Zumbilândia: Atire Duas Vezes | Crítica | Zombieland: Double Tap, 2019
Mais engraçado que o original e com um roteiro ligeiramente inferior, Zumbilândia: Atire Duas Vezes é um ótimo exemplo como às vezes é melhor esperar.
Em tempos onde tudo tem que ser uma franquia, o espaço de uma década fez bem e melhora um pouco no quesito comédia que temos na sequência Zumbilândia: Atire Duas Vezes. É compreensível capitalizar em cima de sucessos, porque qualquer estúdio quer fazer isso, mas podemos, pelo menos às vezes, curtir um respiro, não pedir continuações só pela empolgação, e apreciar cada filme dentro da sua existência. E sem existir apenas em função do original, a continuação de Zumbilândia tem um roteiro menos interessante, mas com melhores cenas de ação, e atuações fantásticas daqueles quatro cavaleiros do anti-apocalipse – que não acham e nem querem ser heróis.
Falando em heróis, e tendo o diretor de Venom (Venom, 2018) que se propunha a ser um filme de anti-herói, na teoria pelo menos, esse parece ser um tempo bem propício para Columbus (Eisenberg), Wichita (Stone), Tallahassee (Harrelson) e Little Rock (Breslin) reaparecerem. Entre a produção de 2009 e essa, fomos varridos pela onda MCU – 22 filmes! – e ver gente mais parecida conosco, ou seja, querendo mais sobreviver do que ser herói, é algo muito bem-vindo. A jornada dessa família disfuncional, que acaba se tornando um road movie, tem um tema tratado em tantos outros filmes desse subgênero: o amadurecimento. O que faz a diferença é como a trama embala esse tema comum.
Inerentemente, há as vantagens de todas as continuações: sem explicações, direto para os tiros. A cena inicial é sintetiza bem a união e a sinergia daqueles quatro, lidando com hordas de zumbis de maneira relativamente fácil, uma sincronia entre os personagens que começa a ser quebrada pelas pressões de Tallahassee em Little Rock. Sendo pai de um filho perdido no começo do apocalipse zumbi, o veterano jogou na jovem um peso e que foi respondido como qualquer adolescente faria. Isso faz uma pequena revolução no núcleo, levando Witicha a ir embora com a irmã e deixando Columbus e seu parceiro original no para trás.
Essa nova-velha configuração abre novas possibilidades, como a vontade de Tallahasse voltar à estrada sozinho, fazendo uma ligação maluca sobre ter sangue de nativos americanos apesar de seus olhos azuis e cabelo claro, e a introdução de novos personagens. E são neles que a trama tem o maior deslize. Primeiro com Madison (Deutch) que, apesar de roubar a cena em alguns momentos, é tão estereotipada como a loira burra que é difícil de acreditar que ela tenha sobrevivido dez anos nesse cenário, achando inclusive tempo para se maquiar – e outra coisa que ninguém explica é como todo mundo nesse mundo acha tempo para estar de banho tomado.
O lugar-comum é repetido com Berkeley (Jogia), um hippie paz e amor, que usa drogas para se divertir e que é um macho escroto e só quer se dar bem com Little Rock – mas tempos que dar o braço a torcer e dizer que essa última característica é a mais crível. Junta-se aquela gordura com as presenças de outra dupla de sobreviventes, Albuquerque (Wilson) e Flagstaff (Middleditch), e acabamos com um filme que, apesar de relativamente curto, parece se estender principalmente por causa desses dois últimos. E havia uma oportunidade imensa de trabalhar a personalidade de Madison, era só mostrar que ela fingia ser uma personagem de baixo intelecto, um plot-twist melhor do que o reservado para ela.
Pelo menos a nova personagem, Reno (Dawson), nos salva desses clichês. Ainda que ela também caia um tanto naquilo que se acostumou chamar de personagem feminina forte, e quem com certeza não está ali só como participação especial, ela se torna querida pela ação, por ser decidida e não recatada e do lar – aliás, uma característica necessária nesse mundo caído. E sua presença reforça como a dupla Albuquerque/Flagstaff é desnecessária na trama, outra oportunidade perdida pele diretor, que resolveria o arco da personagem incluindo até o carro monstro que Tallahasse não consegue dirigir – e aqui há uma piada sobre masculinidade e tamanho de carros que não passa despercebida.
Ainda que alguns momentos a história lembrem Guerra Mundial Z (World War Z, 2013, Marc Forster) e Extermínio (28 Days Later, 2002, Danny Boyle), Fleischer está melhor na cadeira de diretor. Provavelmente por se sentir um pouco como seus personagens e voltar para casa, uma vontade partilhada por Columbus e os outros, mesmo sem admitir. Ele consegue melhores cenas de ação, não economiza no sangue – enquanto não exagera na quantidade que um ser humano tem –, nem na violência que é esperada de um filme de zumbis, e brinca um tanto atrasado com a técnica do plano-sequência duas vezes, cenas que servem para reforçar como o time é coeso.
Entre jeitos de matar zumbis criativos, o que sana nossa vontade adormecida de violência, e elementos banais – até kumbaya tocam na comunidade que Litte Rock se esconde – Zumbilândia: Atire Duas Vezes é a prova que nem tudo precisa se pensar como franquia. Apesar de não estarmos falando de um material original, obviamente, o quarteto teve um bom tempo para amadurecer e isso se reflete até mesmo nas questões técnicas, ainda que o roteiro tenha problemas visíveis, mas não o suficiente para acabar com a diversão esperada. Diferente de tantas outras produções, não será tão estranho esperar outros dez anos para uma continuação. Imaginem as possibilidades.
Elenco
Woody Harrelson
Jesse Eisenberg
Abigail Breslin
Emma Stone
Rosario Dawson
Zoey Deutch
Avan Jogia
Luke Wilson
Direção
Ruben Fleischer (Venom)
Roteiro
Rhett Reese
Paul Wernick
Dave Callaham
Fotografia
Chung Chung-hoon
Trilha Sonora
David Sardy
Montagem
Dirk Westervelt
País
Estados Unidos
Distribuição
Sony Pictures
Duração
99 minutos
Data de estreia
24/out/2019
Cena Extra
Dez anos após os eventos que acabaram com o mundo como conhecemos, nossos quatro não-heróis continuam fazendo o que sabem melhor: sobreviver. Com novos jogadores e um novo zumbi aparecendo, é hora de descobrir quanto são unidos.
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