Parque do Inferno | Crítica | Hell Fest, 2018
Parque do Inferno se perde ao se preocupar em fazer mais uma homenagem do que contar uma história original, apesar de alguns elementos técnicos ajudarem o filme.
Nesse ano de 2018 tivemos, como costuma ser, uma leva de terrores medianos, e Parque do Inferno não consegue escapar dessa sina. Ao se preocupar mais em fazer homenagens ao gênero slasher, o novo filme de Gregory Plotkin tem pouca personalidade e comete o pior dos pecados de um filme que deveria nos assustar: ou seja, não sentimos medo ou tensão durante o curto filme que, mesmo assim, poderia ser mais curto ainda. O diretor, mais acostumado à função de montador, fez um filme para seu público-alvo de jovens, mas a quantidade enorme de roteiristas e argumentistas se reflete na colcha que é a trama.
A introdução é o destaque do filme, onde o assassino (Conroy) aparece escolhendo vítimas ao acaso. Sem um passado e sem rosto, ele lembra Michael Myers e outros assassinos seriais mascarados – mais a criação de John Carpenter em especial. E por ser um montador experiente, inclusive fazendo esse trabalhando no filme, esse começo brinca com a situação dos scary jumps. Esses sustos fáceis ficam por conta das atrações do parque, enquanto ele se mescla ao cenário e não sabemos exatamente onde ele aparecerá. Felizmente, essa qualidade continua em praticamente o filme todo – com exceção na cena quando Natalie (Forsythe) seca o cabelo.
Plotkin também se sai bem nas cenas que o grupo de amigos passeiam pelas atrações do Parque do Inferno, adicionando um ritmo à película que mantém a história interessante na primeira hora. Como diretor, porém, é de estranhar algumas das decisões. Por exemplo, logo depois da introdução usar o estilo câmera na mão – algo emprestado de Atividade Paranormal: Dimensão Fantasma (Paranormal Activity: Phantom Dimension, 2015) – quando conhecemos Natalie e a amiga Brooke (Edwards) e esquecer essa tentativa de naturalidade depois, e trazê-la de volta. É como se ele esquecesse que usou essa opção dramática antes. Apesar dessa tentativa, existem outros manejos como Brooke falando de modo pausado, mas o efeito desejado não é alcançado, culpa da pouca experiência do elenco.
É verdade que trabalhar com um elenco jovem e praticamente desconhecido dá um ar de realismo, como se aqueles adolescentes pudessem ser seus colegas de classe, ou amigos dos seus filhos. A questão é que o filme nos perde mesmo é na escrita, com seis responsáveis entre argumentistas e roteiristas. É o típico exemplo que funcionaria melhor como curta, e a já citada colcha de retalhos é nítida. Apesar dos bons momentos que valem destaque – o assassino serial no perfeito cenário, no dia perfeito, o Halloween, onde realidade e fantasia se misturam – e a criatividade da atração do parque, os outros são fortes demais para se ignorar.
O fato é que todas as situações só acontecem por questão de conveniências. Com exceção do primeiro assassinato daquela turma, quando o personagem é assassinado por uma questão moral – pois estava praticando um furto – as outras situações facilitam demais para o assassino que, assim como o personagem de Carpenter é “A Forma”, ganha o apelido nos créditos de “O Outro”. É difícil de acreditar que o namorado de Brooke não saísse correndo atrás dela quando a jovem persegue o assassino. Da mesma maneira que é difícil acreditar que estaria no mesmo parque uma seringa de verdade, uma guilhotina semi-funcional e um machado de verdade façam parte do cenário. É como se O Outro evoluísse a cada fase num videogame, cada vez com uma arma melhor.
E é por esse tipo de situação que somos catapultados para fora do filme. Onde antes havia dinamismo, depois percebemos que é tudo uma ilusão para esconder os buracos do roteiro. E, infelizmente, isso vai piorando quando nos aproximamos da conclusão. Porque não há outra razão além da falta de conversa dos roteiristas que escreveram a história como um trabalho de escola – cada um escrevendo uma parte e depois juntando tudo – para decisões como Natalie e Brooke se dirigirem a uma das atrações, e sem dúvida nenhuma que é uma atração por causa da enorme fachada, imaginando que lá seria uma saída do parque. Ou ainda a decisão do assassino não dar conta de uma de suas vítimas para ir atrás da outra que estava ferida.
Resta ficar caçando referências: os personagens com sacos no rosto lembrar a primeira máscara de Jason Vorhees, a ponta do ator Tony Todd (O Candyman) e o cenário final que lembra a Tanz Dance Academy. Há também a já elogiada montagem que o diretor usa para nos enganar pelo menos uma vez. Há também uma ligeira brincadeira com o figurino de Brooke e Natalie – mostrando que a primeira é mais aberta que a segunda – e os sinais que reforçam que O Outro tem um acesso fácil às atrações por ser um funcionário do lugar, mas sem nunca afirmar isso com certeza. São nesses detalhes que a experiência não é totalmente descartada.
Isso tudo não é suficiente para a experiência ao visitar Parque do Inferno seja morna, se muito. Entre personagens e uma trama que não nos interessa, essa é uma produção que tem ao menos um momento de ofensa ao colocar uma mulher barbada como atração do festival, e que foi feita sendo pensada para ser uma franquia, ainda que a história se feche em si mesma. Se fizesse parte de uma antologia curta de histórias reunidas num longa-metragem, teria um resultado mais interessante. Mas isso é o que acontece quando tudo precisa ser esticado além da conta. Um mal que afeta tanto produções hollywoodianas quanto as de menor escala.
Elenco
Amy Forsyth
Reign Edwards
Bex Taylor-Klaus
Tony Todd
Stephen Conroy
Direção
Gregory Plotkin (Atividade Paranormal: Dimensão Fantasma)
Roteiro
Seth M. Sherwood
Blair Butler
Akela Cooper
Argumento
William Penick
Christopher Sey
Stephen Susco
Fotografia
Jose David Montero
Trilha Sonora
Bear McCreary
Montagem
Gregory Plotkin
David Egan
País
Estados Unidos
Distribuição
Lionsgate
Duração
89 minutos
Data de estreia
22/nov/2018
É Halloween e um assassino em série caça suas vítimas num parque de diversões de terror, o cenário perfeito para que ele possa agir sem levantar suspeitas.
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