Rampage: Destruição Total | Crítica | Rampage, 2018
Rampage: Destruição Total é um dos maiores exemplos que servem para massagear egos de produtores, entregando para uma plateia desatenta um misto de qualquer coisa com nada.
Uma das grandes máximas do cinema tem paralelo com um conhecido ditado – se não for para fazer algo de bom, melhor fazer coisa nenhuma. Rampage: Destruição Total não tem qualquer apelo ao passar da tela dos games para o do cinema – e desafio qualquer um a encontrar exemplos de pessoas que gostariam de ver a produção como adaptação de uma mídia para a outra. Além do despropósito, o novo filme de Peyton carece de lógica, mesmo considerando o cenário de seres gigantes se estapeando, e de diversão, o que coloca o diretor como um provável herdeiro de Roland Emmerich, fazendo um filme catástrofe atrás do outro, apenas mudando o agente desse pandemônio – antes, um terremoto; agora, um trio de animais geneticamente modificados – que tem de enfrentar Dwayne Johnson.
É bem provável que o filme já nos tenha perdido na introdução. Com toques de ficção científica, o roteiro escrito e reescrito por quatro pessoas falando de CRISPRs (ou engenharia genética) tem uma seriedade e dramaticidade que não se desenvolve durante o resto da produção. Há também um posicionamento ambiental e da importância da proteção das espécies em perigo de extinção, como o próprio George (captura de movimento de Liles), mas tudo isso é esquecido assim que Davis (Johnson) e a Dra Kate (Harris) tentam, sem muito sentido, esconder o problema do crescimento anormal de George das autoridades – ignorando que quanto mais soubessem, mais ajuda poderiam ter.
Podemos deixar de lado ou aceitar que a introdução, junto do primeiro ato, acaba com qualquer surpresa possível do filme. Isso, de certa maneira, faz bem à produção. O ritmo acelerado é usado para duas coisas: primeiro, para vermos as coisas serem destruídas logo. E segundo, mais importante, é esconder os buracos do roteiro. Enquanto acreditamos que George, na sua missão de proteger sua família, seja um gorila que mistura tanto curiosidade quanto coragem – e, que os deuses do cinema me perdoem, faz uma referência à 2001: Uma Odisseia no Espaço – ao se aproximar do cilindro que carrega o patógeno que fará ele e os outros dois animais entrarem em mutação, as escolhas dos humanos parecem mais irracionais do que esses seres irracionais. O que faz, claro, gostarmos mais dos bichos do que das pessoas.
E não é o caso de decisões militares equivocadas, ou não saber o que fazer com um gorila de 3 metros de altura e quase meia tonelada – mas acreditar que os CEOs de uma megacorporação seriam tão idiotas. A história deixa entender que Claire Wyden (Åkerman) é um dos cérebros detrás dos experimentos que dão errado, apesar de ser Kate quem descobre o avanço. Mesmo que não fosse, ela é inteligente o bastante para ser dona de uma companhia multimilionária, e é de se espantar que os planos dela não fazem questão nenhuma de esconder junto do irmão são os responsáveis pelo que está acontecendo de errado com George e as outras aberrações genéticas.
Contando com soluções que caíram do céu – a de esperar que as forças armadas destruam os três bichos gigantes para coletar os espólios para vender a descoberta como arma (provavelmente a única coisa que faz sentido na trama) – a história tem várias conveniências que fazem a história andar: seja para dar o que os personagens maus merecem (uma engraçada e a outra que não faz sentido por não ter sido introduzida até então), ou Davis encontrar o material que precisa para continuar vivo durante o ataque dos três gigantes. Nisso, a trama faz referências aos games, onde podemos achar armamentos e upgrades, mas que numa história como começo, meio e fim foi mal explorada.
O que faz que o filme não seja uma experiência mais penosa é que alguns diálogos conseguem arrancar alguns sorrisos, e todos vem do espirituoso Johnson, um ator maior que seus personagens. Além, claro, de termos animais fantásticos tentando matar quem encontram no caminho e, eventualmente, um ao outro. Porém, como é de se esperar, esse duelo de titãs ocupa a menor parte do filme. Num exercício de imaginação no estilo o que aconteceria se King Kong se encontrasse com uma versão (mais) anabolizada do Alligator, o único ser mais indestrutível da história parece ser Davis, um cara tão simpático que usa da sua força física apenas uma vez – e, pelo bem da comédia, é suplantado pelo menos uma vez pela Dra Kate e seu intelecto genial.
Se pudéssemos criar uma subcategoria para os filmes catástrofes, esse poderia entrar numa chamada “eu não me importo”. Tudo o que Payton quer é mostrar mais destruição, colocar Dwayne Johnson pilotando um helicóptero de novo, e fazer piadas para compensar a péssimas decisões dos personagens. Existe aqui e ali alguma coisa de destaque, como apresentar Burke (Manganiello) como o oposto de Davis – enquanto um é protetor da vida selvagem o outro os caça – e sacá-lo da narrativa, o que é uma subversão do clássico personagem que entraria em vias de fato com o protagonista, deixando o confronto apenas no campo das ideias.
Ainda que não esperássemos algo mais profundo que porrada, quebra-quebra e prédios sendo destruídos enquanto são escalados, Rampage: Destruição Total entrega qualquer coisa para o público ávido por uma distração passageira, uma que estará mais interessada em checar as notificações no celular do que prestar atenção no que está acontecendo. Assim como outros blockbusters, é o resumo daqueles que pensam cinema apenas como negócio (ao invés de entenderem que também é), servindo mais para inflar ego de produtores, com o próprio Johnson, e para mostrar a capacidade dos estúdios com efeito especiais, com mais uma produção bela por fora, mas vazia no seu conteúdo.
Elenco
Dwayne Johnson
Naomie Harris
Malin Åkerman
Joe Manganiello
Jake Lacy
Marley Shelton
Jeffrey Dean Morgan
Direção
Brad Peyton
Roteiro
Ryan Engle
Carlton Cuse
Ryan J. Condal
Adam Sztykiel
Argumento
Ryan Engle
Baseado em
Rampage (Midway Games)
Fotografia
Jaron Presant
Trilha Sonora
Andrew Lockington
Montagem
Jim May
Bob Ducsay
País
Estados Unidos
Distribuição
Warner Bros. Pictures
Duração
107 minutos
3D
Relevante
Depois de ser exposto à um patogênico criado em laboratório, o doce gorila albino George começa a crescer descontroladamente, assim como sua fúria. Ao se tornar uma alvo tanto dos militares quanto da empresa que o tornou num monstro gigante, cabe a Davis, seu cuidador, trazer de volta o bom George para que ele ajude a acabar com os dois outros seres gigantes criados pelo mesmo evento.
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