Um Limite Entre Nós | Crítica | Fences, 2016, EUA

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Um Limite Entre Nós funciona pela mensagem, mas se perde na transição dos palcos ao cinema.

Um Limite Entre Nós (Fences), 2016

Elenco: Denzel Washington, Viola Davis, Stephen Henderson, Jovan Adepo, Russell Hornsby, Mykelti Williamson, Saniyya Sidney | Roteiro: August Wilson | Baseado em: Um Limite Entre Nós (August Wilson) | Direção: Denzel Washington (O Grande Debate) | Duração: 139 minutos

Mesmo que o diretor Denzel Washington não tenha conseguido separar-se da origem teatral, Um Limite Entre Nós é uma forte narrativa que envolve questões raciais, pragmatismo, sexismo e responsabilidade na visão de alguém que foi criado de maneira rígida e que na sua ignorância imposta por uma sociedade segregacionista não o permitiu que fosse só um pouco além.  Faltou sim tato ao diretor ao fazer mais cinema, o que o deixou seus dirigidos um tanto caricatos nos gestos e na maneira que se expressam – ainda que esse mesmo elenco seja tão forte quanto a mensagem expressa nas páginas do roteiro.

Talvez quem não esteja acostumado com o teatro não perceba, mas Washington não faz questão nenhuma de esconder que está filmando uma peça. As conversas que Troy (Washington) tem com Rose (Davis), Bono (Henderson) e Cory (Adepo) são cheias de gestos expansivos e vozes impostas como se quisessem alcançar a audiência que está longe deles, no outro lado da sala. Os personagens raramente nos dão as costas e toda a história pregressa deles é contada por meio de diálogos expositivos. Porém, a câmera não é fixa, e a fotografia não exagera nos momentos para forçar o sentimento – por exemplo, mudar drasticamente a cor do ambiente – o que faz esse teatro filmado não ser irritante.

Entre muitas expressões que abusam da linguagem corporal – o uso do tronco e dos braços, principalmente – a história se concentra no ponto de vista de um homem que foi criado de maneira muito rígida, o que se reflete na criação dos próprios filhos. Ao mesmo tempo, amadurecer tão rápido lhe deu um senso de responsabilidade invejável. Mas esse pragmatismo não permitiu que Troy amasse ninguém além de Rose. E mesmo ela é vista como propriedade às vezes. Levando em conta o título original da peça, Troy fugiu de uma cerca e sem perceber criou uma para ele, um lugar onde sequer sonhos eram permitidos.

O que Wilson discute é o meio que as pessoas são criadas e como isso reflete nas suas vidas. Troy estava convencido que teve que abandonar o baseball, um esporte que ele amava, por causa da cor da sua pele. Isso pode ser verdade – não podemos julgá-lo nesse mérito – mas ele é um homem tão amargurado por isso que nem mesmo Rose consegue convencê-lo de que os tempos estavam mudando. Dentro da sua cerca ele sempre se impôs como um homem justo, mas de pensamento limitado: as regras vindas do baseball – no terceiro strike você está fora; eu nunca sai da primeira base – eram o seu jeito de se expressar. E nessa limitação que também era imposta pela sociedade que vivia, ele podava a própria felicidade e dos outros.

A narrativa, porém, não isenta Troy de suas falhas e ele é mostrado como autoritário, controlador e machista. As desculpas para isso são as mais diversas, mas não fogem do fato que ele se achava no direito de ter mais que Rose e até mesmo de Cory enquanto eles estivessem sobre seu teto – um lugar levantado de uma maneira eticamente questionável. E ele é de dentro para fora questionável também. Quando ele tenta se blindar novamente no discurso de responsabilidade já não conseguimos mais nos importar com isso. Aos poucos aquele personagem que misturava histórias com historinhas perdeu o brilho – uma cena marcante é quando ele tem uma breve conversa com Bono e o diretor projeta a câmera para um espelho, como se os dois não estivessem mais no mesmo plano.

O problema no desenvolvimento narrativo é que ele começa a cobrar um preço por não se distanciar do teatro. Com tantos diálogos para mostrar o passado dos personagens, longas falas que não tem interrupções – mesmo aquelas carregadas de raiva – fazem o filme longo além da conta. Isso se percebe na metade do segundo ato e em todo o terceiro. Não contente com isso, Washington se arrasta num epílogo que dura mais vinte minutos. Nada contra conclusões, mas se metade do filme com mais de duas horas não foram suficientes para contar uma história é porque alguma coisa não estava funcionando.

Com algumas falhas no desenvolvimento Um Limite Entre Nós é uma produção com muita força no seu texto, mas que claramente funcionava muito melhor na versão dos palcos. Uma aproximação menos purista da peça de Wilson daria mais dinamismo e uma audiência menos cansada poderia se envolver mais com os personagens, essa dupla monstruosa que atua defronte nossos olhos. Mesmo com seus problemas narrativos na transposição de mídias, a mensagem da representatividade e de como limitações influenciam nossas escolhas são importantes o suficiente para serem contadas. E como o cinema é mais popular que o teatro é compreensível a vontade de Washignton e Wilson a contarem por meio da sétima arte. 

Um Limite Entre Nós | Trailer

Um Limite Entre Nós | Pôster

Um Limite Entre Nós | Cartaz nacional

Um Limite Entre Nós | Galeria

Um Limite Entre Nós | Imagens

Créditos: Divulgação

Um Limite Entre Nós | Imagens

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Um Limite Entre Nós | Imagens

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Um Limite Entre Nós | Imagens

Créditos: Divulgação

Um Limite Entre Nós | Imagens

Créditos: Divulgação

Um Limite Entre Nós | Sinopse

Troy Maxson (Washington) é um homem rígido e pragmático que vive num país ainda à sombra da segregação racial. Por causa da cor negra da sua pele, ele acredita que sua esposa Rose (Davis) e o filho Cory (Adepo) devem seguir o que ele acha melhor para a vida de todos. Mas outras questões irão mudar a vida dessa família suburbana.

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".