O Artista do Desastre | Crítica | The Disaster Artist, 2017
O Artista do Desastre é a tentativa de entender a mente única – o que não é necessariamente um elogio – daquele que fez um dos piores filmes da história e ficou famoso por isso.
Assim como é difícil entender o protagonista, é difícil entender o que querem com O Artista do Desastre. Poderia ser contar a história de uma figura controversa fazendo pouco caso dela, ou uma homenagem ao cineasta que até hoje não sabemos exatamente de onde veio nem ao que veio. Dito isso, a construção da história pende sim para humor, mesmo que depois nos perguntemos se tudo aquilo é digno de pena ou de riso. A história de uma pessoa que vive num mundo próprio tem paralelos com a figura de Ed Wood, mais pela sua excentricidade do que pela sua obra.
Os primeiros depoimentos de várias caras de Hollywood – entre eles J.J. Abrams e Kevin Smith – já denotam que não estão falando sério. Afinal de contas, se há uma coisa que Tommy Wiseau (Franco) é, é ser único, um adjetivo engloba tantas interpretações positivas quanto negativas. Ao contrário de Greg (Franco), praticamente invisível, algo que magnetiza o jovem ator para o não-tão-jovem-assim Wiseau. Assim como a origem do verdadeiro diretor é nublada – há uma desconfiança dele ter nascido na Polônia – esse Wiseau aparece do nada, envolto em sombras nas aulas de teatro para chamar a atenção de todos lá por sua excentricidade.
Por ainda ter uma personalidade apagada, Greg embarca, em vários sentidos, nesse mundo de Tommy. E a palavra mundo não poderia ser mais específica, pois Tommy vive numa realidade própria – o Planeta Wiseau como ele mesmo diz. Uma das qualidades do roteiro e da interpretação de Franco e representar uma figura que não conseguimos definir se é ou um grande ator que finge ser excêntrico ou apenas um grande egocêntrico. O que é inegável é que Tommy é representado como uma criança que quando é contrariada tende a dar um espetáculo. Essa parte da personalidade do protagonista, de novo muitos bons créditos à performance de James Franco, é a parte mais importante dessa construção.
Talvez você não tenha assistido The Room, mas é uma confusão como apresentada por Franco. E foca verdadeiramente num ponto crucial da obra. Quando Tommy explode por ser contrariado por Greg e praticamente toda a equipe na cena de sexo com Julliete/Lisa (Danielle), o diretor não esconde que é, em suma, The Room e o próprio Wiseau. A representação daquele momento mostra uma pessoa desiquilibrada e misógina, uma característica clara na obra lançada em 2003. Aqui, em meio às risadas, é que Franco faz uma crítica mais forte ao seu retratado, o que pode ser a resposta do questionamento inicial sobre a abordagem.
Ao mesmo tempo, por mais conflitante que isso seja, é divertido ver Franco tentando entender a mente do diretor Tommy Wiseau. Nas suas loucuras, ou nos seus deslocamentos de realidade, Wiseau é um personagem impossível de não se notar. E, queria ou não, seu filme ainda atraia seguidores, então porque não saber mais sobre isso? Ao invés de ser por um making off, que provavelmente seria dirigido e editado pelo próprio Wiseau, vale a pena conhecer a história por esse meio mais romantizado, praticamente um caso de metalinguagem. O que mais funciona nesse caso é que, apesar do filme retratar um desequilibrado, Franco não se deixa levar por essa personalidade ao transformar sua produção em algo incoerente como o próprio protagonista.
Ou seja, apesar de podemos definir Tommy como insano, louco e perturbado, o mesmo não pode ser dito desse filme. Franco consegue sim dar foco e contar uma história plena, ainda que fantasiada em algum momento, de um momento da história do cinema hollywoodiano que é uma lenda por si só. Não seria necessário embarcar com a loucura de Tommy, mas sim sendo o que somos: espectadores. E se, nesse caso, a produção dar o braço a torcer para o mundo próprio de Tommy, seria uma experiência tão descolada da realidade que dificilmente seria entendida. E entender Tommy foi a tentativa de Franco.
No fim das contas, é preciso ter assistido The Room para ver O Artista do Desastre? A resposta é, felizmente, não. E isso não é apenas porque o filme de Wiseau é um dos piores crimes cinematográficos já cometidos, mas porque uma obra precisa funcionar sozinha. Eu diria que há uma curiosidade mórbida em saber se aqueles dias foram tão bizarros quanto vemos – algo que se tem uma ligeira amostra durante os créditos – e isso pode te levar ao filme de 2003. Essa exposição com certeza deixará Wiseau feliz e confirmará na mente dele que ele é realmente um diretor único.
O Artista do Desastre concorre ao Oscar 2018 na categoria Melhor Roteiro Adaptado (Scott Neustadter e Michael H. Weber).
Elenco
James Franco
Dave Franco
Seth Rogen
Alison Brie
Ari Graynor
Josh Hutcherson
Jacki Weaver
Direção
James Franco
Roteiro
Scott Neustadter
Michael H. Weber
Baseado em
The Disaster Artist: My Life Inside The Room, the Greatest Bad Movie Ever Made (Greg Sestero, Tom Bissell) e The Room (Tommy Wiseau)
Fotografia
Brandon Trost
Trilha Sonora
Dave Porter
Montagem
Stacey Schroeder
País
Estados Unidos
Distribuição
A24
Warner Bros. Pictures
Duração
103 minutos
The Room é tido como um dos piores filmes já feitos. Mas isso não impediu que Tommy Wiseau ficasse conhecido exatamente por isso. E essa produção é uma tentativa de entrar nessa mente única – o que não é necessariamente um elogio.
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