Todo Dia | Crítica | Every Day, 2018
Todo Dia é um conto de fadas moderno, uma lição de moral que tenta explicar da maneira didática que o que importa é o que está por dentro.
Amores impossíveis com personagens vindo de mundos separados, bem sabemos, não é nenhuma novidade. E agora, chegando em terras brasileiras com bastante atraso, o tema ganha tons modernos em Todo Dia, um conto que é como se Cinderela se encontrasse dentro de algum episódio de Além da Imaginação. Uma história sem conflitos, que tenta não ofender ninguém e ser inclusiva o máximo possível é, no mínimo, digna de atenção. Indo além dos adjetivos óbvios, a intenção da produção é esquentar o coração de quem assiste com uma mensagem de carinho e da velha história que o que importa é o que existe por dentro, numa ideia muito interessante, porém malconduzida.
A curta produção, com pouco mais de noventa minutos, atinge bem o seu público-alvo. Porém, ao invés de ser uma produção fria e rasa, apelando apenas para estereótipos físicos, a história de amor de Rihannon (Rice) e A (interpretado por uma variedade de atores e atrizes) quer e consegue ser inclusiva. Apesar de inicialmente pensarmos na questão de quem é a entidade/espírito que ocupa os corpos de pessoas aleatórias, o mais importante fica mesmo nessa questão onde o novo sexo do gênero fluído encontra tons de fantástico. Diferente da ficção científica, não é tão importante saber como ou porque A pula de receptáculo em receptáculo, mas sim o que o faz ser quem é.
Existe então um tom de humor dentro do romance quando começamos a pensar nas implicações desse mundo novo que Rihannon encontra. E de certa maneira, esse é uma produção desafiadora se cair no colo de pessoas mais velhas ou conservadoras. A protagonista beija meninos e meninas, pessoas de etnias diferentes, é chamada de vagabunda por algumas pessoas, mas persiste em conhecer A como deve ser. O que podemos chamar de alma ou de presença é um tema atual, provavelmente que ainda levanta dúvidas. O valor desse tipo de produção é por colocar uma questão que não se conversa muito de maneira mais fácil de ser digerida, quase didática. No fim das contas, referenciando mais uma vez Cinderela, é uma lição de moral.
Enquanto a relação com A – curioso a escolha do nome, é como se ele fosse o primeiro de algo que não compreendemos – é conhecer por dentro e não por fora, com o Nick (Cram), pai de Rihannon, é o oposto: ela não sabe como ele é por dentro, vendo apenas o exterior. Isso acontece também com outros personagens do núcleo, como o namorado Justin (Smith) – a protagonista diz que a princípio gosta de como ele é fisicamente – e com a mãe e a irmã, mas com essas duas não é uma relação bem desenvolvida. De novo, é um filme curto e um tanto apressado para se concluir, o que deixa algumas pontas soltas.
Essa pressa e falta de desenvolvimento deixa no ar que acabamos de ver o piloto de uma série de TV, inclusive elementos como a fotografia praticamente brilhante em todos os momentos – com exceção da parte da personagem com tendências suicidas – mas também na maneira que é concluída. A história geral não se fecha e isso, cinematograficamente falando, é um erro bem forte. Ainda que a história tivesse a intenção de deixar uma brecha para continuações, ela tem que se auto conter. E isso não é uma questão de interpretação, do tipo que alguém poderia querer fazer um vídeo no estilo “explicando o final de Todo Dia”. Na verdade, esse é um filme que tenta ser o mais simples possível para abraçar o maior número de pessoas que puder.
Mas saímos da sala com a sensação de que algo nos foi tirado, como se dois pedaços de informação não encontrassem um ponto final para aquela história, uma aberta que poderia fazer sentida numa estrutura episódica. Se soubéssemos que algo viria depois, seria compreensível, mas isso não é alcançado pelo diretor. Não chega a ser uma ponta solta – como já disse, não é importante entender o mistério desse realismo fantástico – mas terminar a experiência com alguma coisa faltando beira a frustração. Porém, como a história quer ser doce e inteligível para qualquer um (ou pelo menos para a maioria), essa questão pode passar despercebida simplesmente por nos sentirmos acalentados depois da experiência.
Além do fato do interesse romântico da protagonista mudar fisicamente a cada 24 horas, Todo Dia foge de outros clichês, principalmente do mais usado nos filmes românticos que é o menino que perde a menina por ter feito uma coisa estúpida. Diferente de outros personagens, A age de maneira lógica dentro de uma realidade que para nós é ilógica, querendo tanto o bem de Rihannon como de todos os outros que possuiu involuntariamente. É só uma pena que a história, que mexe com um tema tão pouco ortodoxo dentro da sexualidade, termine de uma maneira tão tradicional – tanto na questão do gênero quanto na de raça –, deixando de lado a ousadia que tinha apresentado antes.
Elenco
Angourie Rice
Justice Smith
Debby Ryan
Maria Bello
Owen Teague
Maria Bello
Michael Cram
Debby Ryan
Ian Alexander
Direção
Michael Sucsy
Roteiro
Jesse Andrews
Baseado em
Todo Dia (David Levithan)
Fotografia
Rogier Stoffers
Trilha Sonora
Elliott Wheeler
Montagem
Kathryn Himoff
País
Estados Unidos
Distribuição
Orion Pictures
Duração
97 minutos
Rihannon é uma jovem de 16 anos, como qualquer outra jovem de classe média. Até que se ela se apaixona por A, uma alma ou entidade que a cada 24 horas troca de corpo. Passeando entre gêneros e raças, o desafio de amar é levado nesse romance com toques de fantásticoe.
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