Máquinas Mortais | Crítica | Mortal Engines, 2018
Com a proposta de impressionar pelo visual, Máquinas Mortais desaba em todo resto, seja pela colagem de outras histórias, conveniências ou personagens sem carisma.
Existem algumas modas que se recusam a ir embora. Uma delas é o gênero young adult que tem aquele que pode ser seu último suspiro com Máquinas Mortais. Se a obra original tem algo de destaque a ponto de Peter Jackson atrelar seu nome, essa característica não foi passada das páginas para a tela. Apesar do visual steampunk saltar aos olhos, a bagunçada trama se apressa ao contar uma história que se perde em conveniências e personagens com pouco carisma. É possível identificar na trama falhas tanto na maneira que os roteiristas a apresentaram quanto na tentativa de enganar a audiência da colcha de retalhos que é, dando apenas como novidade uma pintura diferente do lado de fora.
Uma característica que admiro em geral no cinema é quando o desenvolver da trama nos dá motivos para acompanhar os personagens acompanhando um dinamismo. Isso acontece, pelo menos em parte, com a missão de Esther Shaw (Hilmar) e sua perseguição. Ela tem foco, quer de qualquer jeito entrar na cidade motorizada dessa nova Londres num futuro distópico que faz a alegoria de ricos ficando mais ricos e os pobres mais pobres. Então, os primeiros vinte minutos, num jogo de gato e rato, serve para estabelecer esse universo onde o mundo rachou. E aí que as conveniências começam e quando Londres se fecha sua bocarra, se fecha também o melhor momento do filme.
Primeiro, é muito difícil acreditar nessas coincidências. Podemos até aceitar que a grande Londres tenha encontrado naquele mundo onde, pelo menos aparentemente, as cidades nômades não estejam muito perto uma das outras, principalmente das grandes que são predadoras. Mas não há explicação de como isso acontece, e falta de elucidação é o que mais vai acontecer nesse filme. Tão difícil de acreditar que ninguém desconfia de Ester mascarada quando consegue entrar em Londres é o acesso que tem alguém tão importante quanto Thaddeus Valentine (Weaving). De novo, conveniências, pois é duro de acreditar que um personagem que quer tanto poder se disponha a procurar pessoalmente as peças que precisa.
Na verdade, todos os personagens forçam um pouco. Sem o espaço de um livro para dar mais detalhes, não dá para saber porque Katherine Valentine (George) tem amizade com Tom (Sheehan) e um outro personagem o tem como inimigo. Esses conflitos e conexões acontecem nesses primeiros minutos e se visualmente é interessante ver como esse mundo se comporta, não podemos dizer o mesmo dos protagonistas. Fora ficar implícito que Tom tem a ideia de descartar material bélico por ser um historiador, pois aprendeu com o passado, os outros personagens não têm a mesma (semi) profundidade. Isso porque não há tempo hábil para tal, precisamos correr e acompanhar a agilidade para não nos perdermos.
A correria tem um bom motivo: nos fazer esquecer dos problemas do roteiro. Podemos começar como as notícias votam tão rápido em uma sociedade que parece se conectar bem pouco, precisando de batedores para isso. Também fica no ar como Anna Fang (Jihae) encontra Esther – teria sido coincidência ou ela foi seguida de alguma maneira –, ou como Shrike (Lang) encontra a personagem com extrema facilidade – pelo DNA, por algum tipo de dispositivo localizador? – e não pôde fazer isso antes. A conclusão também facilita a vida de Esther ao cair num templo que tem as respostas que ela precisava. De novo, tudo facilitado porque a ideia é que uma audiência mais jovem não conseguiria montar as peças sozinhos.
Sim, a história menospreza seu público alvo. Isso acontece apenas pela fraqueza da história, que se apoia demasiadamente nos grandes exemplos. Para facilitar esse raciocínio, posso dizer que esse filme é o universo Star Wars em versão steampunk. E alguns momentos são descaradamente pegados do universo de George Lucas. Tá bem, existe sempre um escolhido portador de um grande poder que desconhecia – pode ser a Força, uma varinha especial, um Anel, você escolhe – e se encontra numa missão maior que começou. Mas com uma arma que se aproxima do seu alvo como a Estrela da Morte, o mundo quase acabando e com Peter querendo se vestir para o trabalho como um Han Solo e um conflito nas alturas que só faltou vocalizar “eu sou seu pai” fica difícil acreditar na sinceridade do roteiro.
Com muito para ser mostrar visualmente, mas sem um conteúdo para se sustentar, a trama até cai em novos clichês, além dos velhos. A maioria desses momentos vem da preguiça – como chamar a dona de uma caixa de poder com o nome de Pandora –, mas também de querer se mostrar mais espetáculo visual do que narrativa. Temos gente se apaixonando por pessoas que acabaram de se conhecer, o visual da mulher forte que precisa ser a vaca para se destacar num mundo de homens e os arrependimentos de último minuto. Sem falar de personagens que fazem coisas importantes, como um colega de Tom, que simplesmente desaparece da trama e sabemos sequer o destino dele.
Ainda que peguemos uma piada aqui e ali – a dos Minions é de longe a melhor – a falta de conexão com os personagens é um prego final. Até mesmo porque a história incha a tela com personagens que vão te fazer perguntar o porquê de estarem ali. Isso resulta em conclusões apressadas e diálogos que não se fecham, como Tom tirar simplesmente do nada que Shrike criou Hester ou a relação entre Anna e a mãe de Ester, também incerta: “ela me fez prometer que se algo acontecesse que eu a encontraria”, diz a personagem. Difícil de acreditar também que a mãe da protagonista sabia que Theodore era perigoso e mesmo assim o mantinha sempre por perto e permitiu que ela se afeiçoasse do vilão.
Mesmo que a fonte seja melhor, isso não salvaria Máquinas Mortais, pois se a desculpa é que o material original é assim mesmo, que fizessem as mudanças necessárias. É um daqueles filmes que é mais fácil olhar no relógio para ver quanto tempo falta do que olhar para a tela. Essa mistura de outras sagas já aconteceu em tantas outras vezes que a produção de Rivers tem que competir tanto com gigantes quanto vários medianos que brigam por espaço. Mesmo que a novidade fosse o foco nos personagens mais novos dentro de um cenário isolado e gigante, faltou criar mais interesse por eles. A verdade é que depois da sessão, é o visual que vai grudar na cabeça.
Elenco
Hugo Weaving
Hera Hilmar
Robert Sheehan
Jihae
Ronan Raftery
Leila George
Patrick Malahide
Stephen Lang
Direção
Christian Rivers
Roteiro
Fran Walsh
Philippa Boyens
Peter Jackson
Baseado em
Máquinas Mortais (Philip Reeve)
Fotografia
Simon Raby
Trilha Sonora
Tom Holkenborg
Montagem
Jonno Woodford-Robinson
País
Estados Unidos
Nova Zelândia
Distribuição
Universal Pictures
Duração
128 minutos
Data de estreia
10/jan/2019
3D
Irrelevante
Num futuro distante, as cidades se transformaram em grandes veículos e se deslocam pela terra devastada. É nesse cenário que Ester Shaw busca vingança pela morte da mãe. Mas existe algo muito maior por trás do assassino e Ester se encotrará num cenário muito mais importante que seu desejo de vingança.
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