que há três gerações afastou a música de sua vida. Mas o jovem é um amante do violão e ao enfrentar sua família viva, o colocará em confronto com os outros que estão no além.
[críticas, comentários e voadoras no baço]
• email: [email protected]
• twitter: @tigrenocinema
• fan page facebook: http://www.facebook.com/umtigrenocinema
• grupo no facebook: https://www.facebook.com/groups/umtigrenocinema/
• Google Plus: https://www.google.com/+Umtigrenocinemacom
• Instagram: http://instagram/umtigrenocinema
• Assine a nossa newsletter!
Apoie o nosso trabalho!
Compartilhe!
- Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Twitter(abre em nova janela)
- Clique para imprimir(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Tumblr(abre em nova janela)
- Mais