Brightburn: Filho das Trevas | Crítica | Brightburn
Mesmo se destacando ao mesclar gêneros, Brightburn: Filho das Trevas tem problemas no desenvolvimento que querem mais fazer referências do que outra coisa.
Se o mundo dos heróis veio para você no cinema, Brightburn: Filho das Trevas traz algum frescor. Para quem já acompanha as histórias em quadrinhos, nem tanto. E o filme tem tantos pequenos easter eggs que estão lá para ser caçados pelos fãs da nona arte que beiram o fan service (muitos termos em inglês, desculpem). Isso não quer dizer que seja uma experiência totalmente arruinada, mas o andamento da história, um tanto apressada, e elementos da trama tiram bastante a experiência desse filme que mistura gêneros e cria um nicho a ser explorado: o de terror de super-heróis. Ou super-vilões, depende do seu ponto de vista.
A definição mais básica que você vai ouvir por aí é que os Gunn imaginaram como seria se o Superman fosse do mal. Eu prefiro expandir isso. Para uma visão mais abrangente, o filme pergunta como seria se Damien Thorn tivesse os mesmos poderes do Homem de Aço. Isso não é um exagero, pois a vinda de Brandon (Dunn) fosse o anticristo e, como no filme de Richard Donner – coincidência ou não, o mesmo do primeiro Superman -, ainda fosse alheio do seu destino. Esses pontos de encontro são curiosos: o casal que pede por um filho, uma criança que aparece como milagre e com seus pais adotivos que descobrem que ele tem um potencial maior são características tanto de Kal-el quanto de Damien. E agora de Brandon.
E as homenagens não param. Brightburn fica no Kansas, mesmo estado da fictícia Smallville, Brandon tem uma paixão juvenil por uma colega de escola, seus pais são fazendeiros, só para citar alguns – e a conclusão, onde Brandon se apresenta ao mundo com o mesmo elemento do último filho de Krypton. É como se o universo que os fãs da DC conheceram no Brasil como Túnel do Tempo (Elseworlds no original) fosse filmado, o que é um excelente exercício de imaginação. Do lado do terror, de novo referenciando A Profecia (The Omen, 1976), a marca que Brandon deixa em seus atos é algo como o 666 da Besta, um aviso de que os tempos mudaram.
Para se afastar desse personagem idealizado, Brandon usa uma máscara, diferente do Superman que sempre mostra seu rosto. O que é, num certo nível, uma preocupação dele com seus pais humanos. É possível supor que tanto Tori (Banks) quanto Kyle (Denman) criaram com amor e carinho Brandon e esse traço humano foi o que manteve o jovem, pelo menos até metade do filme, longe da influência de seus progenitores – nunca explicados, então podemos imaginar ser tanto alienígenas ou pensar em teorias de conspiração envolvendo experimentos chineses. O seu despertar aos 12 anos, relacionado com a puberdade, é outro traço comum da história, o que mostra que os realizadores não quiseram ousar tanto assim.
Menos quando chegam na hora do terror em si. Percebendo que a história estava repleta de lugares-comuns e referências, o diretor insere na trama uma gore que está ali apenas para chocar e surfar nas produções como Deadpool (Tim Miller, 2016) e Logan (James Mangold, 2017) que subiram suas classificações indicativas para maiores de idade e esperando assim atrair mais audiência por uma curiosidade mórbida, pois não existe outro motivo para vermos tantos membros decepados, corpos abertos e mandíbulas arrancadas. Isso significa, da mesma maneira que música e sons aumentam para fazer você pular de cadeira, que o diretor não acredita no clima de terror que propõe. De novo, voltem ao filme de Richard Donner para entender melhor o que digo.
Ainda mais se pensarmos que se Brandon se sente como um ser superior, ele deveria se importar bem pouco em aterrorizar suas vítimas. Até onde sabemos, ele é o primeiro de sua estirpe nesse planeta e uma demonstração de poder mais condizente com um personagem com traços ditatoriais seria um General Zod em Superman II (Richard Lester, 1980). Porque se pensarmos bem, um ser que nos vê como formigas não se importaria muito em nos ver sofrendo. Então, Brandon é mais um bully, uma característica pouco condizente com alguém que sabe estar acima dos outros. É nessas partes que a trama começa a perder o sentido, o que confirma a correria da história.
Quero dizer que os elementos são acavalados e informações são justapostas uma a outra muito rapidamente. O que poderia ser visto como uma aceleração pelo senso de urgência, se torna apenas uma experiência confusa por não entendermos a decisão dos personagens, algo que seria resolvido, ou pelo menos melhorado, com alguns minutos a mais. Por exemplo, como as mudanças de Brandon levam o pai a uma decisão um tanto estúpida quando ainda havia um lampejo de esperança numa situação sem violência. Tenho que, de novo, me lembrar como o pai de Damian tenta resolver a situação e como Yarovesky falha em manter um clima similar.
Existe pelo menos um item obrigatório no cinema de terror e que é razoavelmente explorado aqui, o terror no familiar. Quando Brandon começa a perceber seu potencial, ele muda de atitude e de personalidade, e ser uma criança é mais perturbador. Então, apesar de falar e ainda parecer como o filho deles, Tori e Kyle começam a perceber aos poucos que aquela não é mais a pessoa que criaram. Isso é uma exacerbação do mote de que criamos filhos para o mundo e não para nós e que precisamos deixá-los voar – o que Brandon faz literalmente. E um ponto positivo, assim como a conclusão que não segue o caminho mais fácil.
Outro ponto positivo em Brightburn: Filho das Trevas é que os Gunn e Yarovesky não querem deixar uma mensagem de esperança, mas um exercício de como o mundo estaria realmente perdido se um perturbado tivesse nas mãos o poder de abrir uma porta de metal apenas com as mãos, o que remete hoje aos poderes estabelecidos de certos líderes com acesso à certos botões. Mas também é entretenimento e vai na esteira contrária do bom visitante, uma visão mais alinhada ao discurso de Stephen Hawking sobre os perigos do nosso contato com raças alienígenas. Abrindo leques para continuações e um novo universo de super-terror, o mais interessante do filme não é a produção em si, mas as possibilidades agora abertas.
Elenco
Elizabeth Banks
David Denman
Jackson A. Dunn
Matt Jones
Meredith Hagner
Direção
David Yarovesky
Roteiro
Mark Gunn
Brian Gunn
Fotografia
Michael Dallatorre
Trilha Sonora
Timothy Williams
Montagem
Andrew S. Eisen
País
Estados Unidos
Distribuição
Sony Pictures
Duração
90 minutos
Data de estreia
23/mai/2019
Cena Extra
Brandon veio dos céus como um milagre. Mas as coisas mudam quando o jovem completa 12 anos e seus pais adotivos agora não sabem mais quem é aquela pessoa que chamavam de filho e que agora pode levantar um carro apenas com as mãos.
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