Mama (Mama, 2013, Espanha-Canadá) [Crítica]

0 Flares Twitter 0 Facebook 0 Filament.io 0 Flares ×

"Mama", 2013

Com Jessica Chastain, Nikolaj Coster-Waldau, Megan Charpentier, Isabelle Nélisse e Daniel Kash. Roteirizado por Neil Cross, Andrés Muschietti e Bárbara Muschietti, baseado no curta-metragem de Andrés Muschietti. Dirigido por Andrés Muschietti.

8/10 - "tem um Tigre no cinema"“Mama” é um filme que funciona bem nos seus 100 minutos. Tenso em muitas partes e competente ao marcar sustos na plateia, o filme de terror que foi baseado num curta-metragem mais apavorante ainda, mostra que ainda é possível contar boas histórias desse gênero que tem maltratado tantas vezes seus fãs com inúmeras continuações, remakes e reboots.

Durante a crise financeira de 2008, Jefrey (Coster-Waldau) se desespera. Num ato de loucura, ele mata um sócio, a esposa e planeja fazer a mesma coisa com as filhas Victoria e Lily. Durante a fuga no meio da neve – onde a fotografia e o branco aumentam a sensação de loucura – Jefrey sofre um acidente com as filhas, mas consegue escapar e encontrar abrigo em uma cabana abandonada no meio da floresta. Decidido a acabar com a vida das meninas e com a própria depois, o pai aponta uma arma para a cabeça de Victoria, apenas para ser impedido por uma figura flutuante que quebra o pescoço do ensandecido. Cinco anos depois as meninas são encontradas e levadas a um instituto psiquiátrico, pois regrediram a um estado bestial por causa do isolamento enquanto estavam abandonadas. Depois, o irmão gêmeo de Jefrey, Lucas, que não deixou de procurar pelas sobrinhas ganha a guarda das duas. Junto da namorada Annabel (Chastain), elas cuidam das crescidas Victoria (Charpentier) e Lily (Nélisse). Mas a tarefa não é das mais fáceis, pois as meninas acreditam que Mama também veio com elas.

A visão subjetiva de Victoria toma um papel interessante nas mãos do diretor. Muschietti habilmente desfoca o que vemos por causa da menina ser míope e ter perdido os óculos, e coloca a câmera em vários momentos num nível mais baixo, na altura dos olhos dela, e várias vezes apontando para cima. É uma pena que os responsáveis pelo roteiro tenham feito questão de apontar logo nos primeiros minutos de que é uma trama sobrenatural. Mas a visão embaçada serve pelo menos para esconder o visual da criatura que irá assombrar a família.

Os créditos de abertura é outro momento marcante da produção. Numa jogada inteligente, toda a história das meninas durante os cincos anos em que estiveram na floresta são mostrados por desenhos infantis e simples marcados na parede com giz de cera. Um diretor mais inseguro teria apelado para fotos, ou uma horrível narração off. É tudo bem explicado pelo ponto de vista daquelas duas meninas inocentes – como podemos ver pelas cores mais claras de seus figurinos – e como poderiam se expressar dentro do seu universo particular.

A relação entre a nova família também gera um interessante arco. Lucas gastou todos os recursos que tinha para achar as sobrinhas, e sente compelido a cuidar delas. Annabel não sente o mesmo, e várias vezes discute com o namorado sobre as responsabilidades para com as duas, ao ponto de mais de uma vez dizer que não era função dela bancar a mãe ou a tutora. O papel dela era sim ser uma estrela de uma banda de Rock. Mas ela é forçada a mudar quando Lucas sofre um acidente bizarro e entra em coma (e em outra poética visual, ele quase quebra o pescoço, quase como o seu irmão). Nesse momento é que o filme fica mais tenso, com vários closes em cantos, portas fechadas e um sentimento palpável de medo da personagem de Annabel.

Mama - poster brasileiro

“Mama” acerta em outros pontos. Indo além de uma luta entre o racional e o paranormal, o personagem do Dr Dreyfuss (Kash) representa a possibilidade e a expansão do pensamento científico. Ele, cheio de doutorados e mestrados, dá o braço a torcer para a possibilidade da manifestação sobrenatural ter explicações científicas. Claro que é uma discussão superficial e sem dados para justificar o assunto. Mas eles seriam fora de lugar, considerando o tipo de história – o quão monótono seria ouvirmos algum tipo de discussão técnica da presença de um espírito no nosso mundo? A fotografia de Antonio Riestra dá um clima sempre invernal ou outonal à trama, como sempre estivesse frio em volta de todos. Apesar de notarmos que a Mama tem problemas no CGI (mas com bons elementos, mostrando braços quebrados e cabelos que flutuam como se estivessem constantemente imergidos) e a história não ter elementos sempre originais – já que podemos ver cenas que foram inspiradas em filmes como “O Iluminado” (The Shining, 1980) e “Espíritos – A Morte está ao Seu Lado” (Shutter, 2004) – a história da subversão de tema do anjo da guarda, um ser que está para proteger, mas de um jeito macabro, se sustenta sozinha. É uma boa história de monstros, que tem um final que consegue fugir de certos clichês, por não ser totalmente feliz, e nem totalmente horrível.

Volte para a HOME

Share this Post

About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".