Godzilla II: Rei dos Monstros | Crítica | Godzilla: King of the Monsters, 2019
Pode até ser essa a intenção, mas Godzilla II: Rei dos Monstros não vai além de ser um UFC dos bichos gigantes da tela grande.
Maior que o personagem título é a tentativa de encapsular o mundo num filme. Godzilla II: Rei dos Monstros é uma aventura com um drama familiar de plano de fundo que consegue uma levantada do meio para o fim, mas roteiristas quiseram colocar quase de tudo num filme de pouco mais de duas horas e a sensação que fica é que não aproveitamos nenhuma delas. Durante essas horas na sala de cinema, somos bombardeados por imagens grandiosas, efeitos especiais fantásticos sem sombra de dúvida, mas que claramente estão ali para mascarar esse é fragilidade que é a trama. No fim das contas, é uma produção que serve como o que pode ser feito hoje com a capacidade técnica do cinema, mas que em si tem muito pouco para refletir.
Quem assistir essa produção vai se lembrar muito, e meio que imediatamente, de um outro filme de franquia onde outros dois gigantes se encontram, começando com ponto de vista humano. Ali se desenha uma missão onde uma mãe e um pai se separam ideologicamente e vamos testemunhar como cada um vê a chegada dos titãs, iniciado com o Godzilla (2016, Garett Edwards) anterior e depois com Kong: A Ilha da Caveira (Kong: Skull Island, 2017, Jordan Vogt-Roberts). Existe uma vantagem, um tanto comum a todas as continuações, que é ir direto à ação, apesar de termos muitos personagens novos. Pelo menos ali, nos minutos iniciais, há um dinamismo quando o diretor conta a história daquele casal por meio de um rápido flashback, conhecendo então a tragédia deles, e ali a história continua sem muitos percalços.
Ainda assim, já no começo, temos momentos irritantes e básicos que servem só para dar uma esticada na trama e que se repetem no restante do filme. Sabem quando eu pessoalmente reclamo muito de elementos que se usam em filmes como, por exemplo, o próprio flashback? Isso também acontece nas narrações off, e apesar de aqui esse recurso não existir todos os personagens verbalizam aquilo que estão vendo. Ou seja, se há uma metáfora, essa metáfora precisa explicada por mais básica e óbvia que seja. Se isso acontecesse só com Madison (Brown) por ela ser jovem faria sentido, mas até quando uma personagem experiente faz isso um pouco depois do filme você perde a conexão com a história.
Poderia até se argumentar que em um filme de monstros gigantes o que você mais quer ver são monstros gigantes brigando. Isso tem de sobra. Mas essa é uma produção que desde começo afirma que essa visão será dada pelos olhos humanos, por isso Dougherty sabiamente usa várias vezes as câmeras de baixo para cima ou colocando os olhos dentro de aviões e helicópteros, com algumas poucas vezes a visão de Godzilla ou dos outros titãs. O problema está mesmo é nesse núcleo humano, e nem estou dizendo que seja porque nós somos responsáveis pelos problemas ambientais que nosso planeta passa, mas sim o que o roteiro nos faz passar.
E isso vem do básico mencionado. Histórias não precisam ser sempre e necessariamente profundas, mas a mensagem que a Dra Emma Russel (Farmiga) quer passar é básica até para iniciados. Vejam só quando começa a explicar as razões para suas questionáveis ações, ela coloca na tela imagens de destruição, superpopulação e outros flagelos causados pela humanidade como se quem estivesse assistindo não saberia do que se tratava. E não são vídeos para ilustrar só para o espectador do cinema que, caso tenha se isolado numa caverna, não sabe do que se trata de mudanças climáticas. Podemos ver claramente que ela transmite isso enquanto conversa como quisesse convencer alguém alienado ao que está acontecendo nesse mundo.
Sem falar que o discurso dela é restaurar ordem nas coisas considerando a condição congelada de Ghidorah e que, para assegurar a relação pacífica entre titãs e humanos, ela teria que usar uma máquina para isso. O que não é exatamente um equilíbrio natural. Sem perceber, a Dra Russel faz o que nos sempre humanos fazemos com a natureza: meter o dedo onde não se é chamado – como se despertar um dragão de três cabeças não fosse aviso suficiente. Entendo, é divertido pegar as rimas como Rodan ser um ser do fogo e seu primeiro confronto ser contra um ser do gelo, que às vezes precisamos de um martelo ao invés de um bisturi, mas é tão raso que tira o prazer de assistir.
Se não fossem os grandes embates, seriam duas horas perdidas. Inclusive, uma montagem mostrando somente as lutas deixaria a produção mais interessante. Existem sim lampejos em que Dougherty se destaca, como a cena em que Ghidorah afirma-se como o novo deus desse mundo, onde no primeiro plano vemos uma cruz. Mas, no geral, o filme finca tanto em ser didático que parece ser pensado para crianças: mas o nível de violência com cabeças arrancadas, mesmo não-humanas, e gente sendo devorada não acerta esse alvo, se era mesmo essa a intenção. O único momento em que o roteiro consegue sair desse casulo de obviedade é no paralelo feito entre Madison e Mothra, personagens jovens que podem mudar o destino do mundo.
E as conveniências, claro, para fechar os momentos problemáticos. Entendemos a frustração e ódio do Dr Mark Russel (Chandler) contra Godzilla, mas não o motivo da sua agressividade com todos, já que ele se recuperou de um momento com o álcool, e do seu perfil sabe tudo, mais que a dezena de cientistas chefiados pelo Dr. Ishirō Serizawa (Watanabe), só porque ele passou os últimos anos de sua vida pesquisando lobos. E não foram lobos gigantes, apenas os Canis lúpus tradicionais, mas, por algum motivo ele é mais especialista que aqueles outros que há anos caçam Godzilla e descobriram nada menos que 17 titãs. Sem falar de um objeto extremamente importante que é deixado sem guarda porque apenas precisa, pois sem isso a história não iria para frente.
É preocupante também como os roteiristas quis enfiar tudo que é mito numa produção só: além de monstros inspirados em lendas – dragões e outros mega-seres – temos elementos de teorias da conspiração como a terra oca e até invasões alienígenas. É como se a dupla de roteiristas quisessem agradar todos que, por algum motivo, caíssem de paraquedas nessa aventura. O problema é que esse leque é tão variado que fica desforme. É uma decisão desencontrada no mínimo, com personagens forçadamente incluindo elementos e mais elementos para justificar a bagunça que é o roteiro. E quando passamos do terceiro exagero, perde-se a paciência. Mesmo num filme de seres gigantes.
Se na produção anterior a aventura e a ação eram partes importantes da história, em Godzilla II: Rei dos Monstros elas não salvam a experiência. Se muito, ameniza. É verdade que de tanta movimentação, explosões e correria, não vemos o tempo passar pelo menos até a metade do filme, onde a produção melhora ligeiramente, mas não o suficiente para salvar o dia. A tentativa de criar um monsterverse da Legendary Pictures ainda não está perdida, mas fica um aviso bem grande aqui: se querem um drama que também seja humano, deixe os humanos serem humanos, faça-os condizentes com as personalidades que foram construídas. Senão, a próxima aventura estará fadada apenas a tapas entre gigantes sem um conteúdo interessante.
Elenco
Kyle Chandler
Vera Farmiga
Millie Bobby Brown
Bradley Whitford
Sally Hawkins
Charles Dance
Thomas Middleditch
Aisha Hinds
O’Shea Jackson Jr.
David Strathairn
Ken Watanabe
Zhang Ziyi
Direção
Michael Dougherty
Roteiro
Michael Dougherty
Zach Shields
Argumento
Max Borenstein
Michael Dougherty
Zach Shields
Baseado em
Godzilla, King Ghidorah, Mothra, Rodan (Toho)
Fotografia
Lawrence Sher
Trilha Sonora
Bear McCreary
Montagem
Lawrence Sher
País
Estados Unidos
Distribuição
Warner Bros. Pictures
Duração
132 minutes
Data de estreia
30/mai/2019
Cena Extra
Cinco anos depois dos eventos que trouxeram Godzilla de volta ao nosso mundo, novos titãs são descobertos. Enquanto uns acreditam que podemos conviver, outros acreditam que eles devem ser destruídos. Nesse cenário, um dispositivo que pode controlar os gigantes caí em mãos erradas e agora Godzilla pode ter encontrado um rival à altura: Ghidorah
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