O Protetor 2 | Crítica | The Equalizer 2, 2018
Com uma abordagem melhor explorada que no primeiro filme, O Protetor 2 é tanto um filme de ação quanto uma trama de reflexão – que se perde apenas nas conveniências.
No primeiro filme, havia uma sensação de segurança, algo que impedia uma conexão com o personagem, pois nenhum vilão parecia estar à sua altura. Mas com O Protetor 2, Fuqua consegue colocar o protagonista numa posição mais perigosa, resolvendo essa questão e assim tememos mais pela vida do sexagenário agente aposentado. E apesar de ser um filme onde a ação é o ponto principal, o diretor volta os olhos para o próprio lar, fazendo uma visão crítica de problemas internos dos EUA e tocando em questões sociais como violência contra a mulher e jovens, enquanto usa a primeira camada de sua história de modo mais básico, atraindo os fãs do gênero.
Colocando em curso sua missão de sair das sombras como um vigilante no melhor estilo Batman, Robert McCall (Washington) continua fazendo o que faz de melhor: ajudar pessoas. Ainda que seus métodos sejam questionáveis, o personagem vive por um código comum aos (super) heróis dos quadrinhos, algo que Fuqua emula com o visual sombrio de Robert por meio de seu figurino e no seu novo trabalho oficial. Dirigindo por um aí por meio de aplicativos de carona, mostrando que ele é um cara atualizado, Robert continua se conectando a pessoas e histórias, onde a sua máscara é o próprio carro, pois os mais soberbos não se dão ao trabalho de conhecer seus motoristas.
E esse é um filme de conflitos, e podemos estender essa visão até mesmo na introdução, onde Bob está disfarçado de muçulmano para resolver uma situação. Se levarmos para o lado simbólico, o que acontece na primeira missão do filme é uma metáfora para a questão principal da história. Então, existe em Bob um conflito interno – portando-se como um homem religioso, fica a pergunta se um homem bom pode fazer coisas ruins –, e isso vai se repetir quando a tragédia bater na porta dele, tornando o assunto pessoal. Essa é a melhor parte do roteiro, pois durante toda a narrativa Fuqua vai nos apontar para um inimigo externo, para depois olhar para dentro.
O problema é que é bem difícil passar a primeira hora de filme. Fuqua quer convencer tanto a plateia a pessoa bacana que Bob é, talvez a melhor pessoa do mundo, que usa pelo menos uma hora de filme para reforçar isso. Seja ajudando o senhor que foi prisioneiro do campo de concentração a achar um tesouro, a bibliotecária que teve a filha sequestrada ou a jovem estagiária abusada por seus chefes. Dando o braço a torcer, essas personagens levantam uma questão antiga: a violência contra a mulher, um problema grave e que é bem conhecido em qualquer parte do mundo. É que o diretor leva tanto tempo fazendo isso que a história demora para engatar – além do problema de ser uma propaganda do Lyft, aplicativo de caronas que não existe no Brasil ainda.
Mas é importante apontar também o destaque dado à Susan (Leo) – curto, porém –, tanto na questão de cérebro quanto de punhos. Ao ser tragada para uma missão ao lado de Dave (Pascal), a personagem mostra que não é à toa que ainda está em campo, mesmo aposentada. Isso é um paralelo ao próprio Bob, com a diferença que ela é uma peça existente e invisível do tabuleiro. E dando-lhe mais tempo para ser a amiga de Bob, inclusive fazendo visitas surpresas, a história se segura num tema bem comum às sequências, a ideia de trazer as coisas para o campo pessoal.
Ainda querendo abraçar mais questões sociais, Fuqua escolhe o jovem e talentoso Miles (Sanders) para representar o arquétipo do negro na sociedade americana que é cooptado pelo crime. Nele, Bob vê o filho que poderia ter tido e, ainda na sua missão de fazer a coisa certa, tenta salvar o rapaz de um destino que está estampado quase diariamente nos jornais. Ao invés de deixar que o jovem se torne mais uma estatística, Bob o tira à força daquele mundo. Podemos argumentar que dificilmente a gangue que o protagonista encara com armas em punho deixaria barato aquela afronta – e que Miles provavelmente viraria outra estatística assim que os dois baixassem a guarda – mas o diretor prefere deixar assim, como uma ponta de esperança.
Ou, se analisarmos melhor, o grande problema das conveniências são que elas sempre nos tiram do universo proposto por diretores em filmes de ação. Sabemos que a salvação é temporária e, da mesma maneira do original, sabemos que é uma questão de tempo até que Miles se torne alvo de quem está fazendo uma queima de arquivo. Se tratam de elementos narrativos que estão lá somente para facilitar a vida de Bob – deixar um estranho entrar na casa só porque ele diz conhecer o morador, um assassino que resolve ficar sem o cinto de segurança ou a decisão idiota de um sniper que resolve parar de atirar porque a conveniência exige – e para os bandidos, quando o protagonista ignora suas câmeras de segurança.
Nessa tempestade que está chegando, uma metáfora que Fuqua faz questão de apontar por meio de uma de verdade, a produção ganha tons de faroeste, com os clássicos elementos do duelo numa cidade abandonada e todos a sorte contra o pistoleiro solitário. É uma virada que acontece quando os vilões acabam com o modo de vida de Bob, representado pelo seu carro e trabalho, inclusive fazendo que ele use uma arma pela primeira vez. E dentro disso Fuqua estende um discurso, algo que estava embalado por essa camada de ação que começa a ficar mais claro enquanto nos aproximamos do fim.
Durante boa parte do filme, existe um incomodo em relação aonde acreditamos que ação deveria acontecer. A todo momento, somos apontados para um problema externo e ficamos até um tanto irritados, nos perguntando afinal de contas quando Bob irá para a Europa resolver o caso. Então, Fuqua nos mostra que isso é uma cortina de fumaça. Nessa produção que poderia ser apenas ação pura, temos ares de uma trama política. A narrativa do diretor quer entender o que está acontecendo em casa – no caso, seu país. Fuqua apresenta um paralelo com os próprios EUA, um lugar que está sendo levado a acreditar num inimigo externo, mas que precisa na verdade olhar para si mesmo e entender o que acontece ali.
Com a trama do perigo interno, diferente do original que era um tanto mais básico, O Protetor 2 é uma produção mais eficiente que seu antecessor. Alguns problemas ainda incomodam, mas Fuqua soube colocar nas linhas de seu roteiro as coisas que lhe pertumbam como ser humano e essa abordagem mais empática é benéfica. A falta de dinamismo do início é compensada por uma visão ferrenha de uma política excludente – é bem marcante que quatro caras brancos estejam atrás de personagens negros – e assim mostra que arte e política podem andar juntas, sem deixar de lado a questão do entretenimento. A diferença de outras produções, é que o diretor não quis que essa fosse uma experiência vazia.
Elenco
Denzel Washington
Pedro Pascal
Ashton Sanders
Bill Pullman
Melissa Leo
Direção
Antoine Fuqua (Nocaute)
Roteiro
Richard Wenk
Baseado em
The Equalizer (Michael Sloan, Richard Lindheim)
Fotografia
Oliver Wood
Trilha Sonora
Harry Gregson-Williams
Montagem
Conrad Buff IV
País
Estados Unidos
Distribuição
Sony Pictures
Duração
121 minutos
Ao continuar na sua missão pessoal de ajudar quem precisa, Rober McCall se vê num novo cenário de ação, mas com velhos rostos conhecidos.
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