Podres de Ricos | Crítica | Crazy Rich Asians, 2018, EUA
Com uma simplicidade típica dos filmes de romance, Podres de Ricos é uma divertida e leve opção nesses tempos de discursos polarizados.
Nesses tempos que vivemos, com polarizações políticas, discursos de ódio e até brigas familiares, ver uma produção simples e divertida como Podres de Ricos parece um escape necessário da realidade, mesmo que o conceito de realidade dos personagens esteja longe de 99% população mundial. Porém, é inegável a importância do primeiro plano: com um elenco fantástico e representativo – boa sorte em achar um não-oriental –, a história é uma das mais simples, diretas e antigas da humanidade. Mesmo que repetida, esse parece ser o tempo certo para esquecermos as diferenças e aparências e lembrar que, no fim das contas, é aquilo que mais importa que vale a pena e continua sendo essencial: o amor.
A parte mais importante do filme se concentra na introdução, uma parte rápida que serve de alegoria para o resto do filme, uma lição que Eleanor (Yeoh) passou para seus filhos, mas que ela mesma penará para passar: não julgue pelas aparências. Por isso Nick (Golding) prefere não contar todos os detalhes da sua vida pessoal e da sua família para a namorada Rachel (Wu), esperando que, de maneira um tão inocente nesse mundo, que ela o ame por quem ele é por dentro. Aliás, de tão inocente, a jovem professora nem se dá ao trabalho de pesquisar sobre o namorado, um dos solteiros mais cobiçados do mundo. É quase um mundo de fantasia, se pensarmos no mundo atual e na velocidade da informação.
Essa inocência de Rachel dá à trama ares de contos de fada como Cinderela ou Rapunzel, mas são apenas toques, detalhes que servem de base para identificarmos alguns signos e desafios que Rachel irá enfrentar. E para afastar dela essa aura princesa que precisa ser resgatada, a jovem é colocada desde o começo como peça central, uma mulher inteligente e que merece estar na posição que ocupa, apesar da sua idade. Mas ao entrar num novo mundo, com gente podre de rica, como diz o título, não é só uma mudança de ares, mas um desafio digno de enfrentar algum grande mestre no xadrez – esse mundo é tão diferente que é como se regras novas se aplicassem à Rachel.
Apesar de termos visto esse tipo de conflito outras vezes – ao invés de problemas de gente branca rica, é de gente asiática rica – é fácil torcer pela felicidade de Rachel. Afinal, naquele lugar onde muitos podem fazer muito simplesmente porque podem, ela é como a maioria de nós, lutando dia a dia uma nova luta e acaba sendo outra alegoria, pois a vida de Rachel não fica mais fácil porque agora namora um garoto de ouro de uma das famílias mais ricas da Ásia. É um tabuleiro diferente do que a maioria de nós joga e nós, enquanto plateia, entramos nos sapatos de Rachel. E para nos deixar tão perdidos quanto ela, nós sabemos apenas o que ela sabe.
Recebemos informações aos poucos, então ficamos contentes com ela e também bravos por ela – na verdade, ficamos irritados quando percebemos que Nicky não preparou Rachel para nenhum aspecto da vida dele, algo que poderia facilitar a da namorada quando atravessa o mundo para conhecer a família Young. E temos outro tema importante nessa jornada que chamamos de relacionamento, onde a sinceridade é importante. Essa ligação é amarrada com a plateia que não esquece de onde Rachel vem porque, de uma maneira ou outra, é de onde viemos, mesmo que nossos passados não sejam os mesmos.
O que há de estranho no filme, e até questionável, é que tamanha representatividade não se reflita na língua. É verdade que um filme falado com mais cantonês do que já tem seria um perigo e que o fato de se passar em Singapura justifique tanto o uso do inglês, já que aquela é uma cidade cosmopolita. Então, a língua-mãe de Nicky e Rachel – que cresceu nos EUA, mas é chinesa – é usada com os mais velhos, e o inglês para a geração atual. É como se a produção desse um grito de “somos modernos”, algo que percebemos também pelo ótimo ritmo do filme, uma agitação que não deixa o dinamismo de lado durante as quase duas horas de projeção.
Há tramas paralelas que dão uma ligeira esticada no filme, mas que tem seu propósito. A história de Astrid (Chan) também fala da questão da família e como o dinheiro não resolve tudo, já a de Peik Lin (Awkwafina) está lá para servir de apoio para as pancadas que sabemos que Rachel irá levar – e, portanto, como é importante criar laços e ter um ombro amigo para momentos assim. E essa amiga de Rachel é o ponto de vista diferente, ainda mais exagerado e cômico, mas também serve para reforçar a nossa visão de mundo e a de que dinheiro pode comprar uma casa enorme, mas não sofisticação, o que rende boas piadas na trama.
Enquanto a história lembra outras produções como A Sogra (Monster-in-Law, 2005, Robert Luketic), Podres de Ricos foge de alguns clichês – o principal é que o rapaz não faz algo idiota para perder a garota – e repete outros, enquanto lembra como o amor é importante em tempos complicados como o nosso. Com tramas paralelas que tem alguma serventia e não estando lá apenas para esticar a produção para se encaixar como longa-metragem, a trama simples pode não ser marcante, mas não faz mal nenhum ao lembrar que ainda existe algo bom para lutar, mesmo que coisas pesadas como tradição e família tentem impedir.
Podres de Ricos faz parte da programação da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Elenco
Constance Wu
Henry Golding
Gemma Chan
Lisa Lu
Awkwafina
Ken Jeong
Michelle Yeoh
Direção
Jon M. Chu
Roteiro
Peter Chiarelli
Adele Lim
Baseado em
Crazy Rich Asians (Kevin Kwan)
Fotografia
Vanja Cernjul
Trilha Sonora
Brian Tyler
Montagem
Myron Kerstein
País
Estados Unidos
Distribuição
Warner Bros. Pictures
Duração
121 minutos
Data de estreia
25/out/2018
Cena Extra
Rachel está namorando Nick, sem saber que a família dele é uma das mais ricas do mundo. Agora é hora de conhecer todos de uma vez e ver como ela se encaixa nesse novo mundo de gente super rica. E se será aceita por eles.
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