Brooklyn | Crítica | Brooklyn, 2015, Irlanda-Reino Unido-Canadá
Longe de ser uma joia de filme ou maravilhoso, Brooklyn encontrará lugar nos que preferem um romance como tantos outros.
Com Saoirse Ronan, Emory Cohen, Domhnall Gleeson, Jim Broadbent e Julie Walters. Roteirizado por Nick Hornby, baseado no romance de Colm Tóibín. Dirigido por John Crowley.
O Oscar não é parâmetro para nada e já discutimos isso tantas vezes. Na lista dos indicados sempre aparece um filme que nos perguntamos o porquê de estar lá. Podem ser boas surpresas – como foi o ótimo Selma – ou uma a coleção de clichês Brooklyn. Há bons momentos na produção britânica, que vão desde quesitos técnicos e a atuação da protagonista. Porém não é o suficiente para arrebatar os corações de quem já viu histórias de amor, ainda que dentro desse nicho ache defensores. No fim, é uma ovação tão grande aos EUA que parece ter sido feito apenas para agradar aquela audiência.
Há uma discussão importante no filme envolvendo os imigrantes que, em parte, ajudaram a construir a América – poderia usar aspas aqui, pois um dos defeitos do filme é que Eilis (Ronan) trata todo o país pelo nome do continente, o que por si só é outro clichê. Vemos ainda no primeiro ato a protagonista fazendo caridade para imigrantes irlandeses que foram trabalhar nos EUA e vivem à margem da sociedade. O Padre Flood (Broadbent) aponta uma questão social, onde esses homens não teriam mais oportunidades nem no seu país de origem, nem no novo mundo. Mas o discurso não é desenvolvido em prol do romance de Eilis e Tony (Cohen).
Outro quesito importante, e que se perde no desenvolvimento da história, é o culto à aparência. Mal Eilis deixou sua casa ela já aprende no navio por meio de uma conterrânea que ela está muito sem graça – quer dizer, sem maquiagem. Seus primeiros dias nos EUA todos estão dizendo que ela deve cuidar da aparência e que com isso tudo vai dar certo. São lições um tanto torpes e que nas mãos de um roteirista mais talentoso teria mais corpo para se desenvolver. Ainda que as discussões envolvendo esse assunto que acontecem à mesa da pensão sejam divertidas, Eilis se deixa envolver por esse estilo de vida aos poucos e sem se questionar.
Chega a ser um contrassenso, pois o roteirista começa a construir uma mulher tão à frente do seu tempo e tão independente, usando a sua gana por aprender – como vemos na cena da sala de aula que ela é a única mulher, ou quando diz a Tony que não precisaria se casar – que é estranho que nos outros momentos ela se porte como uma personagem pasteurizada daquelas propagandas típicas dos anos 1950. Até a paleta de cores da fotografia muda para transformar Eilis em uma pessoa que em outros momentos não era.
E, por algum motivo bem fraco, Hornby – provavelmente por causa do original de Tóibín, mas que não serve de desculpa – retrata exageradamente os italianos. Primeiro com o nome do namorado de Eilis. Tony só seria mais clichê se tivesse o sobrenome Soprano. Além de ser um encanador – ainda bem que não o fizeram pizzaiolo – o primeiro encontro de Eilis com a família do namorado é regado à muito espaguete comido com a colher, personagens falando alto e, não poderia deixar de ser, gesticulando o clássico ma che com as mãos. Para completar, só faltou um mamma mia.
É difícil deixar de prestar atenção nesses clichês enquanto eles são jogados para audiência um atrás do outro. Começa ainda no primeiro ato quando Eilis passa pela imigração e Crowley usa um slow motion e o diretor de fotografia Yves Bélanger banha a protagonista com luz intensa vinda do novo mundo junto da música suave de Michael Brook. Essa cena é o resumo desses problemas, e fica o desafio de pensar se ela poderia ser mais clichê. E eles continuam quando a mãe de Eilis (Brennan) começa a fazer chantagem emocional com a filha, ou ainda com amigas tentando empurrar um namoro para a jovem quando volta para casa.
Visualmente, o filme agrada os olhos. Mas é uma daquelas sensações que não passam dessa camada exterior, e fica fácil entender os problemas da produção. Claro que Brooklyn traz bons momentos – a primeira chefe ranheta de Eilis, a tradicional música Casadh an Tsúgáin cantada em gaélico e que traz lágrimas aos olhos da jovem – porém eles não são o suficiente para marcar. Mas é verdade que os responsáveis souberam como e para quem direcionar o filme. Para quem gosta de romances, vai se deixar levar para a história leve e com poucos conflitos. E os estadunidenses com certeza apreciarão o fato de que alguém ainda faz filmes mostrando como é bom ser imigrante – pelo menos, o tipo certo de imigrante.
Sinopse oficial
“Brooklin é a história de Eilis, uma jovem mulher que se muda de uma pequena cidade da Irlanda para o Brooklin, em Nova York, lugar no qual ela se esforça para construir uma nova vida, encontrar trabalho e seu primeiro amor no processo. Quando uma tragédia familiar a leva de volta à Irlanda, ela vive um dilema terrível – uma escolha de partir o coração entre dois homens e dois países.”
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