X-Men: Fênix Negra | Crítica | X-Men: Dark Phoenix, 2019
A Franquia X encerra sua mais recente encarnação com Fênix Negra, mas não mostra a menor vontade de voltado para esse desfecho.
Para quem gosta de analogias, pense em X-Men: Fênix Negra como aquela festa do trabalho onde as pessoas só estão ali por obrigação. E num filme de ação, o mínimo que se espera são cenas que podemos nos empolgar e saltar da cadeira, nem mesmo isso nos é permitido nesse melancólico fim de uma saga iniciada em 2000 e reimaginada em 2011. Vemos claramente nas atuações, diálogos e sequências de um momento para outro que está tudo no automático, que ninguém está ao menos se divertindo e muito menos fingindo que dali poderia sair algo se não criativo, pelo menos com alguma alma. Aqui, o último capítulo da Franquia X não honra nem um pouco o legado.
Há uma tentativa por parte de Kinberg em fazer um filme emocional ao mostrar o papel do Professor Charles Xavier (McCavoy) no crescimento e desenvolvimento de Jean Grey (Turner), uma relação de pai e filha que ele não tem propriamente com outros X-Men. O professor fala de presentes e como eles podem ser usados para o bem, algo tirado de um livro de autoajuda, o que reflete o roteiro raso e previsível desse roteirista que está envolvido com o Universo X desde 2006. Menciono essa obviedade porque é possível prever cada resposta e até cada decisão de câmera que o diretor usa, o que tira a naturalidade da trama.
Ainda que possamos dizer que uma palavra como essa não se encaixa numa produção onde existem seres transmorfos, com a capacidade de disparar raios de plasmas dos olhos ou manipular o campo magnético do planeta, isso não é desculpa para a falta de vontade dos envolvidos. E uma produção no automático quebra a empatia com a plateia. E maior que o desafio de Jean controlar o poder que recebeu sem pedir é encontrar uma atuação marcante ou algum momento onde a ação compense a falta de carinho com personagens tão amados. De fato, é muito triste testemunhar esse desenvolvimento paupérrimo durante as quase duas horas de filme.
Se fosse apenas a dificuldade de expressão de Scott Summers/Ciclope (Sheridan) por ser difícil passar sentimentos sem vermos os olhos das pessoas, isso não se pode dizer dos outros personagens. A falta de cuidado com um universo já estabelecido passa também por decisões que não condizem com o que os X-Men acabaram de fazer ou a tentativa tacanha de transformar personagens naquilo que não são. Vejamos como a agora líder Raven/Mística (Lawrence) pensa na segurança dos jovens, mas não nega trazer um potencial perigo, e assim ameaçando todos a bordo, quando Kurt/Noturno (Smit-McPhee) traz Jean de volta para a nave, sendo que ela poderia estar radioativa.
E podemos continuar com personagens que desaparecem, como o coitado Peter/Mercúrio (Peters) que é ferido em combate, mas não morre, e simplesmente desaparece da trama. Se isso não é foi um erro de roteiro é então um grande problema de montagem. Há também a tentativa de transformar o Professor Xavier no vilão da história como se o que ele fez fosse algo condenável, forçando uma aproximação dele com o antigo Erik/Magneto (Fassbender) numa toada de os fins justificarem os meios. O pior fica reservado para Vuk (Chastain) que, ao ser definida como uma personagem sem sentimentos, traduz isso como sendo uma face sem expressão.
A clara inspiração em Vampiros de Almas (Invasion of the Body Snatchers, 1956, Don Siegel) – e seus remakes – é outra marca da fragilidade desse roteiro. Quem for fã dos quadrinhos, notará que a raça de Vuk faz as vezes do Clube do Inferno, a organização que tenta manipular Jean e os poderes da Fênix Negra. Essa dualidade de inimigos internos versus os externos tira todo o foco do problema de Jean, uma personagem tão poderosa que fica difícil acreditar como é facilmente manipulada. Nem mesmo a busca da personagem por uma orientação de Magneto é crível, pois ela sabe que há alguma coisa de errada e que ela mesma não é responsável por isso. De novo, vem aquela sensação de que não se sabe o que faz, e que o amigo/inimigo de Charles precisava voltar ao tabuleiro.
Se ao menos as sequências de ação fossem empolgantes poderíamos sair da sala de cinema com alguma satisfação. Fora a fotografia – arruinada quando se opta pela versão 3D – e a trilha sonora que parece realmente saída de um filme do filme dos anos 1990, nem as partes técnicas funcionam para ajudar a história. Em alguns momentos, principalmente na cena do trem perto do clímax da história, que deveriam ser marcantes, se tornam confusas. Há alguns momentos de foco quando Vuk tenta se aproximar de seu objetivo, mas mesmo essa cena, onde poderíamos comparar com um corredor polonês, não faz sentido considerando que a personagem sabia em qual vagão Jean estava e poderia facilmente levitar até ali. É repetitivo, mas são pontos para reforçar como Kinberg não sabe o que está fazendo.
E na mesma proporção da falta de senso, falta ousadia ao diretor. Sabendo das mudanças com a aquisição da Fox pela Disney, e o que isso poderia trazer como reiniciar mais uma vez o universo X, Kinberg parece que se deixou levar por uma melancolia, o que explicaria muita coisa. E isso significa que tudo no filme vai pelo caminho mais fácil, com personagens agindo nada como fizeram nos filmes anteriores, se mostrando como inexperientes ou até mesmo com personalidades diferentes. Quem leva mais esse peso nas costas é Hank/Fera (Hoult) que passa de homem da ciência para um possível assassino mesmo sabendo que havia algo de errado com Jean, algo que não condiz com o personagem que estava desde o começo com Charles e Raven.
Quando menciono a falta de ousadia, não quer dizer que todo filme de super-heróis tem que ter o tom de Logan (2017, James Mangold), mas Kinberg já é alguém experiente e poderia muito bem evitar as armadilhas. E todos os momentos estão lá para serem quebrados, mas, por participar dessa festa por obrigação, ele se comporta como alguém que está deixando o barco para novos donos e ao invés de fazer uma experiência marcante, podendo desafiar os próximos a fazer melhor, ele prefere queimar o barco. Só isso explica como falta não só coerência, mas como carinho no roteiro dessa história que ele ajudou a criar, mesmo com seus altos e baixos.
Lembro que quando as primeiras imagens de X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011, Matthew Vaughn) foram divulgadas, poucas pessoas botaram fé. A maioria, como podemos ver na avaliação de agregadores de notas, se surpreenderam. Havia então muito chão e muito combustível para queimar, como presenciamos no ótimo X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (X-Men: X-Men: Days of Future Past, 2014, Bryan Singer). Mas tanto Fênix Negra quanto X-Men: Apocalipse (X-Men: Apocalypse, 2016, Bryan Singer) não fizeram jus aos seus antecessores, mesmo mostrando um caminho interessante a ser seguido – e material para adaptar não faltava. É até imperdoável ver como as aventuras daquela nova abordagem dos personagens bem estabelecidos foram deixadas de lado para uma aventura tão genérica como a que nos é apresentada hoje, incluindo a mudança da ameaça de Jean para Vuk que, de tão banal, entristece.
É bem limitado traduzir a experiência que passamos em adjetivos, mas X-Men: Fênix Negra não deixa espaço para muito além de uma tristeza. Seja pelo que veio nas encarnações anteriores, no quesito comparação, ou no filme em si, onde o diretor preferiu contar uma história qualquer sem a intenção de salvar o desfecho que já se mostrou problemático na produção de 2016. Se já faltava personalidade na produção de Singer, aqui Kinberg esquece o significado dessa palavra e entrega um trabalho da mesma maneira que nós fazíamos na escola de vez em quando, apenas para não sair sem uma nota. Mas seria melhor que nem tentasse, dado o resultado.
Elenco
James McAvoy
Michael Fassbender
Jennifer Lawrence
Nicholas Hoult
Sophie Turner
Tye Sheridan
Kodi Smit-McPhee
Alexandra Shipp
Evan Peters
Jessica Chastain
Direção
Simon Kinberg
Roteiro
Simon Kinberg
Baseado em
X-Men (Stan Lee, Jack Kirby)
Fotografia
Mauro Fiore
Montagem
Lee Smith
Trilha Sonora
Hans Zimmer
País
Estados Unidos
Distribuição
Walt Disney Pictures
Duração
114 minutos
Data de estreia
06/jun/2019
3D
Irrelevante
Os X-Men encaram o desafio de salvar Jean Grey, possuída por uma entidade cósmica. Mas outros estão interessados nesse poder da Fênix Negra.
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