Cinquenta Tons de Liberdade | Crítica | Fifty Shades Freed, 2018
Assim como o anterior, Cinquenta Tons de Liberdade vem para confirmar que a trilogia poderia ser encurtada em dois filmes.
Cinquenta Tons de Liberdade vem para fechar a trilogia de algo que não merecia ser uma. Como no filme anterior, o filme de Foley e Leonard é, se tanto, um adendo da história com algum toque de criatividade da primeira parte, mas que definitivamente não tem o que contar para uma história de 100 minutos. E ao repetir os mesmos erros que o outro caminhou, a história é desinteressante ao ponto de não confiar nela mesma e até admitindo isso com cenas de sexo que aparecem apenas para manter o selo de filme erótico, algo forçado, longe da naturalidade que gosta de passar.
Existia uma ponta de esperança nos primeiros minutos do filme. Sem enrolação, já estamos no casamento de Christian (Dornan) e Anastasia (Johnson), o que mostra uma intenção de dinamismo. Mas, assim como o resto da história, é uma enganação. Algo que vai se repetir durante as (aparentes) quatro horas e cinquenta e nove minutos do filme são músicas pop que usam as cenas de cabide e sexo. Sem nenhum tipo de filtro. Em primeiro lugar isso faz que o filme não seja um filme, mas uma playlist das mais tocadas nos serviços de streaming. Em segundo, ainda pior, não permite que a trama avance.
Isso quer dizer que qualquer coisa é uma desculpa para cenas de sexo – e curioso que uma história que, teoricamente, é voltada para o público feminino tenha tantas cenas de nudez de Ana e uma bem sutil de Christian. Então o casal é perseguido por um estranho que quer tirá-los da estrada? Sexo. Caiu um pouco de sorvete? Sexo. Christian precisa de um corte de cabelo? Sexo. Ana virou os olhos com um comentário do marido? Sexo. Isso não é pornografia, mas também não é drama. Com tantas travas, fica nítido que o roteiro não tem nada para dizer, e as numerosas cenas das transas – sempre acompanhadas por um hit da música pop – servem para alongar o filme aos seus 100 minutos.
Isso reforça a percepção que tanto o anterior como esse são adendos à primeira história, mas tão esticadas, como pouca manteiga numa fatia de pão, que não serve para quase nada. Vejam só, já estamos na terceira parte e Ana e Christian já se conhecem muito bem, ou pelo menos deveriam, e é impossível acreditar na surpresa de Ana – isso tem a ver também com a capacidade de atuação da atriz e da qualidade do diretor em dirigir seus personagens – quando ela pergunta ao marido se um jatinho era dele. Estamos falando de um personagem milionário, que já a levou para passeios de helicóptero. Mas ela ainda diz estar surpresa porque um empresário de tem um jato particular.
Esse é um roteiro tão preguiçoso que as várias conveniências do roteiro ofendem o espectador. Desde Jack (Johnson) conseguindo acesso às empresas Grey e ao apartamento dos dois sem um bom motivo e inserções como o acidente do filme anterior ser possivelmente uma sabotagem. Sem falar que Christian deve ter os piores seguranças que o dinheiro pode comprar – desde o filme anterior. E o que você faz quando você tem problemas com um invasor, sabendo que tem uma cúmplice ainda à solta? Dispensa os seguranças e vai fazer sexo. Entendo, a vida tem que continuar, mas as decisões do Christian não pintam o gênio que ele aparenta ser em outros momentos.
Falando em Christian, essa personalidade cretina e abusiva dele – a ponto de reclamar que Ana não mudou seu e-mail corporativo para o nome de casada – e as discussões que acontecem em jantares diferentes por causa de ter filhos ou não, algo que qualquer casal discute antes de casar, são coisas que já passaram do simplesmente nos irritar. Já foi dito nos filmes anteriores, mas vale a pena reforçar. Essa não é uma história de amor e sobre como ele pode mudar uma pessoa. Assim como um show de mágica com espelhos e fumaça, a história quer enganar o incauto espectador – e como a missão da crítica não é mostrar uma verdade que não existe, é necessário apontar isso.
Outro exemplo de como a história quer te reter a qualquer custo – poderíamos até chamar de filme abusivo então –, o roteiro perde tempo em sub-tramas como a do irmão de Christian. Já não bastassem as cenas de transas de Ana e Christian, que tem pelo menos a vantagem de atiçar a curiosidade do espectador, ainda temos que aguentar momentos que não acrescentam nada à narrativa. Isso acontece também nos momentos em que Christian coloca mais à flor da pele sua cretinice, se envolvendo no trabalho de Ana ou na relação com seus amigos.
Nessa época de redes sociais, posso fazer um exercício de imaginação e resumir Cinquenta Tons de Liberdade para uma hashtag: #ProblemasdeGenteRica. É um daqueles filmes que não tem uma mensagem, não tem o que dizer. E por ser o resumo de tanta mensagem equivocada, poderia merecer apenas 22 caracteres precedidos do desenho do sustenido. O único momento do filme que se destaca é a piada, que poderia ser desenvolvida, envolvendo a restrição de um personagem, algo que trouxe riso à sessão. Além disso, fica apenas uma pergunta sem resposta, e isso não tem nada a ver com uma decisão artística. Para quem é a liberdade do título?
Elenco
Dakota Johnson
Jamie Dornan
Eric Johnson
Rita Ora
Luke Grimes
Victor Rasuk
Jennifer Ehle
Arielle Kebbel
Marcia Gay Harden
Direção
James Foley (Cinquenta Tons Mais Escuros)
Roteiro
Niall Leonard
Baseado em
Cinquenta Tons de Liberdade (E. L. James)
Fotografia
John Schwartzman
Trilha Sonora
Danny Elfman
Montagem
Richard Francis-Bruce
Debra Neil-Fisher
País
Estados Unidos
Duração
105 minutos
A conclusão da história de Christian Gray e Anastasia Steel, agora a Sra Grey, com mais interações sexuais enquanto alguém do passado dos dois começa a perseguir os recém-casados.
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