Fica Mais Escuro Antes do Amanhecer | Crítica | 2018
Fica Mais Escuro Antes do Amanhecer fala sobre a dor da perda, mas só faz perder o espectador numa viagem poética, mas sem sentido.
Pessoas diferentes lidam com perdas de maneira diferentes. Até onde consegui pesquisar, o agora diretor Thiago Luciano não passou por uma tão grande para se inspirar no seu Fica Mais Escuro Antes do Amanhecer, mas se a intenção dele era passar para a plateia a agonia da depressão, conseguiu. De maneira equivocada. Ao invés de sofrermos com os personagens, sofremos por simplesmente estar naquela experiência onde o diretor faz analogia com doces, usa linhas do tempo diferentes para não ser mainstream e ser mais poético do que literal, deixando uma marca de quem tentou ir pelo caminho mais difícil de contar uma história e se atrapalhou completamente na jornada.
Luciano apresenta um filme na máxima de Glauber Rocha, mas com trinta minutos de projeção, ainda não conseguimos entender o que o diretor quer com seu protagonista. Ao abordar o tema da perda e da depressão de maneira tão aberta, a história perde sentido. A justificativa de Iran (Luciano) é que as memórias são assim, não ordenadas de maneira cronológica, e que elas vêm puxando uma a outra não necessariamente na ordem que aconteceram. Mas narrativamente um ir e ver estranho, inspirado em cineastas como Terrence Malick, mas com um simbolismo que se coloca em detrimento à história que quer contar.
Com cara que funcionaria mais como curta do que como um longa-metragem, a coleção de memórias de Iran sobre a tragédia dele e da esposa Lara (Ramos) se perde entre essa costura de tempo, ficando em segundo plano. A história sempre é mais importante e ainda que a intenção dada por um dito experimentalismo, o filme não é comunicável. A cena mais emblemática desse assunto, e que com certeza qualquer um que passou pela experiência vai lembrar, é a comparação que Luciano (Ciocler), chefe de Iran, dá sobre como seria que o marrom-glacê se sente. Quando o chefe pergunta se o funcionário entendeu a metáfora, ele diz sim, mas claramente não é verdade.
É a mesma coisa com a audiência. Avançando um pouco mais, não conseguimos encontrar sentido naquele ambiente estranho para nós, com seus próprios costumes, diálogos desencontrados – literalmente, não dá para entender sobre o que eles estão falando em muitos momentos – nesse lugar sem tempo e uma tecnologia básica. Que, por algum motivo, tem uma fábrica de gelo de maquinário moderno que está lá apenas para fazer jus à empresa que promove o filme, onde o product placement é tão descarado que em alguns momentos podemos ver o número de telefone deles, só no caso de o espectador sentir a necessidade de fazer algum pedido.
Se fosse para indicar a frieza do personagem, seria um cenário compreensível. Mas não, ele serve como um prenúncio falso da pequena era de gelo que se avizinha desse lugar imaginário, um lugar que serve da metáfora da perda, com altos e baixos (do frio vai ao calor extremo), luz e sombras e personagens que não parecem fazer parte da nossa realidade. Essa é a parte do filme que funciona, onde a metáfora é mais forte e, por isso, compreendida. Nesse lugar sem nome onde um evento apocalíptico se aproxima, alguns personagens não têm força para sair daquela situação, conseguindo apenas ver o sol se por e sem perspectivas para sair da escuridão.
Mesmo assim, compreendendo a mensagem de dor e perda, é difícil entender porque Luciano escolheu essa abordagem. Ao misturar muitas simbologias com uma estrutura difícil de ser acompanhada, a sua produção tenta se destacar somente por causa dessa base. E quando conseguimos montar essas peças na nossa mente, percebemos a fragilidade dela, pois é nisso que ela se mantém. Então, o que fica preso na nossa memória é mais a maneira que a história é apresentada do que a história em si. E isso é muito perigoso, porque é, de certa maneira, o que filmes como muitos efeitos especiais fazem, nos desviando de problemas internos que não sustentam uma história.
Falta experiência para Luciano descontruir linhas narrativas – o próprio Malick levou anos para fazer isso – e repetindo cenas sem necessidade, Fica Mais Escuro Antes do Amanhecer se assemelha mais à um projeto de faculdade de cinema sem um produtor que colocasse um pouco de senso no diretor. A história confusa e cheia de metáforas (a versão que chega aos cinemas tem 20 minutos a menos que a da Mostra Internacional de São Paulo) beira a soberba, como se o diretor apontasse para nós depois da projeção dizendo “vocês não estão entendendo nada”. Porém, há pouco para entender nessa história sobre depressão que ao fazer uma viagem tão longa, se perdeu no meio da jornada.
Elenco
Caco Ciocler
Lucy Ramos
Thiago Luciano
Kadi Moreno
Imara Reis
Walter Breda
Beto Schultz
Danilo de Moura
Domingos Meira
Danny Olliveira
Dartagnan Jr.
Direção
Thiago Luciano
Roteiro
Thiago Luciano
Fotografia
André Besen
Montagem
Fernanda Cardozo
Thiago Luciano
País
Brasil
Distribuição
02 Play
Duração
100 minutos
Acompanhamos a vida de Ivan por seu próprio ponto de vista numa visão fragmentada de seu passado e como uma grande perda afetou sua vida. Enquanto isso, ele e os outros moradores de uma pequena cidade se preparam para um evento um evento climático que deixará a cidade numa escuridão eterna.
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