Vice | Crítica | Vice, 2018
Vice é uma cinebiografia que se perde numa narrativa confusa, sendo salva somente pela atuação dos grandes nomes do elenco.
Se Vice é um resumo de como qualquer um pode contar com a sorte para chegar ao poder, algo que confirma alguns ensinamentos do livro Rápido e Devagar (Thinking, Fast and Slow, Daniel Kahneman, Editora Farrar, Straus and Giroux) o mesmo pode ser dito por seu destaque nas premiações. Depois do criativo e engraçado filme anterior, McKay teve a sorte de se manter no grande circuito, produzindo uma série de filmes de gosto duvidoso. E só por isso que a produção existe, pois desde o começa ela é confusa na arte de apresentar seus personagens e desinteressante na escolha de desenvolvimento da narrativa. Se não fosse pela atuação dos incríveis protagonistas e coadjuvantes, sequer consideraríamos a relevância dessa produção.
Provavelmente, é melhor falar dos destaques do filme antes. A opção de colocar as câmeras bem perto dos atores, como se pudéssemos ouvir e participar de seus cochichos, é a escolha narrativa mais interessante de McKay. Começas nas conversas de Dick Cheney (Bale) com David Ramsfield (Carell), diálogos imaginados por motivos óbvios. Esses detalhes, que não importam muito se aconteceram daquela maneira – algo que o diretor brinca um pouco mais a frente com citações de Shakespeare – colocam na tela algo que nós, simples mortais, também imaginamos. Como Guerras começam? Com palavras, com apertos de mão? Ou com facadas nas costas. E usar um tom de comédia nisso faz que a mensagem seja passada com mais facilidade.
Depois, fica difícil acompanhar – e entender – porque McKay avança e retrocede tantas vezes numa narra de fundo histórico. Não precisávamos de dois prólogos para mostrar que Dick é considerado um néscio pelo diretor e que ele esteve nos lugares que esteve mais por sorte do que por mérito. E, diferente do seu filme anterior, as narrações off e paradas para explicações cortam a fluidez. Mas é compreensível a decisão, pois fazer como A Grande Aposta (The Big Short, 2015), com personagens alheios à narrativa falarem sobre assuntos espinhosos de economia, seria visto mais como repetição do que assinatura do diretor. O pior é perceber que sim, McKay tinha capacidade para ousar e optou por fazer bem pouco. Vejam como a analogia de lançar o anzol e isca quando Dick conversa com George W. Bush (Rockwell) funciona muito melhor que as narrações.
Porém, não podemos deixar de notar que alguns curtos momentos o filme funciona quando quer passar algumas mensagens sem apelar para a muleta da narração. E podemos lembrar de três partes em especial. Primeiro, quando a produção tem um final feliz antes do final, brincando sim com a narrativa e com um tempo do filme, transformando a história em um tipo de realismo mágico. Vale pela piada, de novo para reforçar a seriedade da trama. Os outros são em relação a escalada de poder de Cheney, nas cenas em que ele se vê feliz na sua pequena e apertada sala – onde nem mesmo a câmera consegue entrar – e quando já no posto de vice de Bush, observa o salão oval das sombras, não colocando os pés nela, mas compreendendo o poder que agora tinha.
McKay não faz nenhuma questão de que gostemos de Cheney como pessoa, mas isso não quer dizer que o demonize, apesar de lembrar que foi durante a administração de Bush Filho-Cheney que o Estado Islâmico nasceu, além de jogar no colo do vice a investida contra o Iraque na ocasião. Para quem viveu aquela época, nada distante, passa na cabeça um filme do filme, com personagens como Colin Powell (Perry) se sentindo acuado e envergonhado por ter que mentir ao senado sofre as justificativas da invasão que culminaram na queda do ditador Saddam Hussein e o número zero de armas de destruição em massa encontradas.
Existe sim uma acidez em Vice, um recado dado de maneira cinematográfico para nós, da plateia, que políticos mentem – e na cara dura, como o monólogo final do vice quebrando a quarta parede mostra – mas o andamento e a maneira que McKay escolheu para trazer essa trama à vida só é compensada pela atuação dos personagens, fazendo uma montagem que é mais pensada para ganhar prêmios do que contar uma boa história. Ou se assistíssemos tudo pelos olhos de Kurt (Plemnons) ao invés de fazer tantas brincadeiras, já que o soldado é usado como um resumo de todas as mazelas do vice-presidente, seria uma experiência menos penosa. Mas aí seria outro filme e essa seria outra crítica, e algo que não fazemos aqui é brincar com cenários possíveis. Isso fica para o mundo do entretenimento.
Vice concorre ao Oscar 2019 nas categorias Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Christian Bale), Melhor Ator Coadjuvante (Sam Rockwell), Melhor Atriz Coadjuvante (Amy Adams), Melhor Roteiro Original, Melhor Montagem e Melhor Penteado e Maquiagem.
Elenco
Christian Bale
Amy Adams
Steve Carell
Sam Rockwell
Tyler Perry
Alison Pill
Jesse Plemons
Direção
Adam McKay (A Grande Aposta)
Roteiro
Adam McKay
Fotografia
Greig Fraser
Trilha Sonora
Nicholas Britell
Montagem
Hank Corwin
País
Estados Unidos
Distribuição
Annapurna Pictures
Duração
132 minutos
Data de estreia
31/jan/2019
O filme romantiza a vida de Dick Cheney, desde sua juventude e problemas com álcool, passando pela vida de CEO e, finalmente, como o segundo homem mais poderoso do mundo ao se tornar vice-presidente dos EUA na administração George W. Bush.
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