Truque de Mestre | Crítica | Now You See Me, 2013, EUA
Truque de Mestre traz personagens sem carisma e um final que tenta ser inesperado, mas é apenas forçado.
Com Jesse Eisenberg, Mark Ruffalo, Woody Harrelson, Mélanie Laurent, Isla Fisher, Dave Franco, Michael Caine e Morgan Freeman. Argumento de Boaz Yakin e Edward Ricourt. Roterizado por Ed Solomon, Boaz Yakin e Edward Ricourt. Dirigido por Louis Leterrier (O Incrível Hulk).
Olhando de longe, “Truque de Mestre” engana. Esse parece ser o maior mérito da nova produção do diretor Louis Leterrier, ao tentar lubridiar o espectador com um roteiro que só funciona nem por suas inúmeras conveniências. A história falha também ao apresentar personagens sem carisma, e um final que tenta surpreender e ser inesperado, mas que é forçado demais, prejudicando resultado.
Quatro mágicos – Daniel Atlas (Eisenberg), Henley Reeves (Fisher), Jack Wilder (Franco), e Merritt McKinney (Harrelson) – são escolhidos por uma figura misteriosa, que aparece no começo escondida por um capuz azul, por causa de suas qualidades diferentes no ramo para fazer parte de um seleto grupo chamado “O Olho”. Para serem aprovados, eles tem que passar em uma série de testes usando suas habilidades, e a tecnologia cedida por esse benfeitor. O primeiro é o roubo de milhões de euros de um banco francês, aparentemente por meio de mágica pura, já que a apresentação do grupo aconteceu em Las Vegas. O roubo chama a atenção do FBI, e o relutante e obtuso Dylan Rhodes (Ruffalo) é designado para o caso, junto com a agente da Interpol Alma Dray (Mélanie Laurent). Com a ajuda de Thaddeus Bradley (Freeman), eles correm contra o tempo para desmascarar os feitos do grupo e tentar antecipar o próximo e ousado golpe.
O filme todo se baseia na questão do ponto de vista: vendo de muito perto, perdemos detalhes e as justificativas dos fatos. Dentro dessa temática, Leterrier constrói bem o primeiro arco que é o primeiro grande ato dos “Quatro Cavaleiros do Apocalipse”. Então, para confundir e distrair, a câmera não fica um momento parada, fazendo longos travellings verticais e horizontais, e usando ângulos inclinados. O visual dos personagens contribui um pouco nas suas personalidades. Agora ricos, os cavaleiros se apresentam com luxo, tudo por causa do patrocinador oficial Arthur Tressler (Caine). Percebam que o agente Rhodes é o oposto, que parece sempre cansado, irritado e seu visual de barba por fazer o deixa mais cabeça dura ainda. Com sua visão estreita, ele nega com tanta a simples tentativa ver as coisas de outra perspectiva – o que já mostra que tem alguma coisa estranha. Diferente dele, a agente Dray é mais aberta e apreciadora de atos mágicos. Essa diferença de personalidade entre os dois, e o fato dos mágicos estarem sempre à frente da agência gera desconfiança muito básica. É muito óbvio quem não é o informante, e seria muita desonestidade dos responsáveis pelo roteiro introduzirem um personagem novo à trama na conclusão. Por outro lado, é desonesto a reação que a agente da Interpol tem no começo do quarto arco, que é o show final dos mágicos.
Por tratar de um emaranhado de personagens, não existe tempo para criar algum tipo de empatia com eles. Não ficam claras quais são suas personalidades sem que o mentalista McKinney tenha que as explicar para o público – quase como um narração off – nem mesmo é possível entender a aversão que Rhodes tem ao caso. O diretor e os três roteiristas tentam impor que a história toda é fluida, quando não é. São tantas coincidências e conveniências que quando chega o final a sensação que você foi enganado é legítima, mas só porque em nenhum momento existe uma pista clara, a não ser o simples fato de que não existe ninguém mais para apontar o dedo para a dedução de quem é o benfeitor misterioso.
“Truque de Mestre” tem bons momentos. As cenas de perseguição e de efeitos especiais funcionam muito bem, e a luta entre Rhodes e Jack Wilder, misturando golpes e escapadas de ilusionistas, são o ponto alto do filme. Mas essa é outra produção que mostra como Mark Ruffalo é inconstante. Ele parece ter um tipo de cara só, diferente de sua atuação em “Os Vingadores” (The Avengers, 2012). A sua expressão única parece refletir o descontentamento com o filme. Os outros atores também estão perdidos – ou, melhor dizendo, mal dirigidos – e nem a presença de Caine e Freeman salvam a produção. E se o diretor e os roteiristas conseguiram, pelo menos em parte, enganar a audiência nos primeiros arcos do filme, a construção do final é pobre e deixa de explicar muita coisa – talvez pensando numa continuação. Não que tudo precise ser explicado, mas essa foi a proposta apresentada, nas cenas entre Rhodes e Bradley, e na última e desnecessário desfecho que acontece na França, apenas para atender um desejo romântico de dois personagens. Oras, se é pra contar tudo, que façam. Diferente de outros diretores, Leterrier mostra falta de versatilidade. Melhor que ele volte para seu terreno de segurança, que é a ação, ou tentar o drama daqui alguns anos. Mas visto que seus últimos trabalhos não foram grandes coisas, não sei o que esperar. Só se as coisas mudarem com passe de mágica.
[EDIT/SPOILERS] “Truque de Mestre” tem uma cena pós-créditos que pode ser vista abaixo [/EDIT/SPOILERS]
[críticas, comentários e voadoras no baço]
• email: [email protected]
• twitter: @tigrenocinema
• fan page facebook: http://www.facebook.com/umtigrenocinema
• grupo no facebook: https://www.facebook.com/groups/umtigrenocinema/
• Google Plus: https://www.google.com/+Umtigrenocinemacom
• Instagram: http://instagram/umtigrenocinema