Selma: Uma Luta Pela Igualdade | Crítica | Selma, 2014, EUA

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Selma: Uma Luta Pela Igualdadde mostra um Martin Luther King humano, numa cruzada para sarar um ferida na história americana que ainda não cicatrizou.

Selma, 2014

Com David Oyelowo, Tom Wilkinson, Carmen Ejogo, Andre Holland, Tessa Thompson, Giovanni Ribisi, Lorraine Toussaint, Stephan James, Wendell Pierce, Common, Alessandro Nivola, Keith Stanfield, Cuba Gooding Jr., Dylan Baker e Tim Roth. Roteirizado por Ava DuVernay e Paul Webb. Dirigido por Ava DuVernay.

10/10 - "tem um Tigre no cinema"É absurdo lembrar que os casos descritos em Selma: Uma Luta Pela Igualdade estão apenas meio século atrás de nós. Ao contar uma parte horrível da história americana, a diretora Ava DuVernay faz uma reflexão necessária de um povo que, por muito tempo, colocou de lado e marginalizou grande parte de sua população, mesmo anos depois do fim da escravidão. Esse é um tema histórico, mas que nada tem de antigo e que faz um triste paralelo com outros eventos hoje, e mancha a face da nação mais poderosa do mundo.

Sinopse oficial

Selma: Uma Luta Pela Igualdade é a história da luta histórica Dr Martin Luther King Jr (Oyelowo) para garantir o direito de voto para os afro-americanos – uma campanha perigosa e assustadora, que culminou com a marcha épica de Selma a Montgomery que galvanizou a opinião pública norte-americana e convenceu o presidente Johnson (Wilkinson) a introduzir a Lei dos Direitos de Voto em 1965.

Nós vivemos um suposto estado de paz: as guerras estão longe, os povos se massacram além do chamado mundo ocidental e livre. Apresentando uma onda de paralelos, a diretora DuVernay reflete esse ilusório sentimento no prêmio Nobel da Paz que o Dr King recebeu em 1964. E com muita competência, ela nos tira desse estado de serenidade com uma explosão. Nós, sentados na cadeira estávamos ouvindo palmas num evento sobre paz, mas temos que ser puxados para o mundo real com a explosão criminosa e a morte de quatro meninas negras que estavam na Igreja Batista da Rua 16, em Birmingham, Alabama. Desde os primeiros minutos, DuVernay nos lembra que há motivos para chorar.

Assim como Annie Lee Cooper (Winfrey), que teve que enfrentar um longo corredor para poder se registrar como eleitora, o caminho do Dr King e seus companheiros contra a política do Presidente Johnson foi longa e cheia de intimidação. Dos mais simples aos mais poderosos, havia ataques de todos os lados. Alguns físicos, porém a maioria acontecia debaixo dos panos. O então diretor do FBI Edgar Hoover (Baker) chama King de degenerado ao mesmo tempo em que sugere a Johnson que a agência faça ataques psicológicos à esposa de King, Coretta (Ejogo). Então, você deve se perguntar quem é o degenerado na narrativa.

DuVernay sabe que um homem só não é capaz de nada sozinho e, apesar de destacar a eloquência do pastor, ela consegue no tempo de tela mostrar a força dos outros personagens. Por exemplo, Coretta não é relegada simplesmente ao papel de esposa, mulher e mãe tradicional. Mas ela tem que lidar com outros grandes golpes, como ouvir ligações no meio da noite de estranhos dizendo como vão matar seus filhos. E a entrega de Ejogo no papel dá brilho à produção.

E há escudeiros, como o Reverendo James Bevel (Common), conselheiros, e gente de ação para dar suporte ao Dr King. E, mesmo mostrando certa miríade de personagens, a diretora não se perde na construção de nenhum deles, dando tempo para nos importarmos, como Cager Lee (Sanders), um simpático senhor que vê o neto Jimmie Lee Jackson (Stanfield) ser assassinado pela força policial de Selma. É não menos que tocante a cena onde Cager se encontra no necrotério com King. O velho senhor vai se relembrando as histórias que teve com o neto e DuVernay não mostra o corpo morto do jovem até depois de seu avô dizer “agora ele se foi”.

É necessário também dar crédito à diretora – e condenar a academia por não tê-la indicado – pois ela é uma mulher tão nova e já bem segura do que faz com a câmera em mãos. Ela consegue mostrar a passagem de tempo e situar historicamente os eventos com os sons e tipografia das máquinas de escrever do FBI, e há planos particularmente belos, sendo bom parar e apreciá-los. Destacam-se os closes que ela faz na noite da prisão de King e vários outros em Selma, onde a fotografia de Bradford Young assume uma palidez com a luz do sol entrando apenas em frestas. E no segundo encontro entre King e Johnson, DuVernay habilmente coloca a câmera apontando debaixo para cima, num ângulo que acentua a presença de uma pintura do primeiro presidente dos Estados Unidos. Lá está George Washington, que ajudou a escrever a Constituição Americana, com olhos pesados no presidente que não quer segui-la.

Não podemos esquecer que o filme também é uma aula de política. O presidente Johnson só muda de ideia sobre o direito de votos depois de muita pressão popular. Antes, ele agia com conivência, mas ao ver que a situação ia colocá-lo no mesmo lugar do governador George Wallace (Roth), ele resolveu tomar uma fachada de pró-negros, mesmo que nunca a teve antes. Os dois atores, num confronto na casa branca, ganham destaques dignos de nota.

Selma | Pôster brasileiro

Para complementar, DuVernay não cai na armadilha de tornar seu protagonista em alguém perfeito, apresentando suas falhas para não criar algum tipo de lenda – detalhes como King estar constantemente longe da família e ser infiel à esposa são usados para dar esse efeito. Por muitos motivos além desse Selma: Uma Luta Pela Igualdade não é um filme panfletário, mas necessário. Como diz o Dr King, são as pessoas que não são boas que nos preocupam. E visto as revoltas como as manifestações que aconteceram em 2014 em Fergusson, que parecem tanto com a cena na ponte onde os negros liderados por King foram atacados covardemente, a diretora aponta que essa é uma ferida que não cicatrizou. E quem pensa que os problemas acabaram está muito enganado, infelizmente.

Veja o trailer de Selma: Uma Luta Pela Igualdade

Selma: Uma Luta Pela Igualdade concorre ao Oscar 2015 nas categorias Filme (Dede Gardner, Jeremy Kleiner, Christian Colson e Oprah Winfrey) e Canção Original (Glory, de John Legend/Common).

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".