O Círculo | Crítica | The Circle, 2017, EUA
O Círculo é o exemplo de uma boa ideia má executada por elementos que não se encaixam na própria história.
Elenco: Emma Watson, Tom Hanks, John Boyega, Karen Gillan, Ellar Coltrane, Patton Oswalt, Glenne Headly, Bill Paxton | Roteiro: James Ponsoldt, Dave Eggers | Baseado em: O Círculo (Dave Eggers) | Direção: James Ponsoldt (O Espetacular Agora) | Duração: 110 minutos
Há uma famosa foto que Mark Zuckerberg aparece cobrindo a câmera e o microfone de seu laptop com fita isolante. É uma história velha mas que logo exigirá uma resposta definitiva: você desistiria completamente da sua privacidade em nome da segurança? Nos moldes de ficções científicas, O Círculo é um exagero das redes sociais como conhecemos hoje, um lugar onde não apenas somos incentivados em compartilhar nossas vidas, mas que isso será obrigatório e você será taxado de monstro se não fizer isso. A produção discute também se existe saída desse labirinto que criamos, mas ao apresentar soluções fáceis demais acaba perdendo a audiência.
É verdade que em inspiração para em história de Eggers, que assina o roteiro baseado em seu próprio livro, é bem óbvia nos gurus da tecnologia. É impossível não lembrar das apresentações de Steve Jobs quando conhecemos Eamon (Hanks): a barba, as roupas sem marcas e em venda de seu produto como em melhor coisa do mundo desde sua última invenção. Ao usar um cenário que para a maioria é familiar – viver 24 horas por dia conectado e alimentando redes sociais – Ponsoldt espera que em mensagem seja passada de maneira mais dinâmica, um sentimento reforçado pela narrativa rápida, assim como as transformações no nosso mundo.
Vejam como em vida de Mae (Watson) muda rapidamente, por exemplo. Ela sai de um cubículo – o oposto do círculo – num trabalho que detesta, de uma realidade fria e sem graça – e a paleta de cores dessaturadas tem grande papel nessa parte – para o escritório do Círculo, um lugar arejado, sem divisórias e iluminado pela luz natural. Um ambiente tão convidativo que até o Sol em recebe nessa nova jornada, quase um aventura: a câmera flui pelo ambiente e a trilha sonora finalmente aparece para tirar Mae daquele mundo onde ela tem que lidar com um pai doente e problemas financeiros.
O problema é que essa perfeição fica um tanto óbvio que há alguma coisa errada. Veja, o roteiro não faz questão de esconder que os projetos de Eagon tem problemas e que ele, como um grande marketeiro, os esconde dentro de uma esfera – simbolicamente na produção de uma câmera portátil que pode ser colocada em qualquer lugar. Sempre recebido com aplausos, é muito difícil acreditar que nem mesmo a nossa protagonista se questione desse cenário quase orwelliano do co-fundador da True You. Sim, ele discursa bem, fala com empolgação, mas em nenhum momento o roteiro consegue ser sutil e esconder as verdadeiras intenções do personagem. Diferente do Facebook, por exemplo, que vendemos nossas informações e não sabemos exatamente como elas são usadas.
Outra questão que é o lado ruim da narrativa ser rápida é que a confiança que Ty (Boyega) deposita em Mae vem do nada. Depois de um breve encontro, o co-fundador da empresa confia na jovem puramente no seu instinto, e por terem dividido uma bebida, ponto de entregar o maior segredo da empresa para ela já no segundo encontro. Faria mais sentido ele procurar a imprensa ou até mesmo o Governo. O que acontece é que em intenção dele era apenas tirar peso da consciência se confessando como uma estranha. Curioso que esse ato é quase um paralelo religioso – quando você conta para um padre seus pecados por trás de uma cortina é como se você falasse com um estranho e, teoricamente, mais fácil.
Outro paralelo bem óbvio – já passamos por George Orwell e Redes Sociais – é a do Círculo se parecer com um instituição religiosa ou um culto. E se afastar do Círculo é como se afastar deles. E cabe um parênteses para uma experiência pessoal. Quando frequentei uma das variadas denominações evangélicas, um dos programas de fim-de-semana era fazer coisas juntos. Só com em congregação. Para evitar a tentação do pecado, eles diziam. Quando dois jovens empregados começam a torpedear Mae com perguntas sobre suas atividades fora do trabalho e em questionam por que ela não compartilharia com o resto da empresa – e você pode trocar essa palavra por “comunidade” – eles se assemelham como religiosos que invadem a sua privacidade para falar de como é bom estar com eles e com ninguém mais.
De tão óbvio que não demora para chegarmos à uma questão – ainda assim uma importante – que se você trocaria totalmente sua privacidade em nome da segurança. Há uma conversa entre Mae e outra funcionária que trabalha num projeto para colocar chips de localização nos ossos de crianças para diminuir sequestros e casos de estupros. Parece lógico, mas a discussão ética é bem rasteira – levando em conta que o filme quer atingir um público-alvo bem jovem, a história não se preocupa em cavar muito nesses assuntos espinhosos, o que deixa o entretenimento tão raso quanto à tentativa de aprofundá-lo.
O Círculo é um filme um tanto desesperançoso no quesito de como podemos lidar com em falta de privacidade hoje. Para Eggers a batalha já está perdida – e nesse mundo sem volta, ele sugere que todos entrem nesse jogo, planejando então uma sociedade diferente da mostrada 1984, algo verdadeiramente igualitário. É em princípio uma história interessante e que se perde no seu desenvolvimento ao não se aprofundar nos temas, fugir de perguntas óbvios (como o fato de Eamons não usar a própria tecnologia) e clchês (o acesso de Ty é em modernização do negro mágico). Por mais que a história represente a velocidade como as coisas mudam, não é possível crer nas soluções que caem no colo da protagonista, o que mostra um falta de vontade de preencher as lacunas criadas pelo próprio desenrolar da história. Um pouco mais de cuidado na escrita teria resolvido essa sensação.
O Círculo | Trailer
O Círculo | Pôster
O Círculo | Galeria
O Círculo | Sinopse
Mae (Watson) é admitida naquele que parece ser um emprego dos sonhos: O Círculo é a criadora da mais famosa das redes sociais e lá ela tem um ótimo salário, oportunidades para crescer na carreira e agora tem como cuidar da saúde debilitada de seu pai. Mas o lugar esconde dentro de si outras intenções que aos poucos vão tragando Mae para um novo mundo onde compartilhar sua vida não é só incentivado, mas mandatório – mas para quem?
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