7 Dias em Entebbe | Crítica | 7 Days in Entebbe, 2017
Em tempos de extremismos e o mal que eles causam, 7 Dias em Entebbe serve como estudo de caso, tentando mostrar o que faz alguém se tornar um terrorista.
Entrar na mente de alguém capaz de atos de violência, mesmo que essa pessoa acredite que queira fazer o bem, é um desafio. Como descobrir as nuances sem a devida ponderação e sem cair em maniqueísmos é igualmente difícil. 7 Dias em Entebbe joga uma luz nessas perguntas, revisitando um caso que é pouco lembrado, mas que ainda encontra ecos na relação no mínimo espinhosa entre Palestina e Israel. Em tempos de extremismos, onde preferimos ignorar o outro lado ao invés de ouvi-los, Padilha e Burke tentam entender como é possível falar de soluções enquanto se aponta uma arma para inocentes e como arte e a vida estão ligadas.
A primeira cena do filme causa estranheza: o ensaio de uma companhia de dança israelense é assistido por um soldado (Schnetzer). O olhar dele, fixo na namorada que está no palco é marcante por aquele ser, assim saberemos, o ultimo olhar de paz do personagem, o último vislumbre de algo belo. E Padilha imprime na sua narrativa um grande dinamismo, pois logo depois já estamos com os sequestrados do voo da Air France por agentes da Frente Popular para a Libertação da Palestina. Cortes rápidos e viagens ao passado por flashbacks para conhecermos os momentos-chave que selaram a decisão Wilfried (Brühl) e Brigitte (Pike) farão parte da narrativa.
Essa é a típica produção que tirará extremistas raivosos de seus buracos: uns dirão que é uma história sionista, outros que é uma defesa de terroristas. É verdade que a história humaniza os dois alemães que fazem parte das ações da FPLP – Wilfried parece ter um problema que debilita sua saúde e Brigitte está sempre precisando de uma pílula de conteúdo não-definido -, o que serve para dizer, isso na visão do diretor, que sempre existe uma motivação por trás de tudo. Aqui, é ideológica. E mesmo assim, os conflitos se escalam ao ponto dos próprios terroristas divergirem nas decisões tomadas.
Assim como em Tropa de Elite, é difícil jogar as posições de vilões nessa produção – quer dizer, não há um personagem que possa ser taxado assim. Não é nada muito claro, podemos apontar apenas que há protagonistas e seus antagonistas, mas sem juízo de valor. Existem sim agentes corajosos, pois o que menos poderíamos dizer dos soldados israelenses que invadem Uganda enfrentando soldados da tropa de Idi Amin (Anozie), esse sim tratado como detestável, numa missão que poderia acabar em tragédia? Há então uma corrida contra o tempo, decisões no campo político e um ar que mostra uma situação de sequestro inédita, e a insegurança paira no ar, tanto de um lado como o de outro.
No fim, quem sofre, assim como o mais conhecido filme do diretor, é quem fica no meio. Os sequestrados desenvolvem síndrome de Estocolmo, ou simplesmente se agarram na esperança de que Israel não negocia com terroristas, mas fica claro que a cada momento que eles podem apenas esperar decisões políticas. O embate entre o Primeiro-Ministro de Israel Yitzhak Rabin (Ashkenazi) e de Shimon Peres (Marsan) é um retrato de opiniões, um nada fácil. Os dois se opõe elegantemente na situação, mas Peres é claramente alguém mais de ação, enquanto Rabin tenta ser diplomático. Independente de ser verdade ou não, eles foram colocados em posições opostas naquele momento, mas depois da morte de Rabin em 1995, Peres encarou as tentativas de paz com os Palestinos.
Hoje, há políticos que se dizem outsiders, mas o que 7 Dias em Entebbe mostra é que tudo é política, e se não soubermos como lidar com ela, nos tornaremos reféns de quem tem a caneta. Até a publicação dessa crítica, e acredito por muito tempo depois, não existem negociações de paz entre Palestina e Israel – há apenas pessoas tomando um lado sem querer ouvir o outro. A situação hoje pode não envolver grandes sequestros, mas a situação é tão tensa quanto, com jogadores tão poderosos que nos acabam nos colocando na mesma posição daqueles reféns em julho de 1976: podemos apenas observar e esperar que tudo acabe bem.
Elenco
Rosamund Pike
Daniel Brühl
Eddie Marsan
Ben Schnetzer
Lior Ashkenazi
Denis Ménochet
Direção
José Padilha (Robocop)
Roteiro
Gregory Burke
Fotografia
Lula Carvalho
Trilha Sonora
Rodrigo Amarante
Montagem
Daniel Rezende
País
Estados Unidos
Reino Unido
Distribuição
Focus Features
Duração
107 minutos
Em julho de 1976, terrorista da Frente Popular para a Libertação da Palestina sequestraram um avião da Air France e foram com os reféns até Uganda. Eles exigiam libertação de presos políticos, enquanto Israel não estava disposta a negociar. O filme dramatiza a missão de resgate em solo controlado por um ditador e sem certeza nenhuma de sucesso.
Veja a entrevista com o diretor José Padilha sobre 7 Dias em Entebbe!
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