Pequena Grande Vida | Crítica | Downsizing, 2017
Pequena Grande Vida não se aventura muito na ficção científica e prefere falar mais de relações humanas, mas sem a profundidade necessária.
Quando mais se pensa no universo de Pequena Grande Vida, menos ele funciona. Longe de querer ser uma ficção científica hard science por não explicar como o processo de encolhimento funciona, Payne faz o caminho de outras de suas obras, encarando de perto as relações humanas, mas de maneira menos interessante das anteriores. Apesar de todos os elementos estarem lá – o drama, a comédia dentro de um cenário improvável e a aparente impossibilidade de continuar com a vida – a trama perde lugar para resoluções rasas e uma virada desonesta de tão inesperada.
Apesar de não mostrar exatamente quando é esse futuro, a proximidade dele é óbvia pelos mesmo motivos que regem o mundo hoje. Quem se submete ao procedimento não pensa no meio-ambiente ou na superpopulação, pelo menos não a maioria. Por isso é um tanto ingênuo Paul (Damon) acreditar que seus problemas se resolveriam na miniaturizada Lazerlândia. Payne tem ótimos filmes com elencos incríveis – Jack Nicholson, Paul Giamatti, George Clooney, Bruce Dern – mas sempre foram filmes com uma cara indie, mesmo Os Descendentes. Aqui, Payne tem mais orçamento e uma grande distribuidora, mas ele e Taylor claramente tiveram que ser mais óbvios e menos poéticos.
Então, mesmo com sociedade diminuída, as diferenças se mantem: os ricos ficam mais ricos, aumentam a lacuna entre os mais pobres e a roda gira. Os mesmos vícios que fizeram miserável a vida de Ngoc Lan (Chau) – e de todos na vila de imigrantes que ela mora, todos depois de um muro, vejam só – nesse mundo novo. Afinal, e daí que a minha fortuna aumentou dez vezes nessa utopia? Eu serei dez vezes mais rico e poderei me isolar ainda mais de que não desejo ver. Mas existe uma boa intenção de Payne em colocar as coisas de maneira tão simples. À princípio, é uma mensagem educacional, e seria um filme muito melhor se focasse nisso.
Porque ao dar uma rápida olhada na duração do filme – mais de duas horas – temos duas opções: esse tempo todo servirá absorvermos toda a esperada profundidade de uma trama, ou aponta falta de ritmo. Infelizmente, Payne escolheu a segunda opção. Perdemos muito tempo com todos os detalhes da vida de Paul e Audrey (Wiig) entre a decisão de se mudarem e efetivamente fazerem o procedimento para a nova vida com leituras de contratos, visitas aos empreendimentos e os detalhes dos procedimentos, onde vemos Matt Damon ir duas vezes ao dentista. O pior, no entanto, é reservado a Audrey que serve de impulso para Paul viver sua nova vida. Mas a maneira que essa parte foi desenvolvida beira a misoginia.
É bem difícil acreditar no pânico de Audrey com o procedimento, considerando que ela era a pessoa mais interessada na relação a ir para esse mundo diminuto. O descarte da personagem é uma decisão cretina, muito mais considerando que a própria história já tinha dado uma outra solução que fazia parte daquele universo. Se fosse simplesmente um erro da miniaturização, a história teria uma dose mais interessante de melancolia e não seria culpa de ninguém. Ao invés disso, a solução cria uma personagem que arruína a vida do companheiro no campo financeiro, desaparece da narrativa e somos forçados a não gostar.
Além da falta de coerência dos personagens, Payne não encontra uma para o mundo que criou: às vezes aparecem comidas fracionadas, às vezes miniaturizadas, existe um maquinário que não poderia entrar de jeito nenhum na conta de riqueza pois fica estabelecido que não metais não podem ser reduzidos – e a não ser que nesse futuro tudo seja de plástico, esse é um grande porém ali. O mundo de Payne e Taylor não sabe então se vai se afundar nesses detalhes ou jogar tudo para o alto, contando com a (alta) suspensão de descrença da plateia.
Mesmo tentando compensar o papel feminino com Ngoc Lac ao não permitir que ele fosse só um tipo de sidekick de Paul, Pequena Grande Vida quer se salvar pelo exagero inesperado da virada. É um plot twist que veio de uma citação isolada e que existe apenas porque lembraram que o filme é também uma ode contra a administração Trump, então precisavam fechar com uma mensagem ecológica. É impressionante como um filme tão longo feche de maneira tão apressada. Mesmo apresentando um personagem que fique procurando seu lugar no mundo ao pular de tribo em tribo, e assim poderíamos nos identificar, depois da enfadonha primeira parte, a vontade é de miniaturizar a duração do filme para acabar mais rápido.
Elenco
Matt Damon
Christoph Waltz
Hong Chau
Kristen Wiig
Udo Kier
Direção
Alexander Payne (Nebraska)
Roteiro
Alexander Payne
Jim Taylor
Trilha Sonora
Rolfe Kent
Fotografia
Phedon Papamichael
Montagem
Kevin Tent
Distribuição
Paramount Pictures
País
Estados Unidos
Duração
135 minutos
Num futuro próximo, a ciência avança para a miniaturização de seres vivos, uma solução para a superpopulação. É nesse cenário que Paul e a esposa Audrey acreditam ter encontrado uma solução para seus problemas financeiros. Mas logo descobrimos que esse é um lugar novo com problemas antigos.
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