O Grande Gatsby | Crítica | The Great Gatsby, 2013, EUA
O Grande Gatsby é uma produção quase megalomaníaca, cheia de efeitos especiais, de jazz e música pop, abraçando a natureza cinematográfica de muito luxo. Tudo isso contido numa história trágica.
Com Leonardo DiCaprio, Tobey Maguire, Carey Mulligan, Joel Edgerton, Isla Fisher, Elizabeth Debicki e Jason Clarke. Roteirizado por Baz Luhrmann e Craig Pearce, baseado no romance de F Scott Fitzgerald. Dirigido por Baz Luhrmann (Romeu + Julieta).
É preciso dizer que O Grande Gatsby filme é grandioso, quase megalomaníaco, e típico de Baz Luhrmann. Usando e abusando de efeitos de CGI em telas verdes, a história clássica sobre a falta de moral, do materialismo, e do sonho americano contraposto por uma paixão arrebatadora ganham contornos com muita cor e brilho, envoltos por uma mistura de jazz e pop. O diretor mais uma vez abraça a sua natureza cinematográfica de muito luxo, glamour e grandes planos abertos para contar uma história trágica. Por isso, se prepare para ver mais Luhrmann do que nunca, o que pode agradar mais uns do que outros.
Nos anos 1920, Nick Carraway (Maguire) está se tratando de seu problema com o álcool. Enquanto se abre com seu médico, ele diz que o melhor momento da sua vida foi quando se mudou para Nova York, e conheceu um grande homem: Gatsby (DiCaprio). Ao se sentir melhor escrevendo do que falando com o doutor – uma justificativa para a eterna, e mais uma vez irritante, narração em off do personagem – Nick começa a relatar em papel a época que compartilhou com a prima Daisy Buchanan (Mulligan), o marido dela, Tom (Edgerton), e a golfista Jordan Baker (Debicki). Além de sua profunda admiração por Gatsby. Nick então nos conta sua história que envolve luxúria, bebedeiras, festas e finalmente a percepção de quanto a humanidade pode ser baixa, mentirosa e mesquinha.
Assim como em Moulin Rouge – Amor em Vermelho (Moulin Rouge , 1996) Luhrmann começa a história com tons clássicos: fotografia preto e branco, e um sinfonia jazzística como saída de um gramofone. Aos poucos a imagem vai ganhando cor e entramos no universo do diretor. A história é contada por meio de flashbacks de Nick – e durante a projeção de Gatsby – que está num estado melancólico, representando pela névoa que cobre a instituição em que está se tratando, pela barba malfeita e o figurino pálido, quase sujo. O pesar na voz do personagem já carrega todo o clima do filme. Ao voltar nas próprias memórias, a fotografia ganha tons mais claros, quase dourados, e tudo em volta de Nick tem ares teatrais, principalmente quando vai visitar a prima Daisy e Tom na casa deles. Os mordomos e outros criados da família manejam longas e esvoaçantes cortinas, abrindo e fechando portas, preparam o cenário para o encontro dos primos de uma maneira tão bem coreografada que é fácil entender porque encontramos a jovial moça rindo: era tudo um grande espetáculo, muito iluminado e ela era a personagem principal.
É muito interessante constatar que o personagem-título não dê as caras por algum tempo. DiCaprio só encarna Gatsby fora das sombras no começo do segundo ato, numa das grandiosas festas que ele promove. Um diretor menos seguro de si provavelmente usaria algum artifício para inserir a estrela do filme no começo, e isso mostra uma boa dose de coragem em Luhrmann. Mas quando ele aparece é para valer, num cenário em festa, cheio de explosões de fogos, dança, mulheres e música. Tudo para mostrar que o dono tinha chegado. É nesse momento que Nick conhece o seu vizinho, e a admiração o toma quase imediatamente, chegando a ser quase uma paixão no sentindo básico da palavra. Essa leitura homoafetiva não é clara, tanto por opção do diretor para esconder o tema, quanto à época que a história acontece.
A direção de fotografia ficou a cargo de simon Duggan. Como comentei no começo, o filme tem tons dourados que vão se acinzentando durante o decorrer da história. E isso é visto também na mudança de estações, tanto que nos momentos finais Gatsby comenta com Nick que o verão tinha acabado e eles sequer usaram a piscina da mansão. E ao trabalhar com flashbacks dentro de uma história que já é um por se tratar de memórias, Duggan usa tons mais próximos do sépia e mais apagados, como uma fotografia gasta. Toda essa preocupação com cor se perder ligeiramente na versão 3D. Em primeiro lugar, Luhrmann ainda não sabe usar a técnica, caindo para o tradicional rack focus e a pequena profundidade de campo. Em segundo, por causa das lentes escuras, o trabalho todo perde o brilho. Pode ser que a situação mude no futuro, mas o 3D aqui é inócuo. Por isso aposte na versão 2D.
Os anos 1920 tinham certo glamour, mas a obra de Fitzgerald escancara questões preocupantes. Ao mostrar Gatsby tentando alcançar uma luz do passado, representada pela luz verde do cais dos Buchanan, ele olhava para o passado de um jeito mais inocente – e é uma tendência toda geração fazer isso. A história resgata esse momento mais pueril quando o milionário finalmente se reencontra com Daisy, que apesar de casada, sempre foi sua grande paixão. Então ele age como adolescente, foge, faz papel de bobo e enfeita toda a casa do vizinho para tentar agradar aquela que ele via como a namoradinha eterna. Dentro de uma história que sabemos que vai terminar triste, é um interlúdio de romance e comédia. Mas sem esquecer os podres dessa sociedade que é egocêntrica e conformista.
Apesar de O Grande Gatsby ser um filme de época, a sua mensagem reverbera por várias décadas. É óbvio que o filme tem muito mais força pelas letras de Fitzgerald do que pela superprodução de Luhrmann. Em alguns momentos, o diretor faz pequenos interlúdios de videoclipes, e isso alonga o filme um pouco mais que o necessário. A impressão é que ele estava mais preocupado em fazer grandiosidades visuais ao invés contar uma história interessante. Se o original fosse mais fraco, seria englobado por tanto que vimos na tela, mas isso é a assinatura do diretor. Agora é decidir se a questão de que a imagem se sobrepor à ideia é o que acontece aqui ou não. A escolha é sua, mais uma vez.
O Grande Gatsby concorre ao Oscar 2014 nas categorias Melhor Figurino (Catherine Martin) e Melhor Design de Produção (Catherine Martin).
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