Sombras da Noite | Crítica | Dark Shadows, 2012, EUA
Sombras da Noite traz os elementos que já conhecemos de Tim Burton, mas com personagens e situações bem menos interessantes.
Com Johnny Depp, Michelle Pfeiffer, Helena Bonham Carter, Eva Green, Jonny Lee Miller,Chloe Grace Moretz e Cristopher Lee. Roteiro de Seth Grahame-Smith e John August. Dirigido por Tim Burton (A Noiva-Cadáver).
A oitava colaboração entre Johnny Depp e Tim Burton vem carregada daqueles elementos que conhecemos bem da filmografia do diretor: temas sobrenaturais, terror alternando com momentos engraçados, fotografia soturna e maquiagem pesada. Mais do mesmo. Até poderia ser mais um bom filme, mas o roteiro se perde em vários pontos, além de trazer personagens desinteressantes, com um reviravolta fora de lugar. “Sombras da Noite” se sustenta tão somente na atuação de Depp e nos pouquíssimos risos.
Começando com a história da família Collins, e de seu membro mais famoso, Barnabas (Depp), Burton nos conta com uma enfadonha e longa narração em off (que virou lugar comum) a origem da maldição do personagem principal. Alvo da paixão sem escrúpulos de Angelique (Green), Barnabas é transformado em um vampiro, além de perder o amor de sua vida, Josette (Miller). Burton dá uma razão para a maquiagem de Barnabas: os olhos fundos são marcas de lágrimas pela perda da mulher que era apaixonado. A paleta de cores se mantém em praticamente todo o filme, apesar dela ser um pouco mais sombria na cenas trágicas. É um trabalho bem diferente do que o francês Bruno Delbonnel realizou em “O Fabuloso Destinino de Amelie Poulin” (“Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain“, 2001). Barnabas rejeita mais uma vez Angelique, que o prende num caixão por quase 200 anos. A sua libertação é bem verossímil, e leva uma das melhores cenas de alternância que citei, mostrando um vampiro com uma sede de dois séculos, e uma grande letra amarela. O filme se passa nos anos 1970, mesma época da série original de TV (que nunca tinha ouvido falar), e o design de produção evoca bem a época. Mesmo na pequena Collinsport, temos postos da Shell e letreiros de cinema da época e o nosso vampiro confuso com tudo isso. Pena que aqui Burton perdeu a chance de brincar com a metalinguagem, e colocar Barnabas assistindo à um filme na tela grande (apesar de algo parecido mais pra frente, só que com uma televisão).
Ao voltar à sua mansão Collins, Barnabas descobre que sua família ainda existe, apenas com quatro membros. O encontro dele com o caseiro Willie (Haley), além de fazer homenagem ao clássico de Bram Stoker, lembra também a comédia “Drácula: Morto mas Feliz” (“Dracula: Dead and Loving It“, 1995). Os Collins remanescentes são os irmãos Elizabeth (Pfeiffer) e Roger (Miller); os jovens Carolyn (Moretz), filha de Elizabeth; e David (McGrath), filho de Roger. Também estão presentes a Dra Julia Hoffman (Carter) e a governanta Victoria (Miller, estragando qualquer surpresa que o filme poderia ter). Barnabas quer restaurar a antiga glória da família na cidade, e se revela para Elizabeth, mostrando todos os segredos da mansão, incluindo uma grande fortuna escondida. Essas cenas tem dois momentos interessantes. Apesar da fotografia continuar soturna, os objetos que parecem estranhos à Barnabas por seu deslocamento temporal tem uma luz diferente sobre eles. A outra é falta de reflexo do vampiro, que poderia muito bem ficar só no detalhe, enquanto ele e Elizabeth passam por uma sala de espelhos, mas Burton faz questão de explicar tudo. Durante a execução dos planos de Barnabas, este descobre que Angelique ainda está viva. Ela ostenta o nome de Angie, e foi responsável pela queda da família Collins nos últimos dois séculos. A personagem quase tão branca quanto o vampiro, quase como uma boneca de cera. Ela ainda se sente atraído por Barnabas, mas não quer desistir de sua reputação na cidade.
À medida que o filme vai avançando, o diretor se sai bem na única gag do filme, que é opor momentos que deveriam tristes com a comédia, principalmente quando Barnabas chora sua mágoas para Elizabeth enquanto se lamenta no que esperava ser um piano, e confissão de seu novo amor à um bando de hippies. Esse é um dos poucos elementos dignos de nota na produção. O próprio Barnabas, apesar de bem construído, comete um ato forçado na trama, que não serve para nada, além de preparar terreno para uma continuação. A participação especial de Christopher Lee também é fora dos eixos. É de se pensar que um ator com esse peso seria de alguma importância na trama, ou alguma homenagem à série original, mas não achei referências dele. Alice Cooper é visto entrecortado, mas recebe de Barnabas a melhor frase do filme: “A mulher mais feia que já vi”. E a reviravolta perto da conclusão é o elemento mais forçado para o espectador: posso estar errado, mas não existe nenhum indício do que está por vir, nem por aqueles elementos que chamamos de predestinação.
A produção é dona de efeitos especiais fantásticos, principalmente quando mostra a natureza de Angelique, uma trilha sonora recheada de rock n roll, e com um ou dois momentos que nos fazem rir. Mas a superficialidade de quase todos os personagens, a falta de propósito dos personagens fantasmagóricos, principalmente no espectro de Josete (que fará você se perguntar “hein, como assim?”), e o rumo confuso que a história nos leva, faz “Sombras da Noite” ser um dos trabalhos mais fracos de Tim Burton, que parece fazer tão somente homenagens ao próprio universo que criou, como mostram os últimos segundos do filme.
[críticas, comentários e voadoras no baço]
• email: [email protected]
• twitter: @tigrenocinema
• fan page facebook: http://www.facebook.com/umtigrenocinema
• grupo no facebook: https://www.facebook.com/groups/umtigrenocinema/
• Google Plus: https://www.google.com/+Umtigrenocinemacom
• Instagram: http://instagram/umtigrenocinema