WiFi Ralph | Crítica | Ralph Breaks the Internet. 2018
Mesmo que não seja tão bom quanto o original, WiFi Ralph prefere olhar para frente ao invés de se segurar apenas na nostalgia.
Assim como a internet abriu novas possibilidades, novas ideias são exploradas em WiFi Ralph. Depois de seis anos daquela primeira produção que ganhou de assalto tanto fãs de games e também pela nostalgia, a continuação vai na contracorrente atual e encara as possibilidades de um mundo novo. Apesar das homenagens ainda estarem presentes, a dupla de diretores usa a nostalgia apenas como pinceladas na história que prefere revisitar a importância da amizade e o que quer dizer, afinal de contas, ser amigo de alguém. Apesar de demorar para pegar ritmo, a aventura atualiza e subverte alguns temas clássicos e é divertido perceber essas bem-vindas mudanças.
Se no filme de 2013 Ralph (Reilly) encontrou paz consigo ao aceitar seu papel de antagonista, mas não de vilão, até o começo do novo filme ele se mantém na sua zona de conforto. E da mesma maneira que antes, ele está no lugar oposto de Vanellope (Silverman). A princesa, por sua característica agitada e espasmódica, não gosta de repetição, de acordar com a mesma missão todos os dias. Numa rápida conversa com o gigante amigo, ela se pergunta se existe algo além deles e seus companheiros de fliperama serem uma compilação de zeros e uns. Ao se entender como um ser complexo, Vanellope se encontra mais propensa a aceitar aventuras.
Já na sua persona mais insegura, as ações de Ralph são tanto para agradar a amiga quanto mantê-la por perto o tempo todo. Então a nova perspectiva que é ir para a internet e salvar a existência da Corrida Doce é uma aventura que o ruivo encara apenas para voltar ao status quo, fazer as mesmas coisas dia a dia. Um pequeno desvio, ele imagina, não fará mal. Esse novo mundo da internet é um território desconhecido para ambos e os diretores mostram isso de maneira visual, como se espera, diminuindo os personagens em questão de escala. Pois enquanto o mundo fliperama é fechado, lembrando uma estação de trem, o visual da internet parece infinito, sem bordas ou paredes limitadoras.
Quem cresceu no mundo conectado se identifica com Vanellope. O contrário, com Ralph. Mas hoje, enquanto estamos todos nessa grande rede, acabamos identificando um perfil ou outro: as piadinhas são um tanto óbvias – twitter só tem foto de gato, o eBay lembra uma grande loja de departamentos – a subtrama de Conserta Félix (McBrayer) e a Sargento Calhoun (Lynch) de repente virando pais de quinze crianças e o próprio caminho que leva Ralph e Vanellope a começar a solucionar seus problemas arrastam o filme de maneira que nos leva a imaginar como a trama se beneficiaria se algumas partes fossem cortadas – uma olhada no relógio, e você perceberá que os momentos maçantes tomam quase metade do filme.
Com altos e baixos que tiram e devolvem nossa atenção ao filme, a dupla de diretores é muito mais feliz no andamento da trama quando conhecemos Shank (Gadot) e sua turma do Slaughter Race. Nesse cenário a trama se atualiza e deixa para trás o saudosismo do primeiro filme. Diferente de tantas produções que querem capturar o espectador pelo saudosismo, a continuação olha senão para frente, pelo menos para o presente, com personagens clássicos dos vídeo-games fazendo aparições apenas no abrir e fechar da trama, mostrando que eles continuam lá, mas como plano de fundo. Não faria sentido ser ao contrário, pois a ideia principal é mostrar como Vanellope precisa de mudanças.
Então esse mundo aberto, uma atualização dos games clássicos, radical e que tem até um batismo de fogo para Vanellope, que finalmente encontra um desafio depois de anos sempre sendo a protagonista de seu universo, começa a mexer com os dois amigos. Claro que, para fins dramáticos, de maneira diferente. Esse é outro ponto interessante e pouco explorado recentemente nas grandes produções do cinema. A virada da trama deixa o filme mais interessantes, pois a jovem princesa percebe que não quer sair do ponto inicial para voltar à normalidade, mas, como todo jogador quer, avançar de fase. E assim como qualquer mudança no mundo real, costumamos encontrar travas – e como Ralph prova, elas podem vir mesmo de quem gostamos.
Há momentos na trama que misturaram tanta a graça quanto uma desaceleração, principalmente quando Vanellope é enviada para o mundo da Disney – e lá dona da animação tem um mundo gigante e, brincando com ela mesma, mostra a força que tem por ser dona de tanta coisa. É um segmento para caçar personagens clássicos e que foram adquiridos mais recentemente – desde Dumbo, Pixar e Star Wars – para o momento em que todos esperávamos, a aceitação de Vanellope como uma legítima princesa Disney pelas outras que fazem parte do panteão da empresa de Walt Disney desde 1937. E que não só a corredora tem algo a aprender com elas: o contrário também acontece.
Como uma passagem de tocha, apesar do nome do filme, a produção é mais sobre Vanellope do que sobre Ralph. Podemos dizer até que o grandão é o sidekick da história e, apesar de parecer mais velho, isso não se reflete quando falamos de maturidade. Por causa dessa insegurança, Ralph regride por algum tempo, e se torna seu próprio vilão – de maneira literal e simbólica. Por ser um filme mais voltado ao público infantil, algumas partes passeiam entre o óbvio, mas ainda assim as soluções dadas guardam uma surpresa. É verdade que o resultado é esperado, mas o caminho que se toma, nem tanto.
E não podemos deixar de lado as brincadeiras visuais – como os spams aparecem, a deep web e outros conceitos que traduzem o que é surfar na net – que levantam a animação. É típico dos estúdios Disney se empenharem nesse quesito desde sempre, e diferente de outras animações 3D que outros estúdios apresentaram recentemente, o filme de Moore e Johnston não é simplesmente um portfólio do que a Walt Disney Animation Studios pode fazer. Também é isso, mas o caminho de Ralph e Vanellope tem tanto forma quanto substância. E o estúdio faz piada com os próprios conceitos que ajudou a tornar comum, como a música da piloto que aqui ganha ares de subversão, com cenários destruídos, pombos ao invés de passarinhos bonitos e explosões.
Fazendo uma ou outra brincadeira com quebra de limites, mas ainda sendo um filme infantil – mostrando que roubo não é a solução, e que adversários não são inimigos – WiFi Ralph nos lembra o valor da amizade. De novo, pode ser um tanto básico, mas nessa época tão polarizada que vivemos, onde encontramos discursos de ódios gratuitos, algo ligeiramente mencionado no filme, ter um filme que nos dê um alento e mostre mais uma vez o que importa de verdade é algo bem-vindo. E diferente de obras extremamente infantis, a produção, ainda que menos interessante que a original, abraça crianças e adultos na sua inocência com uma mensagem que não deve ficar fora de tempo.
Elenco
John C. Reilly
Sarah Silverman
Gal Gadot
Taraji P. Henson
Jack McBrayer
Jane Lynch
Alan Tudyk
Alfred Molina
Ed O’Neill
Direção
Rich Moore
Phil Johnston
Roteiro
Phil Johnston
Pamela Ribon
Argumento
Rich Moore
Phil Johnston
Jim Reardon
Pamela Ribon
Josie Trinidad
Fotografia
Brian Leach (iluminação)
Nathan Detroit Warner (layout)
Trilha Sonora
Henry Jackman
Montagem
Jeremy Milton
País
Estados Unidos
Distribuição
Walt Disney Pictures
Duração
112 minutos
Data de estreia
03/jan/2019
Cena Extra
Depois de anos sempre fazendo a mesma coisa, Vanellope e Ralph tem a oportunidade de conhecer a Internet e assim salvar a Corrida Doce. Mas essa jornada desperta sentimentos diferentes nos amigos.
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