Resident Evil 5: Retribuição (Resident Evil: Retribution, 2012, EUA) [Crítica]
Com Milla Jovovich, Michelle Rodriguez, Sienna Guillory, Aryana Engineer, Johann Urb, Kevin Durand, Shawn Roberts, Oded Fehr, Colin Salmon, Boris Kodjoe e Li Bingbing. Roteirizado e dirigido por Paul W S Anderson (Resident Evil: O Hóspede Maldito).
A franquia “Resident Evil” é advinda dos mundos dos games, e seu sucesso já era solidificado quando o primeiro filme foi lançado em 2002 (já eram quatro jogos principais até então). Dez anos depois, Paul W S Anderson entrega um grandioso filme de ação. Ele continua com o ideal de não seguir os passos dos consoles, e criar um universo próprio que funciona para quem só assistiu aos filmes, e ainda acha espaço para pequenas homenagens. Homenageando também a própria franquia, “Resident Evil 5: Retribuição” é um filme frenético, que praticamente não para. Com sequencias de tirar o fôlego, Anderson não cai no problema de nos entregar uma história fraca, mas longe de ser original ou muito marcante. O resultado é um filme com uma série de falhas, algumas irritantes, mas divertido e é a melhor continuação da franquia.
Começando exatamente de onde “Resident Evil 4: Recomeço” (Resident Evil: Afterlife, 2010) parou, Anderson usa os primeiros minutos da projeção para mostrar a luta entre Alice (Jojovich) e uma dominada Jill Valentine (Guillory, no primeiro fetichismo de Anderson, usando um escaravelho no meio de um avantajado decote), e seus soldados Umbrella num slow-motion reverso. É um efeito interessante, e ajudado pela trilha sonora. Mas a opção de mostrar a cena de trás-pra-frente parece ser mais de beleza plástica do que funcional. Mostrar que as coisas saíram mal para Alice desde o começo não é justificativa suficiente. Depois a ruiva recapitula mais uma vez a “história até então”, olhando para a tela no cansativo estilo talking head, considerando que ouvimos a história de quatro filmes. Essa opção funcionou bem em “Resident Evil 2: Apocalipse” (Resident Evil: Apocalypse, 2004), mas já está na hora de Anderson inovar. O diretor volta à cena do navio Arcadia, dessa vez no ritmo normal, afirmando que esse é um filme de ação. A sequência não tem mais do que três minutos. E na calma e tranquila de Racoon City, Alice desperta de um sonho. As suas preocupações são trocar a camisa do marido Carlos (Fehr) e preparar o café-da-manhã da filha Becky (Engineer). O diretor de fotografia Glen McPherson usa uma paleta de cores bem tradicionais, com um tom dourado bem quente e aconchegante. Nada te prepara para o clima de survival horror que o filme te joga nesse momento, e sustos provavelmente aconteceram. Ao contrário do começo dos três filmes anteriores, a premissa é a clássica “corram por suas vidas”. Esse interlúdio acaba com a morte de Alice… ou melhor, não. A preferida de Anderson acorda novamente seminua (“eu sou casado com uma mulher gostosa”), como estava em todas as outras situações em que se encontrava nas mãos da Umbrella. E o lugar é praticamente um hospício, inundado de branco por todos os lados. Alice é interrogada por Jill, que constantemente pergunta “Projeto Alice, para quem você trabalha?”, apesar de não existir nenhum motivo nos filmes anteriores pra essa que a empresa de biotecnia desconfie disso. Alice consegue escapar com uma ajuda externa, e a cena seguinte consegue explicar arco inicial de RE4, e “conserta” a dúvida de como a história pode continuar considerando que o aconteceu o fim do mundo, mas ainda existe uma sociedade.
É uma correria: vejam que isso tudo acontece em apenas 15 minutos de filme, que é o mais “gamer” de todos: como não dizer isso com Ada Wong (Bingbing) ser um fetiche masculino ambulante, com seu vestido mostrando as pernas e andando com saltos altos enormes, apesar de isso atrapalhar para ela ir de um lado ou outro da rua (onde eu questiono a suposta posição de Anderson dar força às mulheres); ou com Albert Wesker (Roberts) explicando passo-a-passo, e com mapas que a “jogadora” Alice deve ir do ponto A ao B para poder escapar da perseguição da implacável e chatíssima Rainha Vermelha (Charpentier/ Merson-O’Brian); ou ainda com a pose exagerada de Alice quando ela pega duas armas gigantes e pesadas em cada mão enquanto se dirige a Wesker e diz “o que estamos esperando”. Aliás, dá pra ver claramente que a atriz treme os braços ao sustentar o peso das armas. As cenas de lutas estão mais bem coreografadas, mas é uma pena que Anderson continua exagerando no slow-motion. Pelo menos, nessa sequencia toda embolada e que funciona a base de consequências (a história simplesmente acontece, com portas abrindo e se fechando atrás das personagens), Anderson usa o efeito 3D do jeito que se deve: planos abertos, com os personagens principais em primeiro plano e usando a grande profundidade de campo. Também usa sequencias claras, levando em conta que perdemos um pouco de brilho por causa das lentas escuras dos óculos atuais.
É engraçado ver que Anderson toma algumas decisões erradas como diretor. Ele faz um filme de ação, mas precisa encher a tela com um monte de “blá-blá-blá” para poder terminar um filme com 90 minutos de projeção. A discussão entre Alice, Ada e Wesker fica numa sucessão de “vendemos pros russos, depois pros americanos; depois pros chineses, que compraram pra ser defender dos japoneses; para os coreanos…” A vontade que deu era gritar “Tá bem, eu não sou burro e já entendi”! Ou ainda ouvir cada ordem da Rainha Vermelha na tela é uma experiência irritante. E apesar dos cenários serem mais grandiosos, Anderson continua economizando dinheiro (e tempo de render, afinal ele precisa de um filme a cada dois anos) ao mostrar os cenários externos só em wireframe. Além do que ele cai na tentação de fazer Ada narrar momentos do filme, mesmo com o espectador entendendo o que está acontecendo, quase como se fosse uma narração off. Detalhe que ela faz isso muitas vezes depois da cabeça da Rainha Vermelha aparecer e dizer o que vai acontecer. E de novo Luther (Kodjoe) estar com a careca e barba bem feita num cenário pos-apocaliptico? Por mais que essa seja uma decisão clássica na cinematografia para mostrar um bom moço, uma barba por fazer ali não faria nenhum mal. Já alguns efeitos especiais estão melhores (explosões, monstros gigantes), mas outros deixam a desejar (é notório que os personagens de certa linha de produção são bonecos digitais). Nem mesmo a presença de Rain (Rodriguez) é interessante, já que ela se torna uma motherfucker genérica, que poderia muito bem ser substituída por qualquer outra pessoa. Valeu pela nostalgia, mas não vi Anderson utilizando bem a personagem.
No entanto, existem boas decisões. A introdução de Leon Kennedy (Urb) e Barry Burton (Durand) no universo do filme, homenageando o game, é gratificante, pois são personagens queridos para quem joga desde o começo. É uma pena que os dois não tenham muita profundidade. Também a oposição interessante entre a Umbrella que queria lucrar (Wesker), contra uma inteligência artificial (a Rainha Vermelha) que quer simplesmente acabar com a raça humana para poder preservar a própria existência. De novo, não é original, mas é um plano crível para o acabar com o mundo em horda atrás de hora de zumbis. Gosto dos efeitos mecânicos, com os “carrascos” bem construídos e explosões física sendo algo em que conseguimos acreditar. O som também está bem feito, mas você só deve sentir isso se tiver uma boa sala de cinema com projeção digital. E o principal, que são as subversões: pelo menos duas vezes o diretor mostra alguma coisa na tela que você acha que sabe o que vai acontecer, pra ser surpreendido logo depois. Claro, sem muita profundidade, mas para o diretor é uma novidade.
“Resident Evil 5: Retribuição” pega emprestado ideias de outros lugares (desde coisas de outros vídeo-games como Mortal Kombat, passando por filmes como Aliens – O Resgate e Dead Snow), alterna bons e questionáveis efeitos especiais, e conta com uma direção clássica, mas maçante em determinados momentos. Não é um filme que decepcionará os fãs de ação. Dentro do que se propõe, funciona. Mas irá desagradar várias pessoas, até mesmo fãs da série. Porque, basicamente, a história se repete pela quinta vez: um drama aqui, Alice capturada, perseguições, explosões, falta de ousadia, principalmente na fotografia… Enfim, o filme faz de tudo para voltar dois filmes atrás, para vermos como a velha-nova Alice vai resolver o problema da “extinção” da raça humana numa continuação. Sim, estúdio e Anderson não vão largar o osso nessa franquia que é tão rentável. E se você passou aqui saber se o 3D vale a pena, te digo que vale sim.
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