Halloween | Crítica | Halloween, 2018
Ao se soltar das amarras impostas por inúmeras sequências, a versão de 2018 de Halloween é tanto um tributo ao gênero quanto um resgate dele.
Sendo o clássico que é para o gênero slasher, o novo Halloween fez certo ao se concentrar apenas na obra de 1978, tomando assim um caminho com poucas amarras e sem a necessidade de se encaixar numa teia que envolve outros oitos filmes (além das tentativas de Rob Zombie). Essa liberdade é a melhor coisa que poderia acontecer para uma franquia que foi longe demais, como costuma acontecer com tantos filmes de terror, e é um tributo a quem fez isso acontecer tantos anos atrás, mostrando que ainda é possível contar boas histórias no mais maltratado dos gêneros cinematográficos.
Quando nos reencontramos com Laurie Strode (Curtis) depois de 40 anos, podemos nos perguntar como ela não conseguiu continuar com uma vida normal, e que Michael Myers (Castle/Courtney/Moran) deveria ser apenas um fantasma. Mas fazer isso seria julgar previamente alguém sem levar em conta cada personalidade. O que acontece é que por causa desse estresse pós-traumático, Laurie nunca conseguiu mais deixar os pés no chão ou constituir tradicionalmente sua família. Ela se sente eternamente caçada, condenada a viver num inferno que A Forma a deixou, esse ser sem rosto e sem emoções que é como um câncer – como vemos na sua primeira aparição no filme, esse parece não reagir por si só, mas causa impacto nos pacientes à sua volta.
O que Karen (Greer), filha de Laurie, não parece perceber é que esse câncer também infectou sua mãe, o que deixa a relação das duas num patamar similar do John e Sarah Connor em O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (Terminator 2: Judgement Day, 1991, James Cameron). Mesmo com todos os sinais, é só quando o mal aparece que tudo faz sentido. Nesses quarenta anos de preparação, que é praticamente uma vida, Laurie se tornou alguém que confia pouco e se afasta de quem tenta se aproximar. Green resume bem isso quando os podcasters tentam entrevista-la e ela se coloca afastada dois e de braços cruzados, num eterno estado de tensão. Nem mesmo com a neta Allyson (Matichak) ela consegue essa conexão, pois vemos que ela nem tenta abraça-la no primeiro encontro delas no filme.
Para quem resolveu revisitar alguns dos filmes recentemente, podemos encontrar rimas visuais e homenagens que estão lá para homenagear os fãs, seja brincando com as continuações e as tratando como lendas – ou seja, nada de Laurie e Michael serem irmãos como Halloween II (1981, Rick Rosenthal) mostra – Allyson ocupando a mesma posição na cadeira da sala de aula quando Laurie vê Michael pela primeira vez, a queda do fim do primeiro filme, mas com papéis invertidos, e uma rápida referência a Halloween III: A Noite das Bruxas (Halloween III: Season of the Witch, 1982, Tommy Lee Wallace) com a aparição das máscaras da Silver Shamrock. E é divertido caçar tais referências, mas não são nelas que o filme se sustenta.
Ao contrário, Green é extremamente feliz em criar uma atmosfera que deixa a plateia tensa e sem apelar para clichês do gênero. Em primeiro lugar, o diretor evita ao máximo os famosos scary jumps, preferindo que os sustos aconteçam por meio do uso da luz e da sombra e também pelo silêncio. Decisões estéticas como os poucos cortes na montagem – como a belíssima e incômoda cena em que Michael volta a Haddonfield num plano sequência que representa o foco do personagem – mostram que Green é um diretor versátil e que sabe como levar a audiência junto de seus personagens, incluindo aí quebrar algumas regras clássicas desse tipo de filme, como punir quem faz sexo ou não ter frases feitas no estilo “eu volto já”.
O porém da história fica na facilidade do roteiro que entrega o que vai acontecer no caminho que levará Michael para uma prisão de onde não poderá sair. Se fosse menos explícito, talvez nunca desconfiássemos das intenções do Dr Sartain (Bilginer) para com Michael, ainda que a fixação dele com o assassino seja interessante. Há muito tempo, filósofos e teólogos discutem sobre o que é mal e qual é a essência de substantivo, e essa fixação coloca o psiquiatra numa posição de querer estudar Michael como se o colocasse debaixo de um microscópio. Mas tanto aqui como no filme de Carpenter, A Forma é o caos e sendo uma força da natureza, ela não responde a súplicas nem atende ordens. Assim, sem explicação, ela simplesmente é.
E Michael é esse mal encarnado, funcionando como o fim da vida e da inocência que deixou a cidade natal de Laurie intocada por quatro décadas. É como a primeira morte que presenciamos, apesar de não ser a primeira cronologicamente falando. Quando Michael assassina a sangue frio uma criança, é como se ele tomasse as rédeas da nossa falsa sensação de segurança e a espatifasse contra a tela do cinema. É verdade que aquele jovem por estar armado, poderia ser uma ameaça ao assassino, e é por isso que uma situação que torcemos para não acontecer realmente não acontece – você vai saber de qual cena estou falando quando assistir.
Apesar de notarmos uma violência gráfica maior que o original, com muito sangue e mandíbulas quebradas que serve para agradar uma audiência mais jovem, a agora continuação oficial da saga Halloween é um tanto básica na sua execução, o que não quer dizer que seja uma experiência descartável. Essa abordagem resgata uma época mais simples, onde havia poucas amarras para desenvolver uma história, e aí que Green e os outros encontraram um terreno para germinar uma história com ecos do passado e mirando o futuro. Existe espaço também para outras atualizações, como a união de três gerações contra um personagem que as persegue sem um motivo aparente, o que por si só levanta várias interpretações.
Elenco
Jamie Lee Curtis
Judy Greer
Andi Matichak
Will Patton
Virginia Gardner
Nick Castle
Direção
David Gordon Green
Roteiro
Jeff Fradley
Danny McBride
David Gordon Green
Baseado em
Halloween (John Carpenter, Debra Hill)
Fotografia
Michael Simmonds
Trilha Sonora
John Carpenter
Cody Carpenter
Daniel Davies
Montagem
Tim Alverson
País
Estados Unidos
Distribuição
Universal Pictures
Duração
105 minutos
Data de estreia
25/out/2018
40 anos após aquela fatídica noite de Halloween, Luarie ainda espera pelo retorno do assassino Michael Meyers, porque sabe que ele irá atrás dela – e essa nova noite chegou.
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