Mamma Mia! Lá Vamos Nós De Novo | Crítica | Mamma Mia! Here We Go Again, 2018
Mamma Mia! Lá Vamos Nós De Novo tem a mesma estrutura novelesca e o clima alegre do primeiro filme, adicionando um toque de melancolia.
Mamma Mia! Lá Vamos Nós De Novo é uma grande novela – e se estiver tudo bem para você, provavelmente é seu tipo de filme. Ao invés de se estender por uma infinidade de episódios, o diretor Ol Parker nos leva por quase duas horas com muito Abba, obviamente, lindas paisagens, viagens ao passado e uma sensação de problemas que só gente rica passa. E é impossível não sair movido pela ausência de uma personagem, pela interpretação e a qualidade do elenco como um todo, o que com certeza vai agradar os fãs, tanto da banda escandinava quanto do primeiro filme e da peça que a inspirou.
Apesar da alegria que vem de todo o clima do filme de 2008, há uma nuvem de melancolia na reabertura do hotel que Sophie (Seyfried) cresceu. Com Donna (Streep) falecida e uma crise que se aproxima no casamento com Sky (Cooper), a jovem se acalenta em preservar o legado da mãe e na presença de um de seus pais, Sam (Brosnan) – ele próprio ainda em luto. Para elevar esse clima, ao mesmo tempo que constantemente nos lembra que Donna está morta, o diretor nos leva ao passado para conhecermos a jovem Donna (James) e vermos com mais detalhes as histórias que ouvimos sobre ela no primeiro filme.
Desde jovem, Donna é mostrada como uma pessoa espontânea, que tira as pessoas de sua zona de conforto. Claro que é bem fácil tomar as atitudes que a personagem toma quando se é tão privilegiada. Praticamente deixada de lado pela mãe, ela pode se dar ao luxo de simplesmente largar tudo, viajar pelo mundo e viver numa ilhota no arquipélago da Grécia simplesmente porque sim. Apesar de sabermos que a partir dali a vida dela vai ficar mais difícil – por ser mãe solteira e ter que lidar com um hotel que está desmoronando como a própria vida – ter esse grande empurrão nos desconecta um pouco da personagem principal. Mas o espírito da produção é deixar tudo bem para nós – e a cada perrengue de Donna, nos sentimos contentes por saber que vai dar tudo certo.
Algo que chama bastante a atenção é que, mesmo tendo ressalvas quanto ao jeito novelesco de ser, Parker cuida de seu filme com muito carinho. A atenção como as músicas entram na narrativa, algumas vezes fazendo referência ao que está em volta como nas sequências de “When I Kissed the Teacher” e “Waterloo”, ou como a montagem de Peter Lambert conecta tanto espaços físicos como linhas temporais mostram que o diretor quis entregar o melhor filme possível, apesar de todo esse clima estrutural que tende levemente ao ridículo – não sobre o fato de apelar para a música, que é o espírito da produção, mas como os momentos se intercalam, deixando essa marca que estamos vendo algo que não preza pela sofisticação.
Com certeza é divertido ver a história de Donna por seus próprios olhos, como a relação dela com os jovens Sam (Irvine), Harry (Skinner) e Bill (Dylan) se deram, detalhes que mostram como ela se construiu naquela ilha e como aquelas experiências lhe fizeram ser a mulher por quem nos apaixonamos em 2008. E a história se esforça em fazer paralelos entre mãe e filha, mostrando seus desafios, cada um o seu, e como elas se fortaleceram uma a outra, ainda que Sophie não existisse ainda. O que a história faz então é dizer que o destino prega suas peças, afasta pessoas por motivos diversos, mas que também faz o oposto, aproximando e dando novas oportunidades.
É claro que quando paramos um tempo para refletir sobre isso é que podemos perceber de novo aquela sensação dessa ser uma obra um tanto kitsch. É que os espetáculos musicais são tão fortes que nos deixam felizes, o que mostra a força das músicas do Abba – provavelmente, você sairá cantarolando “Mamma Mia”, “Dancing Queen”, ou “Fernando” depois de sair da sessão. E como a todo momento somos lembrados que Donna não está mais presente, Parker obviamente nos manipula e quase que crava uma faca no nosso coração quando um reencontro acontece. Não chega a ser desonesto – sempre defendo que vamos ao cinema para sermos enganados – mas beira o melodramático.
Isso é tão verdade que essa sensação melancólica tem que ser quebrada mais uma vez, o que deixa o filme com uma sensação de que nunca vai acabar. Claro, um filme musical praticamente exige um final musical – e aqui é mais teatral, ou novelesco, que todo o resto. De novo, para quem quer e gosta desse clima, é um prato cheio. Pode parecer injusto, mas coloquemos dessa maneira: um filme que não se trai e muito menos o espectador que está esperando exatamente um novo Mamma Mia depois de ter se emocionado tanto com o original. Então, além de ser uma homenagem à banda, é um presente a quem aprecia a produção que completou dez anos.
E esse clima mais leve é quebrado não só pela ausência de Donna – ou melhor dizendo, tenta. Quem não viveu em outro planeta, sabe da crise financeira que a Grécia tem passado nos últimos anos e Parker toca ligeiramente nesse assunto ao introduzir um personagem pescador que diz como a vida está difícil para eles. E qual é a solução de Bill (Skarsgård) e Harry (Firth)? Chamar todos para uma festa. É, como comentei sobre a mudança de Donna, algo muito fácil, quase efêmero, mas que, de certa maneira, lembra a Parábola do banquete do casamento presente em Mateus 22 e Lucas 14. Mas é só uma festa, um momento de descanso que não resolve uma questão maior. Apesar do filme não se propor a isso, fica esse declive na jornada.
Mirando e atingindo seu público cativo, Mamma Mia! Lá Vamos Nós De Novo consegue, novamente, ser um entretenimento eficaz, leve e cheio de diversão. Reclamar da apresentação não vai afastar ninguém de voltar ao cinema para cantar músicas que marcaram época e que, assim como o hotel que passa de Donna para Sofia, são um tipo de herança de uma geração para outra. Há momentos que tocaram pessoas diferentes de maneiras diferentes e aí está o grande trunfo do filme. A decepção fica apenas para quem espera uma grande importância de Cher na trama – o que não prejudica o andamento, mas pode ser um banho de água fria em tanto calor emitido pelo filme.
Elenco
Lily James
Amanda Seyfried
Pierce Brosnan
Dominic Cooper
Colin Firth
Andy García
Stellan Skarsgård
Julie Walters
Christine Baranski
Cher
Meryl Streep
Direção
Ol Parker
Roteiro
Ol Parker
Argumento
Catherine Johnson
Ol Parker
Richard Curtis
Baseado em
Mamma Mia! (Catherine Johnson)
Fotografia
Robert Yeoman
Trilha Sonora
Anne Dudley
Benny Andersson
Björn Ulvaeus
Montagem
Peter Lambert
País
Estados Unidos
Reino Unido
Distribuição
Universal Pictures
Duração
114 minutos
Cena Extra
Depois da morte da mãe, Sophie resolve juntar forças e fazer uma festa de reinauguração do hotel que foi sua casa por anos em homenagem a Donna. Enquanto enfrenta os próprios desafios, ela relembra histórias da mãe e seu caminho até aquele lugar.
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