Oblivion | Crítica | Oblivion, 2013, EUA
Oblivion é uma daquelas ficções científicas que estudam o que nos faz sermos humanos, mas com menos competência de obras anteriores.
Com Tom Cruise, Olga Kurylenko, Andrea Riseborough, Morgan Freeman, Melissa Leo e Nikolaj Coster-Waldau. Roteirizado por Joseph Kosinski, William Monahan, Karl Gajdusek e Michael Arndt, baseado nos quadrinhos de Joseph Kosinski e Arvid Nelson. Dirigido por Joseph Kosinski (Tron: O Legado).
A condição humana já foi objeto de estudos várias vezes na ficção científica. A revisitação do tema em Oblivion – adaptada de uma história em quadrinhos – faz um serviço mediano. O roteiro tem problemas de percalço por causa do quadrilátero de roteiristas. E apesar do protagonista ser um tanto canastrão, é muito fácil de acreditarmos no que ele faz em tela. Também existem decisões erradas na direção de Kosinski e na trilha sonora num filme que tinha potencial.
No futuro de 2077, a Terra é um lugar praticamente inabitável. Sessenta anos antes, forças alienígenas destruíram a nossa lua, causando desastres naturais catastróficos, e invadiram logo depois. Os governos terráqueos usaram armas nucleares para expulsar os invasores e conseguiram, apesar de deixar o planeta em péssimo estado. Toda a população sobrevivente está em Titã, ou na estão orbital TET. É essa a história que Jack Harper (Cruise) nos conta, numa narração off que chega ao ponto de ser irritante. Ele é responsável pela manutenção de drones que caçam invasores remanescentes e que cuidam de gigantes máquinas que sugam os últimos recursos naturais da Terra para que o planeta possa ser abandonado. Junto da oficial de comunicações Vicca (Riseborough), aparentemente os últimos humanos no planeta, a missão deles está para quase acabar quando Jack encontra uma sobrevivente humana. Julia (Kurylenko) estava em suspensão animada por vários anos, mas ainda assim parece familiar para Jack.
O futuro do planeta Terra é uma boa mistura de visuais. Isolados, Jack e Vicca vivem numa estação flutuante que lembra um grande aquário. Quase tudo é transparente, até mesmo a piscina que servem para os dois se exercitarem e se divertirem. Junte com a estação de corrida que é fechada dentro de um círculo, como aquelas que hamsters ficam, e temos um ambiente estéril e controlado, quase com um fetiche voyer. Se Jack começa a fazer perguntas, é natural que o espectador também faça essas e outras. Algumas são essas análises da poesia visual do filme, outras acabam desgastando o roteiro. Mencionando apenas o começo, é um deus ex machina fortíssimo quando Jack vai à busca de um drone perdido que, de acordo com Vicca, não tinha deixado nenhum rastro de sua localização. Nada, zero. Ainda assim, o nosso herói chega até o lugar exato da máquina sem explicação plausível, além de pura necessidade de roteiro.
É interessante caçar outros elementos da poesia visual que comentei. Advindo de uma história em quadrinhos, é compreensível que os quadros passem despercebidos pela maioria. Jack descendo para a biblioteca no começo do segundo arco é uma delas. Dotada de uma simplicidade – o acesso ao conhecimento – e é ali que Jack começa a se questionar mais de sua missão e de porque os invasores ainda tentam investidas. Vicca é um ótimo sistema de controle. Notem que é ela quem corta pela raiz, representado em parte por uma pequena flor, os pensamentos que vão contra o protocolo usando de sua sensualidade, toques e ofertas para que Jack deixe de pensar naquelas coisas. É natural pensar que ela seja algum tipo de androide por causa disso, principalmente quando você percebe que as pupilas dela estão sempre dilatadas, não importa a iluminação da cena.
Durante sua missão, Jack é assombrado por flashbacks em que Julia está presente, o que é estranho já que a memória dele foi apagada por questões de segurança. Toda essa questão de auto-conhecimento é explorada na psique do protagonista. Ele tem uma avidez por colecionar coisas do passado nesse deserto que se tornou o planeta, algo que vai ser comparado por alguns com Wall-E (Wall-E, 2008), apesar da busca ter motivos diferentes. Então coisas que Jack salava como óculos de sol, um boné de Nova York, LPs do Led Zeppelin, Pink Floyd, Asia e Procul Harum, o gosto pela arte de Van Gogh e pela literatura de Charles Dickens chamam a atenção de outro sobrevivente, Malcom Beech (Freeman), que aparece ameaçador, usando até mesmo técnicas de terror para convencer Jack a fazer algo que ele não quer. Na verdade, que não acredita. Os questionamentos continuam e impulsionam o mecânico de drones na sua nova jornada.
O filme mistura bem cenas de ação com as ideias que apresenta. Visualmente não há o que reclamar. É um ambiente fantástico e que consegue reproduzir fielmente vários cenários da área de NY. Mas Kosinski tem seus deslizes na direção. Ele usa excessivamente o flashback entre Jack e Julia, até mesmo quando o protagonista chega ao lugar de suas lembranças o diretor mostra a cena na fotografia sépia usada para o passado. Também existem erros de trilha sonora. Não que a composição da banda eletrônica M83 seja fraca, mas ela é usada em vários momentos de forma errada, principalmente no último arco, onde uma cena de despedida que é profundamente triste é embarcada por uma trilha de ação.
Oblivion não é um filme fraco. É uma história com questionamentos válidos – mas com menos competência se compararmos, por exemplo, com Lunar (Moon, 2009) – e que cai num perigo comum de hoje que é muita gente ficar responsável, sem falar que é uma história que já veio de outra mídia (ou não, não é?). Os erros prejudicam também o ritmo do filme. Por exemplo, como entender que o diretor junte a história de Jack e Julia, mostrada aos pedaços durante o primeiro e segundo arco, além da insegurança de achar que o espectador não vai entender a mensagem? Faltou competência e um pouco mais de ousadia nessa história, o que fará que ela não seja muito comentada no futuro, o transformando num filme que poucos terão vontade de rever nos próximos anos.