Quarteto Fantástico | Crítica | Fantastic Four, 2015, EUA
Ao não aprender com os erros do passado, o novo Quarteto Fantástico não percorreu o caminho para se tornar verdadeiramente fantástico.
Com Miles Teller, Michael B. Jordan, Kate Mara, Jamie Bell, Toby Kebbell, Reg E. Cathey e Tim Blake Nelson. Roteirizado por Simon Kinberg e Jeremy Slater, Josh Trank, baseado nos quadrinhos de Stan Lee, Jack Kirby. Dirigido por Josh Trank (Poder Sem Limites).
Se eu fosse supersticioso, diria que existe uma maldição envolvendo qualquer coisa ligada às versões cinematográficas de Reed Richards e companhia. Como não é o caso, o provável é que os produtores não conseguem olhar para trás e aprender com os erros do passado. E a prova cabal é o novo Quarteto Fantástico. Falta firmeza na direção, carisma na maioria dos personagens, é recheado de atuações que variam entre o fraco e o mediano e nem mesmo os efeitos especiais, que poderiam ser o carro chefe da produção, empolgam. A impressão final é que esse é um filme que serviu apenas para segurar os direitos da franquia na esperança que haja um sucesso comercial suficiente para que na continuação as coisas se acertem.
A princípio, existem bons elementos nessa produção que reinicia o Quarteto no universo Marvel/Fox, e o primeiro ato do filme é a melhor parte da história. Vemos que existe em Trank um lampejo do bom trabalho que ele havia apresentado em Poder Sem Limites (Chronicle, 2012), principalmente no modo que ele apresenta a ligação que os jovens Reed e Ben tem quando criança. Ele prefere mostrar elementos a discursá-los, como as marcas no rosto de Reed – provavelmente causadas pelo abusivo padrasto – e fazer a ligação logo em seguida com o futuro ser de pedra que leva alguns tabefes do irmão, que é uma situação similar. E, sejamos francos, que criança não se interessaria por algo tão legal quanto um transportador de matéria?
Outros elementos visuais que servem à narrativa são algumas coisas bem simples, como a fonte de energia do experimento inicial ser Nintendo 64, ou a passagem de tempo pela cura das feridas de Johnny Storm (Jordan). Já outros, nem tanto e pesam por seus clichês. Então, Ben Grimm (Bell) é o baixinho invocado, representação de alguém como O Coisa. E não que ele seja baixo de verdade (o ator tem cerca de 1,70m), mas Trank constantemente o faz parecer bem menor que seu já alto amigo Reed Richards (Teller, com 1,83m) que, por ser mais esticado em vários sentidos, já é a gênese dos poderes de elasticidade do Sr Fantástico. Johnny é o mais ousado, ou seja, vai pegar fogo como o Tocha Humana. E Sue Storm (Mara) se torna invisível por ser deixada de lado no plano dos colegas de atravessar para a outra dimensão – aliás, num tempo de representatividade, isso soa bem feio. E mal vale a pena falar de Victor von Doom (Kebbell). Sua atuação na normalidade é tão convincente quanto a da encarnação em Destino, que fica sem mover a boca para se expressar.
Depois, há uma preguiça irritante no roteiro escrito e reescrito. É um exagero – ou até um ex-machina, se preferirem – acreditar que uma mente proeminente quanto o Dr Franklin Storm (Cathey) estaria numa feira de ciências numa escola comum. E todos os portões interdimensionais levam ao mesmo lugar, não importam se eles foram feitos numa garagem de subúrbio ou numa grande instalação em Nova York? Assim como é bem difícil aceitar que a segurança do prédio Baxter seja próxima de zero, ao ponto de Reed tirar uma selfie e enviar pelo celular uma foto de um projeto que tenha a absoluta certeza estar numa ala se segurança máxima.
Você poderá notar uma mudança naquelas sutilezas que mencionei no começo, o que mostra como as várias mãos que escreveram o roteiro se atrapalham. Começam os diálogos explicativos – “você está em casa”, diz obviamente Ben para Reed –, e termos da ficção científica são jogados para o quarteto e audiência numa justificativa desnecessária. Na verdade, fica difícil entender porque o filme tenta fazer isso com alguns conceitos quânticos, e ignora quando seria hora de explicar como os poderes de cada um dos quatro funcionam.
Esse filme é uma mistura de muitos maus momentos com outros aproveitáveis. Temos mais ficção científica e menos ação, o que, por si só, daria um ar diferente a todos os filmes de heróis da Marvel que vimos até então, mas é muito pouco equilibrado. No curto filme, só há espaço para quinze minutos de aventura. E enquanto Trank consegue mostrar como Reed está sofrendo por tudo isso que está acontecendo – a transformação dos amigos, a provável morte de Doom – quando vemos que seu sorriso sumiu, há muitas sombras em seu rosto, mas ele ainda tem sinais da juventude como barba rala e espinhas, ele desperdiça toda essas qualidades para construir Destino. Enquanto explorador, ele é o cientista mais estúpido do cinema desde o biólogo de Prometheus (2012), e quando se torna o vilão louco, não dá pra acreditar na sua linguagem corporal, algo extremamente necessário para alguém que não consegue mais abrir a boca para falar ou piscar.
A falta de equilíbrio é a maior falha desse novo Quarteto Fantástico. Ainda que existam elementos interessantes como o fato de Sue ser adotada e que a questão dela ter um irmão negro é tratada com a naturalidade necessária, o elemento militar, atual e uma crítica ao momento que os EUA passam, falta aventura. Esse precisava ser um filme mais empolgante, com melhores efeitos especiais – O Coisa está sofrível, apesar dos efeitos do Sr Fantástico estarem bem-feitos -, e com melhores soluções para o desfecho. É muito óbvio que as ações solitárias não vão funcionar, então não era necessário que os heróis enfrentassem Destino um a um só para perceber que deveriam ficar unidos. É uma produção que mostra faltar muita estrada para que esse quarteto se torne fantástico.
Sinopse oficial
“Quarteto Fantástico é um reboot contemporâneo do time de super-heróis tradicional da Marvel, centrado em quatro jovens desajustados que são teleportados para um universo alternativo e perigoso, que altera sua forma física de maneiras inesperadas. Com suas vidas transformadas, o time precisa aprender a aproveitar suas novas habilidades e trabalhar junto para salvar o planeta de um inimigo já conhecido por eles.”
Veja o trailer de Quarteto Fantástico
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