Os Miseráveis | Crítica | Les Misérables, 2012, Reino Unido
Os Miseráveis é uma boa produção, apesar do diretor.
Com Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Eddie Redmayne, Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen. Roteirizado por William Nicholson, Alain Boublil, Claude-Michel Schönberg e Herbert Kretzmer, baseados na montagem da Broadway e no romance de Victor Hugo. Dirigido por Tom Hooper (O Discurso do Rei).
O que acontece ao vermos injustiças costuma ser asco, se você não é nenhum sociopata. E a belíssima história escrita por Victor Hugo em 1862 mostra o estado de pessoas miseráveis e destroçadas, tanto em espírito quanto na sua pobreza financeira. Mas com grande esperança, o autor também compreendia que o espírito humano é capaz de enormes feitos. E o diretor Tom Hooper consegue passar essa emoção durante vários momentos de “Os Miseráveis”. Mesmo transportando a versão musical da Broadway para o cinema, o que pode afastar um público que não é apreciador de um gênero que vai ser cantado do início ao fim, é impossível não se apaixonar e se emocionar com os temas entoados. A história universal de dor, esperança e redenção foram muito bem construídos na nova versão para os cinemas da história e que, apesar de alguns pouco erros, deve emocionar quem assiste.
Em 1815, Jean Valjean (Jackman) é libertado sob condicional da prisão de Toulon (no sul da França). O Inspetor Javert (Crowe) faz questão de dizer que a vida do prisioneiro não será de liberdade, já que ele deverá carregar sempre documentos dizendo que ele é um homem perigoso, e que ficou dez anos preso por ter roubado um pão para alimentar um sobrinho. Esse fardo pesado, representada por uma cruz que é o primeiro símbolo que Valjean passa ao sair da prisão, o impede de ter qualquer trabalho decente. Situações vão fazer que Valjean encontre o perdão, o sucesso e a honra que pareciam perdidos, e o que farão alcançar sua redenção.
O diretor aposta em vários símbolos que dão o tom correto à história. Além de usar várias cenas abertas para reforçar a solidão do personagem, logo no início Valjean carrega uma bandeira francesa do chão de um porto, que estava manchada e rasgada, como era situação do país na época. Quando a história avança, depois de Valjean “morrer” em um cemitério e ter uma nova vida em como Prefeito em Montreuil-sur-Mer (norte da França, mostrando que o personagem subiu na vida), Fantine (Hathaway) se acha numa posição quase de escravidão como a do antigo Valjean, já que ela vive numa sociedade hipócrita e machista, e trabalha apenas para sustentar a filha Cosete. A mãe, que foi abandonada pelo pai da criança, é diferente das outras trabalhadoras da tecelagem, tanto nas roupas quanto nas atitudes das companheiras, que não veem nada demais em dormir com o patrão para arranjar um pouco mais de dinheiro, mas que a condenam por sustentar um filha ilegítima. E no porto, onde consegue o único trabalho com seu corpo, depois de passar uma série de humilhações, a personagem se deita por dinheiro para poder continuar a pagar às pessoas que cuidam de Cosete. Fantine canta que está morta enquanto seu corpo é usado pela primeira vez, e é interessante que a situação aconteça numa cama que se assemelha à um caixão. Junte tudo isso com a fotografia pesada e o constante clima chuvoso que toma conta da história para entender o clima melancólico que segue.
Apesar do filme ser uma cantoria só, os personagens não saem de seu estado de espírito para simplesmente cantar uma música. Valjean, depois de ser salvo pelo bispo Myriel (Wilkinson), se expressa de um jeito cansado e toma fôlego várias vezes, por ainda com um peso nas costas. Fantine, no claro momento que Hathaway foi indicada ao Oscar, canta “I Dreamed a Dream” também cheia de emoção, dor e choro, que não é interrompido só porque ela está cantando o que está sentindo. Outros momentos são de cortar o coração, como quando a pequena Cosete canta “Castle on Cloud” enquanto embala um boneca feita de trapos. Essa melancolia profunda é quebrada pela música engraçada de Monsieur e Madame Thénardier (Cohen e Carter) em “Master of the House” porque precisamos de um respiro. Outras músicas emocionantes seguem: “One Day More”, “Bring Him Home” e ” “Do You Hear the People Sing?” são dignas de criar a emoção que pregam. É importante apontar que os atores não são cantores. Então é um pouco incômodo ouvir Crowe e Jackman, apesar desse último ser mais é aceitável na maior parte do tempo, e nos impressionarmos com a voz de Hathaway (se nenhum efeito de foi aplicado, como a atriz defende).
Por ser uma história de quase duzentos anos, alguns personagens podem parecer inverossímeis. Valjean se apaixona por Fantine, apesar de tê-la visto uma vez só. O mesmo acontece com o revolucionário Marius (Redmayne) e a já crescida Cosete (Seyfried). E isso não quer dizer que os personagens sejam maniqueístas, já que Valjean hesita em se entregar à Javert mesmo quando ele poderia se livrar, ou como Épopine (Barks) esconde uma certa carta enquanto a chuva esconde suas lágrimas. Mas são amores idealizados, e não interferem no andar da trama, que tem o amor como fim. Como é dito durante um dos momentos que devem levar lágrimas aos olhos, “amar outra pessoa é como ver a face de Deus”.
O filme é um drama pesado, mas não menos esperançoso. Apesar dos sinais da morte serem constantes, por exemplo com a montagem da barricada dos revoltosos começar com um caixão – antevendo o que viria – a fé e amor movem os personagens. “Os Miseráveis” também é dotado de um primor em seus figurinos, na direção de arte e na fotografia. Detalhes que tornam o filme plasticamente impecável. É uma história clássica que merece ser (re)visitada e que, apesar dos percalços e exageros do diretor (como no figurino final dos Thénardier) , emociona.
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“Os Miseráveis” concorre ao Oscar 2013 nas categorias Melhor Filme, Melhor Ator (Hugh Jackaman), Melhor Atriz Coadjuvante (Anne Hathaway), Melhor Canção Original (“Suddenly” por Claude-Michel Schönberg, Herbert Kretzmer, e Alain Boublil), Melhor Mixagem de Som (Andy Nelson, Mark Paterson, e Simon Hayes), Melhor Direção de Arte (Eve Stewart and Anna Lynch-Robinson), Melhor Maquiagem e Penteados (Lisa Westcott e Julie Dartnell) e Melhor Figurino (Paco Delgado).
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