A Caminho de Casa | Crítica | A Dog’s Way Home, 2019
Querendo ser pouco coisa além de adorável, A Caminho de Casa é extremamente óbvio, mas com potencial de agradar todo os humanos de cachorros por aí.
A Caminho de Casa é exatamente o que se espera dele: uma trama que não foge da obviedade, cheia de um didatismo praticamente infantil e completamente adorável – e o diretor assume que não consegue de fazer algo mais profundo, um filme aventura nos mesmos moldes de outros filmes dos anos 1980 e 1990 com protagonistas animais querendo voltar para casa. A direção abusa de elementos como a narração e a música para deixar a obra mais palatável, o que prejudica o ritmo e mostra a insegurança de Smith de confiar que o público entenda pelo que a protagonista passa. Se serve para algo mais, é sair correndo querendo abraçar o seu cachorro.
O filme é todo de Bella (Howard), que conta para audiência toda sua vida desde que se conhece por gente. Ou melhor, por cachorro. Logo de cara, a história passa uma mensagem sobre pobreza e integração, pois onde a pequena vive com seus irmãos e mãe, existem também gatos. Apesar de não ficar claro quem cuida e alimenta todos os bichos antes da chegada de Lucas (Hauer-King), aquele momento pueril, visando claramente os mais jovens, é onde o filme ganha ar de uma parábola. Embaixo daqueles escombros se formou uma sociedade que não abandou ninguém. Ou, se preferirem, Smith diz que bicho é melhor que gente.
Há um problema evidente dessa narração off para reforçar que a trama é o ponto de vista de Bella. Em alguns momentos, o diretor coloca a câmera em posição bem baixa, como encarando Lucas ao agradar a cachorrinha com algum petisco, o que é um jeito muito mais eficaz de mostrar o mundo pelos olhos da protagonista. A trilha sonora também incomoda por não deixar a audiência em paz nenhum momento, nem quando o silencio é essencial nos momentos em que Bella é caçada por lobos, por exemplo. Além disso, é bem bizarro olhar nos olhos digitais da protagonista ou quando a cachorra de verdade é trocada por um personagem digital, pois não parece que ela faz parte daquele mundo.
Ainda na toada de ser um grande conto de fadas, por mais que existam relatos de animais que cruzam estados atrás de seus humanos, a história baseada na obra de Cameron – que também assina o roteiro – mostra não só o caminho de Bella, mas o caminho da própria humanidade. De novo, um tanto óbvio, mas veja essa história sendo apresentada para uma criança e a oportunidade que os pais têm em mãos quando a cadela descobre que existe gente boa e ruim nesse mundo. Podemos ser muito exigentes com filmes que não são pensados para um público mais calejado, mas obras assim podem servir como ponto de discussão para as crianças.
Pelo menos há um momento de bom cinema na trama por Smith entender que esse é um filme de Bella. Então, quando a cadela foge da casa adotiva para procurar seu humano, não há mais a presença de Lucas e o personagem é sacado da narrativa por uma boa parte do filme. Essa é uma solução muito elegante, e fora uns poucos flashbacks e um sonho da protagonista, leva ao máximo a questão do ponto de vista. Isso é uma boa saída por dois motivos. Um por não se apoiar demais na muleta narrativa desse recurso clássico e, em segundo lugar, dá um pouco mais de dinamismo ao filme. Uma pena que as narrações fazem o contrário.
Outro exemplo dessa narrativa que se estica demais é quando colocam a mãe de Lucas, Terri (Judd), e outros personagens terciários como veteranos de guerra. É uma puxada ufanista bem desnecessária, com um resultado que seria alcançado com personagens com qualquer outro passado – além disso, salvaria alguns minutos na trama para que a história fechasse com aqueles necessários minutos a menos para as crianças que estão assistindo. Já a graça fica pelos perigos, diversões e situações que Bella encontra, desde as brincadeiras com Lucas, que parecem tanto coisa de desenho animado quanto aquelas que você tem com seu bicho de estimação, até às desventuras que colocam a coragem da personagem à prova.
Mesmo com pouco a dizer para os mais experientes, A Caminho de Casa tem só algumas preocupações, sendo elas aquecer corações e não ser ofensivo para ninguém, o que é uma coisa bem difícil nesses tempos em que o nosso mundo parece doente e maluco. Isso é visto pela inclusão de não apenas um, mas dois casais interraciais – um homossexual, inclusive – gente em cadeira de rodas e com excluídos da sociedade, com um personagem sem teto que uma das poucas vezes que a trama adquire um tom mais crítico. Além disso, a produção não se arrisca além de deixar o espectador com vontade de ir brincar mais uma vez com essas criaturas que dão tanto e pedem tão pouco em troca. O que pode ser suficiente, dependendo de como encaramos a experiência.
Elenco
Bryce Dallas Howard
Ashley Judd
Jonah Hauer-King
Alexandra Shipp
Wes Studi
Edward James Olmos
Direção
Charles Martin Smith
Roteiro
W. Bruce Cameron
Cathryn Michon
Baseado em
A Dog’s Way Home (W. Bruce Cameron)
Fotografia
Peter Menzies Jr.
Trilha Sonora
Mychael Danna
Montagem
Debra Neil-Fisher
David S. Clark
Sabrina Plisco
País
Estados Unidos
Distribuição
Sony Pictures
Duração
96 minutos
Data de estreia
28/fev/2019
Bella é uma cadela que enfrenta uma grande jornada para se reunir de novo ao seu humano, Lucas, enfrentando todo tipo de percalços nos 400 km que os separam.
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