Robin Hood: A Origem | Crítica | Robin Hood, 2018
Com mais um filme de origem, Hollywood prova que pouco se importa em contar boas histórias, e Robin Hood: A Origem é o mais novo alvo dos nossos bolsos.
O arqueiro mais icônico das lendas já teve dezenas de encarnações no cinema, mas talvez nunca uma tão canastrona quanto Robin Hood: A Origem. É verdade que a trama tenta modernizar o mito com uma mistura de agilidade, temas para refletir no nosso tempo, muita ação, slow motions e a incessante tentativa de Hollywood em fazer uma origem de todos os personagens possíveis. É tanta correria que se não tomarmos cuidado, nos perdemos na ausência de um roteiro que faça um sentido ao invés de ficar se comparando com outros filmes de origem, ainda que encontremos momentos bem pontuais que nos divertem. Mas são detalhes que não salvam.
Depois de passarmos da irritante introdução, onde o narrador insiste que não conhecemos como Robin de Loxley (Egerton) se tornou Robin Hood. O que não é verdade, qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento da história do mítico herói sabe que ele participou das cruzadas, roubou dos ricos para os pobres e desafio os poderes estabelecidos. O que Bathurst faz para diferenciar sua obra das outra é brincar de Baz Luhrmann: os figurinos dos personagens têm algo de contemporâneo, a música tem toques menos medievais e uma das cenas onde Robin finge ser um playboy do século XII parece ter vindo das versões de Lurhmann de Romeu e Julieta (Romeo + Juliet, 1996) ou O Grande Gatsby (The Great Gatsby, 2013). E efeitos especiais.
Vou dizer que a tentativa de conversar com a nossa realidade por meio de alegorias no filme é, de longe, a melhor parte. Com uma Marion (Hewson) que não retratada como uma donzela em perigo – apesar de ser ligeiramente objetificada exatamente no seu figurino inicial de ladra – o cenário na Arábia que pela poeira e muitos tiros (de flechas) lembra os terrores dos conflitos no Afeganistão, onde as armaduras parecem muito com uniformes de soldados modernos, Bathurst quer de distanciar das histórias que já foram contadas. E faz isso ao ignorar a História também ao não especificar de qual das Cruzadas Robin participou, nem citar que o personagem poderia ter existido na época do Rei Ricardo Coração de Leão.
Mas devemos também admitir, pelo bem ou para o mal, que esse é um filme com uma afirmação política: como a guerra afeta um país e os mais humildes – sim, Bathurst, entendemos que você também é anti-Trump – que o Xerife de Nottingham (Mendelsohn) e outros personagens não tem nome por se tratarem de uma instituição e até uma certa coragem por dizer que sem uma revolta social a sociedade não muda. O diretor não poderia ser mais claro, com o Xerife parecer um nazista acompanhados por figuras pretas sem rosto enquanto o mentor de Robin é John (Foxx), um muçulmano que imigrou ilegalmente para a Inglaterra – e aqui outra atualização, com um Pequeno John muçulmano e negro.
A questão é que é tudo uma miscelânea de outros filmes de melhor resultado, misturados numa massa que deixa a aventura disforme. Podemos pegar a própria interpretação e situação – até mesmo os figurinos – de Mendelsohn e lembrar de Rogue One: Uma História Star Wars (Rogue One: A Star Story, 2016, Gareth Edwards). Que o treinamento de Robin ser tirado de Batman Begins (2005, Christopher Nolan), com um Robin fazendo vezes de Bruce Wayne, tendo que fingir ser quem não é. Até produções mais cafonas e despretensiosas como A Máscara do Zorro (The Mask of Zorro, 1998, Martin Campbell) entram nesse caldeirão. O problema é que essas referências de grandes filmes – com a exceção do lançamento de 1998 – não ajudam ao de Bathurst ser bom, apenas uma caricatura malfeita deles.
Apesar daquele começo que pode chamar a atenção pela dinâmica e montagem, o resto é uma das aventuras mais genéricas que se pode imaginar. Podemos até encontrar momentos para nos divertimos, como a escolha de alvos no treinamento de Robin serem efígies religiosas – mas não santas para não ofender muito ninguém – e a modernidade dos figurinos para atualizar a história, mas é tudo um polimento para um desses grandes males do cinema de Hollywood que não se cansa de buscar o caminho mais fácil e para produções cada vez mais preguiçosas. É como se colocassem diretores e roteiristas numa linha de produção de John Ford, fazendo ajustes aqui e ali, recebendo peças prontas e apenas fazendo aquilo para o que foram treinados.
A preguiça não impera só nessa esteira que é pegar pedaços de outras produções para criar um monstro. Até as decisões originais são apressadas ou equivocadas. Vejam só o grande plano final, que precisava não só de um grande intelecto – que, convenhamos, esse Robin nunca demonstrou – mas também parecia muito difícil de ser executado. Mas como já estamos perto do filme do filme, toda a parte central dele que nos arrastou longamente precisava ser fechada, mesmo que isso signifique cavar em pedra e fazer um pequeno trecho de trem em três dias. Nada pior que a decisão de Will (Dornan) que vira a casaca por ser dispensado – apesar do filme se afirmar como progressista o tempo todo.
É verdade que o cinema de ação está saturado e quem é muito difícil aparecer com algo que acrescente ao gênero, e é exatamente por isso que não há razão para um filme como Robin Hood: A Origem existir. Vivemos num mundo onde somos forçados a acreditar, mesmo entre as centenas de roteiros que a indústria dos EUA recebem e não são filmadas, é essa a nata. Talvez haja um recado oculto nessa nova encarnação de Robin Hood, talvez seja preciso uma revolução para mudar o mercado e que essa produção só existiu para deixar o espectador com raiva e começar a exigir dos executivos nas suas cadeiras que não nos enganem tanto. É uma maneira fantasiosa de encarar, mas parece ser a única aceitável.
Elenco
Taron Egerton
Jamie Foxx
Ben Mendelsohn
Jamie Dornan
Eve Hewson
Tim Minchin
Direção
Otto Bathurst
Roteiro
Ben Chandler
David James Kelly
Argumento
Ben Chandler
Fotografia
George Steel
Trilha Sonora
Joseph Trapanese
Montagem
Joe Hutshing
Chris Barwell
País
Estados Unidos
Distribuição
Lionsgate
Duração
116 minutos
Data de estreia
29/nov/2018
O filme atualiza a história do ladrão que roubava dos ricos para dar aos pobres, Robin Hood, focando no seu treinamento e como o homem se transformou na lenda.
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