Capitã Marvel | Crítica | Captain Marvel, 2019
Com momentos que lembram as produções anteriores de seu universo, Capitã Marvel se destaca mais pela mensagem e carisma da personagem do que pela trama.
Negar a importância de Capitã Marvel quando pensamos na questão da representatividade é algo inaceitável – o que é diferente de falar da qualidade do filme. A nova produção da Marvel Studios tem tanto os bons momentos que fizeram outros filmes memoráveis quanto outros que lembram suas partes mais fracas. Sem a intenção de ser um ponto de virada nos projetos dos estúdios, que se mostram bem estabelecidos há alguns anos, a nova aventura introduz outra personagem carismática, importante para a parcela feminina, que também acompanha as aventuras desses super-seres. Mesmo que o resultado seja um tanto morno, o que significa grandes coreografias, com um humor presente quando necessário e um tanto de drama para alguma profundidade.
Uma vantagem da história com tantos roteiristas e argumentistas é que eles se valem do conhecimento prévio do Universo Cinemático Marvel. Com isso, a história de Vers/Carol/Capitã Marvel (Larson) é dinâmica ao não começar como um filme de origens tradicional, apesar de isso acontecer eventualmente. Primando pela ação, conhecemos uma personagem que ainda está incerta de seu lugar no universo e que é contida por seu mentor, Yon-Rogg (Law), e pela Inteligência Artificial (Benning) do planeta dos Kree. Isso faz com que a aventura comece logo, com pouco espaço para abordar outros temas. Isso também se torna um problema.
Assim como acontece em tantos outros filmes do estúdio – e um mal bem comum dos filmes de ação, sejamos justos – a confiança de Fury (Jackson) com a recém-chegada soldado do império Kree é dada de maneira muito rápida, nem parecendo o personagem desconfiado que vemos, por exemplo, em Homem de Ferro 2 (Iron Man 2, 2010, Jon Favreau), mesmo já conhecendo quem era o homem por dentro da armadura. E essa correria em nome da dinâmica faz que a história corra não só no passar do tempo real, dentro do cinema, mas na própria trama. Um ato desencadeia no seguinte sem termos tempo para digerir a parte seguinte. Um descanso só vem quando entendemos melhor os planos de Talos (Mendelsohn) – e mesmo aí a crença da Capitã Marvel é muito fácil.
Porque fora um questionamento de Fury, ainda achando tudo aquilo uma loucura, se Carol seria ou não quem ela diz ser, as relações são apresentadas rápidas demais. Apesar desse filme ser um tanto independente dos demais – é possível aproveita-lo sem nenhum conhecimento dos outros 20 –, é difícil aceitar que a protagonista e um homem que já era um Coronel ao menos não perguntassem a autenticidade de uma gravação de uma caixa preta, um elemento que muda tanto a direção do filme que deveria no mínimo ser alvo de maiores questionamentos. Pois mesmo para uma raça de transmorfos, a solução foi simplória.
Porém não podemos deixar de passar a tentativa bem-sucedida da história dirigida por Boden e Fleck em criar uma trama com elementos políticos. Ambientada no começo dos anos 1990, num mundo que ainda vivia o fantasma da Guerra Fria, os Kree apresentam os Skrulls como grandes inimigos que poderiam estar infiltrados em qualquer lugar, como aquele grande medo vermelho de que a ameaça comunista viria para mudar nosso estilo de vida. É um bom ponto de partida para endereçar outro momento do nosso tempo, a crise imigratória, algo já abordado em Thor: Ragnarok (2017, Taika Waititi). E se juntarmos o fato da personagem feminina tão desacredita por pais, colegas e o mesmo seu governo, temos um pequeno compêndio de assuntos importantes para nós como sociedade.
Então, sim, esse é um filme de lutas, tanto literárias quanto simbólicas. Carol tem sempre algum freio, representado por Yon-Rogg, os grilhões quando é capturada pelos Skrulls ou mesmo seu passado nebuloso por boa parte do filme. Por isso é importante focar nesse recado, e claro que é mais importante ainda ser uma personagem mulher que seja um resumo para tantas outras machucadas ou desacreditadas por ações ou palavras. Há tantas algemas que elas precisaram quebrar e essa produção vem como uma celebração disso, dando mais uma heroína como espelho e, como a própria Capitão Marvel diz, sem precisar provar nada a homem nenhum.
Outro ponto positivo para reforçar essa característica da Capitão Marvel é deixa-la ser Carol. Há uma cena muito emblemática no filme que contrasta com a recém-descoberta extensão dos poderes da protagonista. Poderia parecer que depois de praticamente duas horas de filme, mostrar Fury e sua mais nova aliada lavando louça – além da simbologia simples de divisão de tarefas – ser um tanto fútil ou até inútil na trama. Mas são momentos assim que tiram a soldado da esfera de super para a humana, o que faz uma conexão mais forte dela com audiência. Claro que há um humor intrínseco em momentos assim, mas não deixam de ser notados.
Por outro lado, o filme parece uma colagem dos outros do UCM. De novo, o humor, o próprio retorno de personagens secundários de outros filmes – o que faz inclusive um retcon bem forçado – e até elementos que lembram como os outros heróis do panteão da Marvel ganharam seus poderes, sendo o primeiro que vem à mente é a origem do Hulk, fazem a trama voltar àquele estado mais básico da Marvel, numa zona de conforto parecida com o primeiro filme do Homem-Formiga (Ant-Man, 2016, Peyton Reed). Podemos até dizer que depois de dez anos de filmes, a fórmula do estúdio sabe o que faz, mas é impossível deixar de ver as sombras das outras produções.
E falar da qualidade técnica seria tão clichê quanto os elementos que Capitã Marvel incorpora das produções anteriores. Apesar da mensagem de empoderamento e representatividade suplantar essa sensação de déjà-vu, é praticamente impossível para um iniciado no Universo Cinemático Marvel não perceber esses paralelos. No geral, as aventuras solos dos personagens do mundo dos Vingadores costuma ser mais interessante que as de quando o grupo se reúne para salvar o mundo, o que se repete aqui só em parte. A vantagem é que o filme introduz uma personagem interessante e fresca para ser desenvolvida – e talvez seria bem melhor se ela tivesse tanto tempo quanto seus pares homens para fazer isso antes do Ultimato.
E, como sempre, não saia antes dos créditos!
Elenco
Brie Larson
Samuel L. Jackson
Ben Mendelsohn
Djimon Hounsou
Lee Pace
Lashana Lynch
Gemma Chan
Annette Bening
Clark Gregg
Jude Law
Stan Lee
Direção
Anna Boden
Ryan Fleck
Roteiro
Anna Boden
Ryan Fleck
Geneva Robertson-Dworet
Argumento
Nicole Perlman
Meg LeFauve
Anna Boden
Ryan Fleck
Geneva Robertson-Dworet
Baseado em
Capitão Marvel (Stan Lee, Gene Colan)
Carol Danvers (Roy Thomas, Gene Colan)
Fotografia
Ben Davis
Trilha Sonora
Pinar Toprak
Montagem
Elliot Graham
Debbie Berman
País
Estados Unidos
Distribuição
Walt Disney Pictures
Duração
124 minutos
Data de estreia
7/mar/2019
Cena Extra
A raça dos Kree está anos em luta contra os metamorfos Skrull. Durante uma missão, a soldado Vers é capturada pelo líder dos Skrulls que busca uma informação muito especial. Esses eventos os levaram ao planeta Terra, um lugar que parece muito familiar para a protagonista.
[críticas, comentários e voadoras no baço]
• email: [email protected]
• twitter: @tigrenocinema
• fan page facebook: http://www.facebook.com/umtigrenocinema
• grupo no facebook: https://www.facebook.com/groups/umtigrenocinema/
• Google Plus: https://www.google.com/+Umtigrenocinemacom
• Instagram: http://instagram/umtigrenocinema
• Assine a nossa newsletter!
Apoie o nosso trabalho!
Compartilhe!
- Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Twitter(abre em nova janela)
- Clique para imprimir(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Tumblr(abre em nova janela)
- Mais