Vingadores: Ultimato | Crítica | Avengers: Endgame, 2019
Entre homenagens, tragédias e passadas de tochas, Vingadores: Ultimato consegue marcar-se um tanto a mais que apenas a diversão e as cenas de ação.
Todo filme da Marvel carrega uma premissa onde nos aproximarmos com muita pressa, acabamos ficando em adjetivos – “divertido” – e lugares-comuns – “cheio de ação”. Vamos dar então um passo para trás e tentar entender melhor como Vingadores: Ultimato consegue ser uma experiência recompensadora para quem acompanha as aventuras iniciadas pela Marvel Studios em 2008. É verdade que há uma formula repetida e que pouco arriscou nos seus 22 filmes, mas também é verdade que existe na conclusão dessa fase um carinho por personagens, o que é em suma um presente para os fãs. Se isso pode ser visto como defeito, é o único aparente durante as três horas de filme.
Aproximar o espectador é algo que os irmãos Russo conseguem já no começo da história, onde Clinton/Gavião Arqueiro (Renner) representa o lado humano daquele universo, deixado sozinho por consequência do estalar de dedos de Thanos (Brolin) em Guerra Infinita (Avengers: Infinity War, 2018, Anthony e Joe Russo). E continuando de onde pararam, Tony/Homem-de-Ferro, tentando voltar à Terra depois dos eventos do filme anterior, se encontra num lugar com pouca luz. Ele também passa por mudanças, e percebendo o destino que aceitou na deriva, sequer termina uma piada na mensagem para Pepper (Paltrow). Como um bom filme de drama faz, nós somos sugados mais pelo momento e, felizmente, a música de Alan Silvestre é deixada para momentos em que os personagens não refletem tanto sobre seus futuros.
Ou seja, o silêncio é usado como elemento narrativo, diferente de tantos outros filmes de ação e aventura que não dão descanso à orquestra e aos nossos ouvidos. Precisamos estar na pele de Steve/Capitão América (Evans) e de Natasha/Viúva Negra (Johansson) e dos outros quando a presença de Carol/Capitã Marvel (Larson) chega como uma luz na escuridão. E é importante destacar que os Russo poderiam enveredar pelo caminho mais simples, e então percebemos que nem mesmo ela, a personagem mais poderosa desse universo pode fazer algo, ou Thor (Hemsworth), chamado de deus, conseguiria ajeitar as coisas. Um pouco mais tarde, Clinton diz para Natasha não lhe dar esperanças, mas é o que sobra.
E também uma dose de sorte – afinal, o que seria do nosso mundo sem ela? É a sorte que traz de volta Scott/Homem-Formiga (Rudd) do reino quântico: nada de planos mirabolantes, apenas um ser pequeno pisando no lugar certo. Depois de tanta perda e de encarar um abismo sem fundo, o retorno do personagem traz de volta tanto o humor quanto a possibilidade de um futuro animador. Mas o presente também tem seus prêmios como Tony descobre ao criar uma família e Bruce/Hulk (Ruffalo) conseguindo encontrar um meio de conviver com seu Hyde verde. Longe de ser o mesmo presente de Clint, esse encontrado por Natasha num mundo escuro, chuvoso e cheio de sangue.
Mas esse não seria um filme de heróis se todos não tivessem dispostos a fazer sacrifícios e mais uma vez provando que poderiam pensar fora da caixa, os diretores e roteiristas conseguem brincar com o clássico conceito de filmes de viagem no tempo – literalmente citando tais filmes – para mostrar que não existe apenas uma saída criativa. Isso não significa que seja original, mas é preciso que saibamos que a originalidade não existe mais, pelo menos não como pensamos normalmente. Ao brincar com ideias diferentes e misturá-las, os Russo trazem se não algo novo, pelo menos algo criativo, um conceito que pode ser confundido com originalidade de vez em quando.
Podemos até pensar como algo visto apenas como merchandising pode ser transformado em elemento narrativo. Para efeitos de comparação, lembre-se da cena de Batman & Robin (1997, Joel Schumacher) quando os heróis, na beira do que poderia ser o fim da humanidade, encontram tempo para trocar de uniforme. É só pensarmos que isso serviu à um só motivo, o de vender o dobro de brinquedos. Isso acontece também quando os trajes brancos e vermelhos são projetados para a viagem no tempo, mas pensem na simbologia disso. Nesse mundo de amaduras vistosas e colantes, é nessa missão final que os Vingadores, pela primeira vez, se vestem de maneira igual para uma missão. No fim das contas, é por isso que forças como o exército e a polícia os tem, pois não é uma questão só de identificação, mas de propósito, realmente um time.
Estruturalmente falando, a viagem no tempo faz visitarmos cenários e personagens que tivemos que deixar para trás, por um motivo ou outro. E isso emociona, não só a audiência, mas para cada um que deixou um pedaço nesses mais de dez anos de Universo Cinemático Marvel, um carinho encontra uma mão dupla. Esses são os momentos mais comoventes da trama, tanto que é quase possível ver os diretores puxando as cordas para que sintamos isso junto dos heróis. Existe inclusive espaço para um pequeno fan-service de uma saga recente do Capitão América nos quadrinhos e mostrar como alguns personagens poderiam voltar do além-túmulo no futuro.
E para aqueles que a procuram sentido mais básico da palavra, ação é o que não falta. Desde de o espaço até de volta à Terra como campo de batalha final vai levar à risos e também à algumas lágrimas, dependendo do seu nível de comprometimento com a história ou de sensibilidade íntima. Seja lá qual for o caso, vale a pena nos concentrarmos tanto nessa ação quanto ao cenário que a envolve. Como demonstram nos filmes de 2014 e 2016 do Capitão, os irmãos Russo mostram um amadurecimento necessário. Então, mesmo entre risadas e momentos que fazem a plateia vibrar e bater palmas, existe um espaço para seriedade.
Isso está presente, por exemplo, na fotografia. Em especial na última batalha, que não deixa a desejar a nenhum filme de guerra dito sério. Há uma crueza quebrada por uma voz e por uma luz que vem como um farol, mas há um significado quando lembramos da frase de T’Challa/Pantera Negra (Boseman) em seu filme solo sobre a diferença entre tolos e sábios. Essa seriedade também vem nos figurinos. O maior exemplo são os de Natasha, que se foram se tornando menos sexy e mais funcionais de um filme para o outro. Curioso que isso me leva para os dois primeiros Vingadores.
Primeiro, o cronológico. O Capitão América começa o filme com um reset do anterior, raspando a barba. Depois, ele entra numa missão com a estrela prateada de volta ao peito para então vestir mais uma vez o uniforme baseado na bandeira americana. Metaforicamente falando, é um recado que os Russos passam um por uma rima visual que se estende na viagem do tempo, onde os Vingadores têm que voltar à suas origens. Depois, para quem abriu essa saga em 2008. Tony está constantemente empregando seu cérebro nas marks da Armadura – que paramos de contar – sempre, pensando no futuro e o plano de proteger tanto passado quanto o próprio presente é outra parte dessa preocupação com ciclos que se reflete tanto no roteiro quanto nas decisões tomadas.
Filmes de viagem no tempo sempre deixam aquele problema na nossa mente e aqui não é diferente, mas os diretores e roteiristas tentam ao máximo fechar essas pontas abertas assim como fazem com essa enorme saga de 22 filmes. Em compensação, tentam dar espaço para todos que fizeram parte dessa aventura em algum momento. Com uma cara ou outra faltando, é divertido revistar alguns personagens que deixaram o universo anteriormente também emociona. Assim como cenas que esperamos tanto tempo ou a união de alguns personagens marcantes que se unem para chutar traseiros, mostrando a importância de um mundo representativo.
Alguns anos atrás eu me deparei com uma história de lição de moral sobre uma folha de papel amassada. Comparando com sentimentos, por mais que você tentasse alisar a folha, nada traria as fibras de volta ao normal. Vingadores: Ultimato é como essa metáfora. Ao invés de tomar um caminho mais fácil e deixar tudo agradável, Anthony e Joseph Russo deixam essas marcas nos personagens e na plateia, o que é também um paralelo que fazemos para nossas vidas. Filmes de heróis nem sempre quebram os paradigmas do gênero, mas essa é uma produção que, mesmo seguindo uma fórmula, em seus momentos finais consegue se diferenciar um pouco que seja.
Elenco
Robert Downey Jr.
Chris Evans
Mark Ruffalo
Chris Hemsworth
Scarlett Johansson
Jeremy Renner
Don Cheadle
Paul Rudd
Brie Larson
Karen Gillan
Danai Gurira
Bradley Cooper
Josh Brolin
Direção
Anthony Russo
Joe Russo
Roteiro
Christopher Markus
Stephen McFeely
Baseado em
Os Vingadores (Stan Lee, Jack Kirby)
Fotografia
Trent Opaloch
Trilha Sonora
Alan Silvestri
Montagem
Jeffrey Ford
Matthew Schmidt
País
Estados Unidos
Distribuição
Walt Disney Studios Motion Pictures
Duração
181 minutos
Data de estreia
25/abr/2019
Thanos cumpriu sua promessa e acabou com metade da população do universo. Vindo por um golpe de sorte, os Vingadores encontram uma maneira de consertar as coisas. Mas eles tem que voltar a confiar um nos outros. Não importa o que.
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