Vingança a Sangue Frio | Crítica | Cold Pursuit, 2019
Mesmo que o papel de justiceiro seja comum para Liam Neeson, existe em Vingança a Sangue Frio uma louvável diferenciação de seus outros personagens
Ver Liam Neeson mais uma vez buscando vingança é um déjà-vu. Mas o que falta em criatividade no trabalho de em Vingança a Sangue Frio – fazendo um remake de si próprio – sobra no tom de comédia que se entranha nas manchas vermelhas de sangue que contrastam com a brancura da neve. Apesar de não ser o suficiente para desassociar a persona de Neeson de seus personagens anteriores, é sem dúvida um passo moderadamente diferente na carreira do ator. Inclusive, a produção teria menos sucesso se a vaga fosse ocupada por algum sem essa tradição, mesmo que fosse um ator melhor.
Quando conhecemos Nels Coxman (Neeson) ele parece um cidadão comum, com um trabalho bem comum – para os padrões de uma cidade que vive embaixo da neve, claro – e isso é verdade. Praticamente caseiro e sem traquejo social, uma característica claramente exposta ele quando tem que fazer um discurso de agradecimento, a vida do escavador de neve parece completa. É essa calmaria e constância que faz a vida dele e da esposa, Grace (Dern), virar de cabeça para baixo na decisão errada do filho deles. O assassinato do jovem que tomou uma decisão errada faz Nels rever seus valores, alguns tão enraizados que o afastaram da vida de crimes que seu pai e irmão escolheram.
A primeira parte da história acaba nos lembrando de outros personagens em busca de vingança familiar – coisa que o próprio ator principal é experiente. A grande diferença das encarnações anteriores de Neeson é que Nels é um tanto cru, e sua experiência com armas vem da caça. Sabendo que isso não seria suficiente para derrubar toda a máfia local, Moland faz o personagem mais humano dos últimos tempos interpretado pelo ator. Ele erra mais, se cansa mais (parecendo sim alguém que já passou dos seus sessenta anos) e precisa de uma ajuda para poder concluir seu desejo cego de vingança, ao contratar um assassino de aluguel para chegar ao topo da cadeia, por entende suas limitações.
O que desagrada bastante é a duração da trama. Quando a história se concentra apenas na caça ao chefe da operação local, Viking (Bateman), há um caminho mais conciso, algo que que se perde na introdução do Chefe Touro Branco (Jackson). Esse novo elemento representa pouca coisa e poderia ser encurtado em nome da dinâmica. Se serve para alguma coisa é para tirar sarro dos brancos, de novo apontando para a comédia sombria que seguem as mortes de Nels, que acabam trazendo um sorriso meio escondido às nossas bocas. Mas é só ver cenas dos índios brincando na neve enquanto esperam o melhor momento para uma emboscada para entender o que estou falando.
Por outro lado, Moland não trata seu filme de ação apenas como um filme de ação. Apesar da curta experiência cinematográfica, o diretor sabe como usar momentos de tensão apenas na cena em si. Isso é notável desde o primeiro traficante que Nels assassina: uma cena com poucos cortes, sem trilha sonora e um misto de inexperiência com improvisação do personagem. São essas coisas tão simples que diferenciam esse de tantos outros filmes do gênero. E mais uma vez, não é nada original, mas só por ser um pouco diferente já agrada, pois são momentos que alguns podem até não perceber de cara, mas ficam no inconsciente.
Notem também como Moland muda a visão do instrumento de trabalho de Nels depois do assassinato de seu filho. Primeiro, as visões que temos do escavador de neve são um tanto plácidas, com muitas cenas aéreas que mostram tanto a imensidão pacífica da cidade quanto a missão desse personagem, a de abrir caminhos difíceis. Depois, o diretor coloca a câmera à frente das pás do veículo, com cenas mais noturnas e fazendo com que a luz dos faróis se tornem algo ameaçador. Ou seja, apenas por uma mudança na posição da câmera, Moland consegue mudar toda uma sensação que havia estabelecido apenas alguns minutos antes. E uso de não palavras, que parece tão esquecida no cinema de ação, acontece também na trama: a parte mais marcante é quando Grace abandona o marido e deixa uma carta de despedida em branco. Aqui, o silêncio falou mais que algo escrito.
Podemos dizer que algumas decisões dos personagens, tanto de um lado quanto de outro, são questionáveis. Se de um lado o grupo de Viking parece ser bem burro ao não fazer algumas perguntas óbvias, ou fazer uma busca no Google, Nels também sai com umas ideias bem cretinas, mostrando que a improvisação é uma característica maior do personagem. Assim como ele improvisa uma arma de curto alcance com seu rifle, ele faz o mesmo sequestrando do filho de Viking, sem ainda saber o que poderia fazer com essa vantagem. Essas decisões acabam dando o humor do filme e servem também para deixar os personagens mais perto da nossa esfera também cheia de buracos.
Mesmo com aquele sentimento de termos visto isso antes, inclusive com um Liam Neeson de volta à neve, Vingança a Sangue Frio tem sim algo de diferente para valer uma visita. Se a duração incomoda, pois percebemos uma gordura para ser retirada, há a pouco usual comédia para compensar essa questão. E são momentos que só são possíveis porque estamos acostumados com os papeis que o ator fez antes. Com alguns personagens que prometem e não vingam – como a dupla de policias, quase inócua no filme – conclusão não chega a ser frustrante, mas percebemos que o potencial era bem maior que o resultado final.
Elenco
Liam Neeson
Tom Bateman
Tom Jackson
Emmy Rossum
Domenick Lombardozzi
Julia Jones
John Doman
Laura Dern
Direção
Hans Petter Moland
Roteiro
Frank Baldwin
Baseado em
In Order of Disappearance
(Kim Fupz Aakeson)
Fotografia
Philip Øgaard
Trilha Sonora
George Fenton
Montagem
Nicolaj Monberg
País
Estados Unidos
Distribuição
Summit Entertainment (Internacional)
Paris Filmes (Brasil)
Duração
118 minutos
Data de estreia
14/mar/2019
Quando o filho de um pacato motorista de limpa-neves descobre que seu filho foi assassinado, ele se encontra numa situação onde acredita não ter nada a perder e começa a caçar os tranficantes responsáveis.
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