Megatubarão | Crítica | The Meg, 2018
Assim como sugere o nome, Megatubarão pode divertir quem procura apenas um filme de ação, mas falha ao não abraçar totalmente seu próprio absurdo.
Com um nome desses, não podemos esperar muito além de um gigantesco absurdo. Megatubarão é, em essência, uma homenagem ao maior clássico do gênero e, talvez, o primeiro filme com um orçamento sério e uma distribuição massiva de um tipo de filme de monstros que se tornou praticamente um subgênero, facilmente alcançando cinquenta produções ou mais, das mais sérias às mais galhofas. No entanto, a maior falha da produção é exatamente não abraçar esse absurdo por inteiro, além de jogar fora a humanidade do antagonista humano e deixar as coisas mais fáceis para todos envolvidos com uma conveniência atrás da outra.
Se no começo Jonas (Statham) é um homem lidando com o peso de suas decisões, perseguido por fantasmas que o impedem de voltar a fazer o que sabe fazer melhor, essa humanidade não é posta a prova contra um até então ser extinto. O destaque é ver que o personagem, apesar de durão, não é a máquina de descer socos como seus personagens anteriores. Ou seja, nada de tiros, mas ainda nos sobraram as explosões, o peitoral nu do personagem por algum motivo que não envolve ele estar na água e aquela sensação de lidarmos com um adônis esculpido – o que com certeza tem seu público cativo – e uma cafonice de suas frases.
Um ponto positivo é atenção que a história dá às mulheres. Aqui, elas dividem a tela com o personagem masculino, tanto em ação quanto cérebro. Apesar de Suyin (Bingbing) não chegar a vias de fatos, ela é alguém que não espera a cavalaria chegar para tentar salvar o dia. Se sentindo responsável pela vida dos pesquisadores, ela arrisca a própria enfrentando os conselhos do pai, o Dr Minway (Chao). Do outro lado, Jaxx (Herd) é outro cérebro da equipe – o que tira também da atriz uma persona de ação – alguém que conquista a audiência e o próprio Jonas com sua postura e confiança. Pena que, eventualmente, essas personagens vão ser salvas por homens.
Porém, o que mais destoa na produção é o caminho que ela toma. À princípio, a trama de tons de ficção científica, com uma estação marinha explorando novos mundos – o que traz inclusive uma piada sobre Ossos – quer se mostrar séria, preocupada com o meio-ambiente e dando detalhes técnicos (ou pseudotécnicos) como justificativa de existir no século XXI. Então, a diversão que poderia funcionar apenas por si é diluída nesse cenário, o que indica um medo de seus produtores em serem taxados de filme B demais. Mas esse é, no seu cerne, um filme trash – mas com orçamento. E qualquer um que sabe como esse tipo de cinema funciona, também sabe que existem nos seus grandes expoentes uma vontade enorme de fazer filmes, seja lá a maneira que for.
Então, ao colocar esse fundo de ficção, mas deixar coisas como um mergulho rápido sem consequências físicas, uma bateria que é carregada aos 240% ou essa grande combinação de gênios não concluir que é a luz que atrai o megalodonte abissal, existe uma confusão no tipo de história que deseja ser contada. Podemos somar isso às grandes conveniências e temos um caldeirão que começam a nos chutar da história dos personagens e, consequentemente, nos importarmos menos com ele. Apesar do problema do monstro, as coisas parecem ser muito simples, como Jonas, o melhor de sua área, estar a apenas 2 mil km da estação (um pulo para quem tem recursos) e um patrocinador que financia tudo, inclusive as partes militares, se equivalendo a um deus ex-machina.
Além disso, o filme trabalha muito na estrutura de videogames, no esquema de subchefes antes do chefão final, o que cansa o espectador. Se no começo há uma correria porque o submarino atacado tem só 18 horas de oxigênio, subitamente caindo para duas horas logo depois, a ação acaba se arrastando, pois percebemos que esses desafios menores servem só para alongar o filme. Mas Turteltaub sabe o que está fazendo em vários momentos, como saber usar o silêncio e criar tensão na cena em que Suyin, mostrando mais uma vez sua necessidade ao time, vai encarar o megatubarão cara a cara.
Claro que se pararmos um pouco para pensar, esse filme é como se pegássemos Tubarão (Jaws, 1975, Steven Spielberg) e injetássemos esteroides. Assim como o personagem de Roy Scheider, Jonas é desacreditado pelas autoridades – no caso, um médico – temos a já citada cena da gaiola e um necessário ataque aos incautos banhistas naquela que deve ser a praia com maior profundidade perto do raso, considerando a distância que o megalodon se aproxima da areia para tentar dar seus botes. Nesse conto de homem versus natureza, se repete o tema tanto da produção de Spielberg quanto o recente Jurassic World: O Reino Ameaçado (Jurassic World: Fallen Kingdom, 2018, J.A. Bayona) o que se fazer quando encontramos um ser que desestabiliza nosso status quo – a diferença é que essas produções tinham mais significado.
O que não se pode negar é que esse é, verdadeiramente, um filme de monstros. Com direito a um tubarão que consegue parar de nadar para encarar uma vítima – apesar de ser da biologia desses animais sempre precisar ficar em movimento – e alguns scary jumps, emulando algum tipo de terror. Acontece que essa é uma produção pensada para aquele seu amigo que é fã da saga Sharknado (2012-2018) e que agora tem a tela grande, IMAX e alguns casos as salas especiais com movimentos de cadeira e sprinklers para jogar água na cara, numa falsa tentativa de imersão – que pode ser engraçada, mas não é cinema.
Com certeza, os defensores de Megatubarão usarão um úncio adjetivo para definir esse filme: divertido. O que precisamos refletir é se só isso é suficiente. Entre a seriedade e a bobagem, a produção se perde entre clássicos e até mesmos os ripoffs, pois deixa a impressão que chegou tarde demais – considere que o já citado filme que mistura tubarões e tornados chega esse ano na sua sexta e última aventura. Então, a produção pode ser comparada com aquela piada que foi engraçada no começo e que por isso caiu nas graças das pessoas que a ouviram. Mas depois de ouvi-la pela enésima vez, mesmo que com uma roupagem um pouco diferente, não traz mais aquele sorriso ao rosto, a não ser nas partes realmente absurdas tão próprias desse universo.
Elenco
Jason Statham
Li Bingbing
Rainn Wilson
Ruby Rose
Winston Chao
Cliff Curtis
Direção
Jon Turteltaub
Roteiro
Dean Georgaris
Jon Hoeber
Erich Hoeber
Baseado em
Meg: A Novel of Deep Terror (Steve Alten)
Fotografia
Tom Stern
Trilha Sonora
Harry Gregson-Williams
Montagem
Steven Kemper
País
China
Estados Unidos
Distribuição
Warner Bros. Pictures
Duração
113 minutos
3D
Irrelevante
Quando uma equipe de exploração profunda dos mares é atacada por um ser desconhecido, Jonas é chamado para o resgate. Mas junto dos mergulhadores que ele salvou, algo veio junto – um gigante e faminto megalodonte.
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