Meu Ex É um Espião | Crítica | The Spy Who Dumped Me, 2018
Ainda que peque por algumas conveniências, Meu Ex É um Espião diverte tanto quanto fala sobre amizade e representatividade.
Filmes de espionagem não são nenhuma novidade, nem mesmo a inversão de papeis. Mesmo assim, existe em Meu Ex É um Espião uma vontade genuína da diretora Susanna Fogel de fazer duas coisas: a primeira é deixar que fãs desse tipo de filme se divirtam e a segunda é dar um discurso sobre sororidade. E ela é feliz nos dois assuntos. Então não são só explosões, tiros e pancadaria. Além de ser um filme sobre amizades e representatividade, a figura do personagem que é um agente secreto faz paralelo sobre o que pode acontecer quando uma relação não é baseada em sinceridade, pois o que mais precisamos quando entramos de cabeça em qualquer tipo de relacionamento é de confiança.
Relacionando dois personagens e seus diferentes mundos, mas os conectando por um elemento que é uma arma, Fogel quer colocar em perspectiva as vidas de Audrey (Kunis) e Drew (Theroux), mesmo mundos à parte. Enquanto ele luta pela própria vida por um motivo que ainda não entendemos, ela está comemorando seu aniversário com a constante lembrança de que foi dispensada por seu ex-namorado via mensagem de texto. Confortada por Morgan (McKinnon) – personagem que rouba as cenas – as vidas delas estão à um passo de virarem de ponta cabeça, algo típico de filmes de aventura. E nesses primeiros momentos que a diretora mostra seus talentos para filmes de ação, sem medo inclusive de ser violenta.
Mesmo que encontremos lugares-comuns nessas personagens, Fogel e Iserson escrevem personagens interessantes e humanas, e por isso nos conectamos com elas. Assim como a maioria de nós, Audrey e Drew querem só viver um dia após o outro, eventualmente tomar uma cerveja no fim do expediente e serem amadas. Por isso que dói saber que a protagonista foi largada do jeito que foi – mesmo sabendo as particularidades do desaparecimento de Drew. Outras interações entre essa dupla de amigas que aceita, forçadamente, o chamado para a aventura são próprias da plateia, como o conhecimento básico sobre como o mundo da espionagem funciona, se formos acreditar no que a cultura nos diz.
O que não evita que Fogel use de conveniências que beiram o exagero, mesmo se tratando de uma comédia. Certo, acreditamos na decisão de Audrey quebrar os celulares para quem elas não sejam rastreadas por Sebastian (Heughan) e Duffer (Minhaj), mas a diretora esconde de nós partes como de que maneira elas chegaram a Viena – se foi usando cartão de crédito, não condiz com a decisão e se compraram a passagem com dinheiro vivo, é uma conveniência tão grande quanto terem os passaportes no porta-luvas do carro por causa de uma viagem anterior. É verdade que essas facilidades são próprias do gênero, tanto quanto não é uma desculpa para resolver tudo.
Mas as pequenas coisas compensam, pelo menos um pouco, essas preocupações. Por exemplo, nessa aventura as duas estão correndo tanto que nem de roupa trocam até metade do filme, um misto de preocupação com estarem correndo risco de vida e um tanto de estarem de uniforme (como James Bond, sempre de smoking). Porém, o que mais nos atrai para as amigas e essa relação intrínseca, muito mais forte que o namoro de Audrey e Drew. Mesmo que Morgan não tenha a melhor das decisões sempre – ligar para os pais e avisar que está tudo bem é a pior delas – acreditamos nos laços criados entre as duas que vem de muitos anos.
E notem como para isso não é preciso flashbacks, algo que Fogel deixa para quando Audrey e Drew se conheceram. Assim como entendemos que esse elemento narrativo é um tanto clichê não-natural, ele está lá para mostrar uma falsa sensação para Audrey, também para enganar a plateia, e serve para mostrar como um personagem não era confiável desde o início, com uma conversa que ocorreu longe de certos ouvidos. Mas com Audrey e Morgan isso não é necessário, pois são as ações das personagens que reforçam essa relação – elas se entendem, não brigam e confiam uma na outra a ponto de contar seus segredos mais embaraçosos, o que rende uma das melhores cenas do filme por causa do contraste da violência com a comédia.
Acredito que não é exagero nenhum repetir como a humanidade dessas personagens é importante para a trama. Principalmente quando a assassina Nadedja (Sakhno) é introduzida, pois é com ela que temos um contraste que une mais as amigas. Enquanto as duas em perigo constante se seguram uma na outra para saírem vivas desse cenário insólito, a matadora é digna de pena, uma personagem que não consegue se relacionar com ninguém, sendo obrigada a chamar de amigo um objeto inanimado. E essa perda de humanidade é levada ao extremo perto da conclusão quando Nadedja escolhe como vestimenta um tipo de personagem mais máquina do que pessoa – e pode ser que nem todos identifiquem essa brincadeira.
Há, no entanto, uma parte que mais chama a nossa atenção em Meu Ex É Um Espião. Durante essa montanha-russa de emoções, Fogel usa por meio de suas personagens discursos fortes e atuais, uma declaração se assim preferirem, sobre o papel da mulher na sociedade. “Admita que você é incrível” ou “Você sempre se diminui” parecem ser tirados de alguma conversa que encontramos em redes sociais, frases que servem de inspiração para lembrar que elas podem tudo sim. Pode até parecer um tanto tolo como Morgan dá cabo do seu desafio por causa do exagerado embate físico nas alturas, mas a cena serve para dizer que uma amiga faria de tudo pela outra. Então, mesmo num exagero típico desse gênero, encontramos espaço para uma bem-vinda sororidade.
Elenco
Mila Kunis
Kate McKinnon
Justin Theroux
Sam Heughan
Gillian Anderson
Hasan Minhaj
Ivanna Sakhno
Direção
Susanna Fogel
Roteiro
Susanna Fogel
David Iserson
Fotografia
Barry Peterson
Trilha Sonora
Tyler Bates
Montagem
Johnathan Schwartz
País
Estados Unidos
Distribuição
Lionsgate
Duração
117 minutos
Depois de ser dispensada por mensagem de texto, Audrey quer seguir em frente. Mas isso é impossível porque ela descobre que o ex-namorado é um espião. E agora tanto ela quanto a melhor amiga são alvos de uma conspiração global – que envolve muitos tiros e muitas piadas também.
[críticas, comentários e voadoras no baço]
• email: [email protected]
• twitter: @tigrenocinema
• fan page facebook: http://www.facebook.com/umtigrenocinema
• grupo no facebook: https://www.facebook.com/groups/umtigrenocinema/
• Google Plus: https://www.google.com/+Umtigrenocinemacom
• Instagram: http://instagram/umtigrenocinema
• Assine a nossa newsletter!
Apoie o nosso trabalho!
Compartilhe!
- Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Twitter(abre em nova janela)
- Clique para imprimir(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Tumblr(abre em nova janela)
- Mais