Crimes em Happytime | Crítica | The Happytime Murders, 2018
A homenagem bizarra ao noir de Crimes em Happytime tenta se destacar por seu tom adulto na comédia, mas é uma trama muito simples para quem quer atingir.
Em geral, a função primordial da comédia é fazer rir, mas no caso de Crimes em Happytime, há um elemento de crítica social. Claro que não poderíamos dizer que o filme seria feliz nessa decisão se fosse marcado dentro desse gênero e não tirasse pelo menos um sorriso do nosso rosto – e há muitos motivos para gargalhar na trama de Henson. Entre homenagens aos detetives hard boiled e o noir, a produção usa da comédia para fazer piada com um assunto sério do racismo, mostrando uma sociedade que faz parte do que podemos chamar de espelho da nossa, onde uma população toda é vista com mais olhos por simplesmente serem o que são.
Essa primeira camada dos fantoches como uma subsociedade é a parta mais óbvia da trama e, aos olhos de Phil Phillips (Barretta), é algo inaceitável. Porém, ele cínico como qualquer detetive que o inspirou, está mais preocupado em pegar o próximo caso para poder pagar suas contas e vivendo um dia atrás do outro, e uma bebida atrás da outra. Para quem está acostumado com os clássicos, não falta a femme fatalle na pele – ou melhor, pelúcia – de Sandra White (Davies) e é por esse motivo que a parte investigativa da história se torna um tanto óbvia, o que nos faz questionar cada decisão cretina do FBI em relação aos assassinatos que se seguem.
No entanto, esse não é só um filme de detetives, mas também uma comédia. Apesar de Phil ser o arquétipo do homem sem futuro que vemos em produções como Pacto de Sangue (Double Indemnity, 1944, Billy Wilder) , a história ganha tons descontraídos com as bizarrices dos atos performados pelos bonecos e a presença expansiva da Detetive Connie Edwards (McCarthy) – que pela sua postura parece ser a irmã perdida da personagem que a atriz interpretou em As Bem-Armadas (The Heat, 2013, Paul Feig). Entre bebidas, mulheres e o clima noir, há uma quebra para que, ali no fundo, o diretor consiga fazer uma crítica àquilo que o incomoda.
O racismo está na aura desse filme, como uma parte de uma sociedade ou se adapta para ser aceita ou sofre as consequências do esquecimento: o irmão de Phil passa por um processo para alvejar a pele azul e faz uma plástica no nariz para parecer mais humano; outros personagens se ligam ao crime ou se perdem nas drogas. Até Jenny (Banks) sofre disso, mesmo sendo humana. É como se ela carregasse um estigma, e uma das poucas opções que sobrou para ela foi ganhar a vida como dançarina burlesca num antro que rende sim boas piadas, mas é deprimente por si só.
Infelizmente, a história se perde quando vai criar elos para essa investigação. Tanto as situações quanto a ineficiência da força policial e do FBI são convenientes demais. Provavelmente, Henson e Berger queriam fazer a trama a mais simples possível em nome do dinamismo. O que conseguem, porém, é entregar uma trama beirando a preguiça. Todas as vezes que Phil ou Connie poderiam fazer a diferença eles estão ocupados com barulhos ou outro impedimento que foi colocado ali convenientemente para que a investigação seja toda dúbia. Para tentar compensar, a dupla abusa nas piadas adultas e regadas à sexo e o uso de drogas – mesmo que seja o açúcar em alguns momentos.
Se esse for o primeiro filme do gênero para quem assiste, pode chegar a se questionar das motivações e quem é o culpado entre uma piada e outra envolvendo fluidos corporais e uso de drogas. É muito improvável, já que a homenagem é tão grande e tão óbvia que ela até perde o sentido se quem for assistir não tenha o mínimo de conhecimento prévio disso. Mas não deixa de ser a intenção de Henson ao forçar a comédia, numa esperança de quem tenha caído de paraquedas na sala de cinema no mínimo ache engraçado Jenny descascando uma cenoura e pensando no paralelo disso no nosso mundo real.
Há ao menos uma quebra de paradigma quando Phillip se envolve numa enrascada e precisa contar com um relutante Connie, que ainda não confia totalmente na capacidade policial do fantoche, e de Bubbles (Rudolph), que sai detrás da escrivaninha de secretária do detetive para deixar de fazer um trabalho literalmente sujo para um metaforicamente sujo, o que dá a chance de mostrar que ela não é apenas um sorriso bonito. Quando essas duas improváveis se unem é que acontece a parte mais interessante da trama, e é uma pena que ela acabe tão rápido, relegando rapidamente Bubbles ao seu papel terciário na trama e que só faz o que faz por uma paixão pelo chefe – e outro filme que não passa no teste de Bechdel.
Então, dentro de uma obviedade gigantesca e um tom de comédia que é engraçado, mas não mais que três ou quatro momentos, Crimes em Happytime pode surpreender pelo inesperado que é ver marionetes fazendo coisas que os humanos fazem, mas num nível mais maluco. Dentro da parte do mistério, as pistas aparecem tarde, como se o diretor quisesse nos desviar a atenção do verdadeiro culpado, mas essa distração é uma quebra tão grande na narrativa do filme que fica difícil ignorá-la. Entre uma risada e outra, o que resta é esperar que a piada seguinte seja boa para que pelo menos elas façam jus à ida ao cinema. O que não deixa a produção esquecível e a inesquecível cena envolvendo uma lula e uma vaca – isso sim não vai sair da sua cabeça.
Elenco
Melissa McCarthy
Bill Barretta
Maya Rudolph
Joel McHale
Elizabeth Banks
Direção
Brian Henson
Roteiro
Todd Berger
Argumento
Todd Berger
Dee Austin Robertson
Fotografia
Mitchell Amundsen
Trilha Sonora
Christopher Lennertz
Montagem
Brian Scott Olds
País
Estados Unidos
Distribuição
STX Entertainment
Duração
91 minutos
Cena Extra
Num mundo onde fantoches e humanos convivem, alguém está assassinando os membros de um elenco de um famoso show de TV. O Detetive Phil Phillips deve se juntar a antiga parceira da polícia, Connie Edwards, antes que o assassino consiga completar seu plano.
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