Killer Joe – Matador de Aluguel | Crítica | Killer Joe, 2012, EUA
Killer Joe é um filme violento, com doses de sarcasmo e humor negro e muito interessante por nos colocar numa história depressiva e tensa.
Com Matthew McConaughey, Emile Hirsch, Juno Temple, Gina Gershon e Thomas Haden Church. Roteirizado por Tracy Letts (Possuídos), baseado na própria peça de teatro. Dirigido por William Friedkin (O Exorcista).
Não é sempre que vemos um filme violento, com doses de sarcasmo e humor negro como “Killer Joe”. Friedkin juntou um excelente elenco, e conseguiu dar profundidade à esses personagens detestáveis, e que são a antítese da família unida. Com uma história intrigante, cheia de momentos tensos e deprimentes, mas altamente justificáveis, é ótimo vermos que o famoso diretor de “O Exorcista” (The Exorcist, 1973) acerta o caminho mais uma vez depois de tanto tempo.
O jovem texano Chris Smith (Hirsch) tem uma dívida com agiotas e, para se salvar, decide matar a própria mãe, que tem um seguro estimado em US$50 mil, sendo a irmã Dottie (Temple) a única beneficiária. O pai deles Ansel (Church), separado da mãe, reluta no começo, mas concorda com o plano, desde que o valor seja divido igualmente entre os três, mais a nova esposa, Sharla (Gershon). De comum acordo, até mesma de Dottie que parece viver num mundo à parte, eles contratam o policial Joe Cooper (McConaughey) para fazer o serviço.
Nesse mundo da família Smith tudo parece torpe e depressivo. Além da óbvia amoralidade no fato de assassinar a mãe para salvar a pele, Chris também tem uma relação estranha com a irmã. Desejos secretos mostrados quando ele sonha com Dottie nua, e numa sequencia mais à frente do filme, quando ela se lembra vagamente de quando Chris a consolou numa briga de família. Além disso, todas as conversas que envolvem o plano acontecem em lugares que refletem as personalidades. Chris conta o plano ao pai no subsolo de um bar de striptease, e o diretor de fotografia Caleb Deschanel reforça a depressão da cena num banho de azul. Mais tarde, quando tratam com Joe dos detalhes, os três se encontram num bar caindo aos pedaços. Nesse momento Friedkin dá força ao personagem de Joe sempre mostrando que ele é mais alto que os outros. E apesar dos atores Church e McConaughey terem a mesma altura, o personagem de Ansel fica sempre sentado e um tanto curvado, como se estivesse acuado com a presença do assassino. Notem também o lugar que acontece uma outra conversa sobre a garantia do pagamento de Joe. Depois de Sharla conversar com alguém sobre a foto pornográfica que tirou, vai conversar no porão com Ansel sobre o futuro da negociação. A conversa entre ela e o marido acontece como se fosse a coisa mais natural do mundo.
O filme vai um pouco mais além com uma riqueza de sons diegéticos que encorpam a produção: passos, o clique do isqueiro, e um tiro que vira trovão são praticamente trilhas sonoras de Joe. A música também tem papel forte na produção. O uso mais emblemático é na cena do jantar entre o assassino e Dottie, onde diretor faz uma bela mudança entre o som que está tocando no rádio para a trilha sonora mais densa.
É interessante a construção que o roteirista e o diretor fazem ao apresentar os personagens. Quando Chris chega ao trailer, ele fica aos berros na chuva pedindo para Dottie abrir a porta. Enquanto isso, T-Bone, o pitbull da família, não para de latir para o rapaz, para dar moldes mais definidos para a sua fraqueza. Quando Sharla abre a porta, ela não se preocupa em preservar a nudez, e Friedkin foca nas partes íntimas da personagem, aumentando a personalidade lascívia da madrasta. Quando Ansel chega, não dá importância do assunto, sendo ele o elo mais covarde da história. Joe é diferente. Quando ele está chegando na cidade, cruzes passam o caminho dele em primeiro plano, e o pitbull fica incomodado com a presença dele. Com poucas palavras, ele impõe respeito. Dottie é isolada, e parece saber o que se passa em certos momentos, e em outros não. Ela é tão diferente de todos, se tornando quase inocente, como é mostrado na cena em que ela dança sem preocupações à frente de uma igreja (com destaque para um cruz branca), iluminada por uma luz cálida, e pelo seu quarto que é decorado com arco-íris, uma casa de bonecas e páginas com ídolos adolescentes. Ao mesmo tempo, ela concorda com o assassinato por mera vingança, ao lembrar que quase foi morta pela mãe quando era pequena. E isso nos faz perguntar como a mente dela funciona e que partes da memória dela são verdadeiras.
O filme também lida com a questão da família. De acordo com o ditado, o sangue é mais grosso que a água. Família é mais importante. Não é assim aqui. Cada um pensa nos seu interesses, e se tornam cada vez mais individualistas. Existe uma tradição visual que mesas apertadas em jantares mostram que as pessoas, apesar da situação financeira que vivem, gostam de ficar próximas das outra durante a refeição. Mas Friedkin torce esse conceito, ao ponto de tornar o momento, no clímax do filme, a parte mais tensa da produção, com espaço para Joe perguntar cinicamente “quem vai fazer a oração?”, apesar do banho de sangue anunciado.
“Killer Joe” é uma produção violenta e perturbante, mas justificável por causa de seus personagens detestáveis. Com cenas fortes – a que envolve um frango frito ficará por anos na mente das pessoas – assim como as atuações e a segurança da direção trazem um novo clássico, que deve ser assistido e apreciado.
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