Uma Ladra sem Limites | Crítica | Identity Thief, 2013, EUA
Uma Ladra sem Limites é um filme mais familiar que as produções anteriores do diretor, mas traz poucas risadas, apesar da dupla cativante de protagonistas.
Com Jason Bateman, Melissa McCarthy, Jon Favreau, Amanda Peet, John Cho e Robert Patrick; Roteirizado por Craig Mazin (Todo Mundo em Pânico 3) e Jerry Eeten. Dirigido por Seth Rogen (Quero Matar Meu Chefe).
O começo dos anos 2000 trouxe uma série de filmes de gosto duvidoso, exagerando nas piadas envolvendo gases e outros fluidos corporais, o que era apenas um detalhe para adicionar risadas em filmes já engraçados da década de 1980. Produções assim são mais raras hoje em dia, e a nova produção do diretor Seth Rogen e do roteirista Craig Mazin – que escreveu três destes filmes mais sujos – é uma tentativa de fazer uma coisa mais tranquila. Pelo menos em parte, o filme segue um caminho mais familiar e acessível ao grande público. É uma pena que o filme com essência de road movie traga pouco momentos de riso, apesar da cativante atuação da dupla principal.
Sandy Patterson Bigelow (Bateman) é marido, e pai de duas filhas, e trabalha em um banco. Também é uma mulher (McCarty), de baixa autoestima e estatura. Diana, a falsa Sandy, conseguiu roubar a identidade do verdadeiro Sandy, e clona seus cartões de crédito para viver uma vida de luxo e exageros. Quando ele tem seu cartão recusado e é preso, descobre quem é a baixinha que está tornando a vida dele um inferno. Sem suporte da força policial local, já que os crimes ocorreram em outro estado, o bancário resolve trazer Diana à força para que ela possa explicar à polícia e ao seu novo chefe a situação, e assim manter o novo emprego e a ficha limpa. Apesar de a ladra ter “a altura de um hobbit”, como diz Sandy, ele descobre que nada é tão fácil quanto parece.
Rogen apela para o mais básico para separar os dois Sandies. Ele é aprumado, correto, sempre impecável nas suas reações e no jeito de vestir. Ela é exagerada, não tem noção nenhuma de como usar roupas e maquiagens e acredita que ter vários bens a fará menos miserável – quando vemos como ela mobiliou a casa, podemos notar que tudo é dobrado: liquidificadores, aspiradores, micro-ondas, e outra infinidade de coisas. Apesar de ser um pouco de exagero a reação e a jornada de Sandy, já que ele é tão comedido, existe uma rápida justificativa visual no filme, que mostra uma pá dourada ornamentando o cubículo em que trabalha: ou seja, ele quer ir atrás das coisas, nem que seja cavando. Já Diana é bem mais inconsequente, ao ponto de vender cartões falsos, mas sem crédito, para traficantes de drogas e viajar sem cinto de segurança.
Durante a viagem de aprendizado dos dois, onde é bem óbvio que cada um aprende um pouco com outro, vão existir sequências bem feitas. A briga entre os dois dentro da enorme casa que Diana comprou é digna do título de comédia. Ver um homem com um 1,70m tentando dominar uma mulher que não deve ter mais de 1,50m e tendo que apelar para um violão – no melhor estilo El Kabong – é a parte mais divertida do filme. Durante o terceiro arco, existe certo exagero, principalmente na cena de sexo entre ela e um homem que ela viu como mais uma possibilidade de arrancar uma grana. Bem da verdade, essa cena é mais constrangedora do que engraçada. E não podemos fazer muita coisa, pois não dá para fugir da sala de cinema, ou desligar o projetor. Teria sido melhor fazer como o personagem de Bateman, que tenta desesperadamente abafar os sons de paixão que está acontecendo no quarto enquanto ele se refugia no banheiro, já que ele mesmo não pode deixar a ladra fora de vista.
Existem furos no roteiro também. Principalmente na caça humana, já que Diana irritou não só um perigoso traficante de drogas, mas também como não apareceu para uma entrevista de condicional, ela vira alvo de um caçador de recompensas chamado Skiptracer (Patrick), mas como ela a encontra da primeira vez, considerando que ele não tinha pistas do carro de Sandy, é exigir demais da nossa crença como espectadores. E o arco do traficante também é mal explorado. Uma figura tão poderosa pouco ameaça os dois parceiros forçados, o que sem dúvidas daria outro clima ao filme.
Em “Uma Ladra sem limites” Rogen alterna bons e maus momentos na direção. Por exemplo, ao usar três jeitos de mostrar passagens de tempo distintas entre si. Enquanto começa com uma boa ideia de filmar em alta velocidade o sol indo de um lado para o outro, mostrando que passou um dia, depois usa clichês como relógios avançando, e os dizeres de “um ano depois” desnecessariamente, já que o começo do filme apresenta o aniversário de Sandy e com a esposa grávida, e o último arco já mostra outro aniversário e com um bebê de colo. Apesar de ter momentos engraçados, não são piadas que marcam, nem que serão temas de melhores cenas num compêndio de comédia da década, talvez nem do ano. Pode ser leve em certos momentos, mas o roteiro que tenta mostrar que os dois personagens principais são bem parecidos – característica reforçada pela cor verde dos olhos dos dois – falha em prender a atenção e dando poucos motivos para rir.
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