Slender Man: Pesadelo Sem Rosto | Crítica | Slender Man, 2018
Além de não assustar, Slender Man: Pesadelo Sem Rosto falha em criar uma atmosfera interessante dessa lenda da internet.
Se existe um grande terror hoje no cinema não são filmes como Slender Man: Pesadelo Sem Rosto, mas o que esse tipo de produção tem feito de mal ao gênero, já há muito tempo. Com a intenção de chamar jovens audiências para seu filme, o diretor Sylvain White se perde entre ecos de outras produções, querendo que essa seja uma atualização para uma plateia de adolescentes e tentativas de sustos frustradas por não saber como criar uma atmosfera que faça que nos importemos com as situações. Apesar de querer criar carisma com essas pessoas com uma história que parte do público-alvo deve se identificar, as soluções da trama vêm de maneira muito rasa, sem ter a chance de criarmos uma conexão com o cenário e a própria lenda.
Com as primeiras cenas servindo de lugar-comum para seu público-alvo – escola, jogos, conversas entre amigos sobre trending topics – White quer passar uma imagem moderna e descolada para convidar os jovens a embarcarem nessa história de terror. Ele inclusive conta com a força das redes sociais e não se estende demais na lenda do Slender Man que roda a internet desde 2009 nas creepypastas – mas, para não deixar ninguém perdido, uma curta recapitulação da lenda é apresentada, tudo em nome da dinâmica. O diretor sabe quem é a sua audiência e, por meio desses eventos acelerados, espera que ninguém tenha vontade de checar as notificações do celular.
Para os mais velhos, White deixa transparecer suas influências. A mais óbvia vem de O Chamado (The Ring, 2002, Gore Verbinski) – e do original japonês também –, inclusive em questões estéticas, cortes rápidos, deformidades que os afetados começam a ver nas outras pessoas e como o vídeo de invocação do ser influenciado por Lovecraft se espalha como um vírus. Podemos até dizer que uma das influências de White é fazer um Chamado para essa geração chamar de seu, tamanha as semelhanças que ele nos apresenta. Mas para não ficar somente nessa esteira da homenagem, o diretor insere um elemento que era bem menos importante na década passada: a maneira como a informação se espalha por meio de fóruns e compartilhamento de vídeos com algumas passadas de dedos no smartphone.
É uma pena que essa verossimilhança não se traduza em nos importarmos com a trama. É verdade que vemos em Hallie (Tells), Wren (King), Chloe (Sinclair) e Katie (Basso) uma união sincera, além do número de personagens inicialmente lembra algo dos Mosqueteiros de Dumas, com direito a ensaiar o lema “um por todos e todos por um” determinado momento da trama, quando a maldição leva uma delas. Mas acontece uma falha em criar a atmosfera para consequentemente criar tensão, pois é tudo muito rápido, seja os acontecimentos ou na crença que algo sobrenatural está acontecendo naquela pequena cidade não-identificada – o que é divertido, pois essas lendas de internet sempre têm lacunas nas informações.
Por outro lado, White se sai bem quando quer que aquela cidade seja estranha. Depois do vídeo e do desaparecimento de uma das amigas, o diretor investe em plongés, zooms que vem detrás das árvores – como se as personagens fossem observadas – e uma fotografia que vai ficando mais escura e opressiva, principalmente quando notamos que os momentos de luz do sol vão minguando e mesmo as cenas que ocorrem durante o dia as personagens são colocadas nas sombras. E podemos estender essa mudança do ambiente na própria Hallie, que está numa transição entre a infância e a fase adulta, representada pela preocupação dela com a irmã mais nova.
E aí que nos incomodamos com a falta de equilíbrio no restante do filme. Se por um lado nos perguntamos porque a primeira vítima foi levada – ela era mais suscetível por ser órfã de mãe e ter um pai alcoólatra? – o que é um bom estudo de caso, o roteiro tem previsibilidades e conveniências demais, além de ter sustos que não assustam. Nem mesmo o clichê do scary jump consegue nos fazer mexer na cadeira de tão óbvios que são. E existem os momentos tolos, como acreditarmos que todo mundo sabe a senha de todos, sendo que seria mais verdadeiro se esses computadores não tivessem senha, um elemento que serve para facilitar a vida das personagens.
Mas percebemos aqui e ali momentos que o diretor sabe trabalhar nesse universo de jovens. É compreensível quando Hallie se revolta com as ideias de Wren querendo voltar para um tempo mais simples de festas e garotos e não estar discutindo com a amiga no meio de uma rua escura sobre uma entidade que está vindo para te levar para um destino desconhecido. Assim como quando a jovem pede para que o amigo não assista ao vídeo e ele, como qualquer adolescente dono do próprio nariz, vai lá e faz exatamente o contrário. Ou seja, são elementos que mostram um cuidado em se fazer verdadeiro, mas que no restante não se sustenta.
Provavelmente, a questão mais incômoda em Slender Man: Pesadelo sem Rosto, além da falta de terror, é que a produção não passeia no campo da dúvida. É tudo entregue de bandeja, sem que o diretor coloque o mínimo de dúvida no espectador que o que estamos vendo poderia ser mais obra da influência negativa de uma brincadeira sem graça do que algo sobrenatural. Esse tipo de interação pode ser uma porta de entrada para produções mais profundas, mas é extremamente falha dentro do próprio universo, onde o terror deveria vir mais das ideias e metáforas do que por trilha sonora e efeitos especiais.
Elenco
Joey King
Julia Goldani Telles
Jaz Sinclair
Annalise Basso
Javier Botet
Direção
Sylvain White
Roteiro
David Birke
Baseado em
Slender Man (Eric Knudsen)
Fotografia
Luca Del Puppo
Trilha Sonora
Brandon Campbell
Ramin Djawadi
Montagem
Jake York
País
Estados Unidos
Distribuição
Sony Pictures
Duração
93 minutos
Numa pequena cidade dos EUA, um grupo de amigas faz um ritual de invocação do Slender Man, pensando se tratar de uma brincadeira inocente. Quando uma delas desaparece misteriosamente, as outras começam a se perguntar se a lenda do personagem é real.
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