Logan | Crítica | Logan, 2017, EUA

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Mais que um filme de ação, Logan é o fruto do amadurecimento do gênero de super-heróis dos quadrinhos.

Logan (2017)

Elenco: Hugh Jackman, Patrick Stewart, Richard E. Grant, Boyd Holbrook, Stephen Merchant, Dafne Keen | Argumento: James Mangold | Roteiro: Scott Frank, James Mangold, Michael Green | Basedo em: Wolverine (Roy Thomas, Len Wein, John Romita, Sr.) | Direção: James Mangold (Wolverine: Imortal) | Duração: 135 minutos

Nota 10 - um Tigre no cinemaLogan não é como sua fonte original, Velho Logan (Old Man Logan): é uma construção de um personagem que cresceu e amadureceu ao longo de dezessete anos. É um filme cheio de ação, dor e tristeza, mas também com uma sensação de satisfação, algo que está no cerne de um ator cuja história se mescla com o personagem. Se por um lado existem obras inspiradas em quadrinhos que vivem pela diversão – o que não é certo ou errado – a última aparição de Wolverine com essa cara que estamos acostumados é a chegada à vida adulta do gênero que o próprio protagonista ajudou a revitalizar em 2000.

Em determinado momento do segundo ato, Logan (Jackman) tem uma rápida discussão com Charles Xavier (Stewart) sobre ajudar ou não alguém. O diálogo é marcante e fala sobre a situação do protagonista que foi tratado como um animal ou como uma arma: “alguém veio”, diz o antigo professor. Parem. Ênfase no alguém. Logan se esqueceu de como é se sentir como uma pessoa, alguém que pode se confiado e até mesmo amado. Nesse mundo novo de 2029 onde ele está mais frágil – notem como ele constantemene mancando – e finalmente lidando com a própria mortalidade. Algo lento e doloroso como a câmera de Mangold mostra ao passear devagar pelas feridas, pus e cicatrizes do personagem até outro dia invulnerável.

Pode ser um choque assistirmos o que garras de adamantium podem fazer de verdade, considerando que em todos os outros nove filmes da franquia X, os cortes de Logan eram limpos ou simplesmente não apareciam. Com menos de cinco minutos dá-se o clima violento e sujo que se estende pelo resto da narrativa. E até mesmo o problema do protagonista em lidar com jovens – mesmo que no caso esses jovens estejam mexendo com quem não deve. E para contar a história de Logan e desenvolver melhor seu personagem, a história deixa pontas para, talvez, serem contadas num futuro próximo: ainda não sabemos exatamente o destino dos outros mutantes ou como Logan conseguiu suas garras de metal de novo depois dos eventos do filme anterior.

Assim como é triste ver um Logan tão fragilizado é terrível presenciarmos um Charles cativo física e metaforicamente. Pode ser engraçado no começo, mas na verdade é preocupante ver um homem tão culto e calmo mudar seu jeito de falar, usando uma série de palavrões para se dirigir ao antigo aluno. E nesse cenário sem vida que homenageia o gênero do western é que o agora velho Logan, já que a alcunha Wolverine é abandonada, que a ação vem galopando junto com o drama. A classificação indicativa R nos EUA não vem apenas pela contagem de corpos (que é bem grande) e do sangue derramado, mas sim por causa de Laura (Keen), uma personagem tão misteriosa quanto o próprio Logan.

A história também trata do problema de comunicação. Xavier está doente e não consegue usar seus poderes como antes; Logan o ama, mas não sabe como lidar com o professor, a única figura paterna que teve, além de sedá-lo; e com Laura há uma metáfora nessa falha de comunicação quando ela começa discutir em espanhol e Logan em inglês. Esses três que embarcam numa road trip são uma família especial, como Charles diz num momento de descanso. Mas ainda assim, uma família. Então, mesmo com a carnificina que acontece, esse é o primeiro filme da franquia X com um tom humano e por isso que Mangold usa algum tempo da história para contar um encontro que esses três têm com outra família que tem seus próprios problemas.

Para fazer um paralelo, esse filme está para Wolverine como O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008, Christopher Nolan) está para o Batman: é uma história que lida com a humanidade do personagem, é sombrio e um tanto sem esperança. Creio que não há elogio melhor para o que Magold fez. Logan pode não ter um Batmóvel, mas a sua limusine de trabalho faz esse papel – e se levarmos em conta os corpos deixados para trás, o veículo poderia ser também um carro funerário. Porém não precisamos nos alongar tanto nessas comparações – é apenas para colocar medidas da importância que o novo filme tem para a franquia X. Talvez não agrade os fãs mais puristas, mas o cinema – as artes, em geral – também tem a missão de confrontar, fazer pensar, tirar a gente um pouco da zona de conforto.

É reconfortante notar que a produção funciona inclusive nas metáforas que ganham vida literalmente. A primeira é o uso de slow-motion. Qualquer um que gosto do cinema de ação sabe que o efeito é usado para darmos mais atenção às cenas de grande impacto para que possamos passar por todos os detalhes. Aqui, porém, o diretor e roteiristas inserem o efeito na narrativa para que a técnica não seja apenas sentida pelo espectador, mas também pelos personagens – e sabendo que o efeito seria cansativo, Mangold só o usa duas vezes. A outra metáfora fica por conta de enfrentar os próprios demônios: mas entregar além disso é estragar uma das surpresas do filme.

Logan é filme de ação dramático, uma homenagem ao western, um filme que preza pelo desenvolvimento de personagens e que quebra alguns estereótipos dos filmes baseados em histórias em quadrinhos e até de grandes nomes de filmes de ação. Mesmo que o filme tenha inspiração no que Christopher McQuirre e Darren Aronosfky queriam para Wolverine, além de pouquíssimos elementos da história em quadrinhos de 2010, Mangold e os outros dois roteiristas trouxeram uma visão muito interessante desse personagem que sempre vimos como solitário, como aquele cowboy que cumpre sua missão e vai embora caminhando ao crepúsculo. E se esse for o ocaso do personagem nos cinemas, ele vai embora deixando uma marca profunda que até dói – e não será esquecida.

Logan concorre ao Oscar 2018 na categoria Melhor Roteiro Adaptado (Scott Frank, James Mangold e Michael Green).

Logan | Trailer

Logan | Pôster

Logan | Cartaz

Logan | Imagens

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Créditos: Divulgação

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Logan | Sinopse

O ano é 2029. Um já cansado Logan (Jackman) cuida de um doente Professor Charles Xavier (Stewart) num mundo onde os mutantes estão praticamente extintos. Apesar de tentar esconder-se do mundo, aquele que já foi chamado de Wolverine é tirado de sua aposentadoria por causa do aparecimento de uma jovem mutante e um grupo armado que a persegue por um motivo que ainda não sabemos.

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".