O Caçador e a Rainha do Gelo | Crítica | The Huntsman: Winter’s War (2016) EUA
Com Chris Hemsworth, Charlize Theron, Emily Blunt, Nick Frost, Sam Claflin, Rob Brydon e Jessica Chastain. Roteirizado por Evan Spiliotopoulos e Craig Mazin. Dirigido por Cedric Nicolas-Troyan.
Não contando nem mesmo com esforço de seus protagonistas, O Caçador e a Rainha de Gelo não tem personalidade nenhuma, sendo apenas colagens de outras histórias.
Seria bem fácil rotular O Caçador e a Rainha do Gelo principalmente porque esse é um filme que não tem nenhum tipo de ambição – além de fazer dinheiro. O diretor não apenas repete os erros do filme anterior como os extrapola. As motivações da personagem título são fracas, todos os elementos costurados de outras histórias de fantasia fazem uma colcha de retalhos preguiçosa, sem nenhum destaque. A atuação de todos é automática, não nota-se nenhum tipo de esforço em transmitir emoções. O elenco principal parece um bando de iniciantes, fazendo um serviço apenas por obrigação. Do começo ao fim, o filme é uma enganação.
É possível falar de alguns pontos interessantes. Logo no início, Ravenna (Theron) joga uma partida de xadrez com a irmã Freya (Blunt), fazendo a alegoria que encerra o filme. Isso mostra algum tipo de cuidado com o argumento para ser fechado no próprio ciclo. E sim, os papeis femininos se sobrepõe aos masculinos, como deveria se esperar, deixando Eric (Hemsworth) mais com cara de paspalho enquanto Sara (Chastain) está mais focada na sua missão. Há também momentos isolados na narrativa interessantes, esteticamente falando, como a montagem que mostra o crescimento de Eric num travelling sem cortes, o que é uma boa sacada para dar dinamismo ao filme.
Infelizmente, a partir daí, é tudo ladeira abaixo. Mesmo sendo uma personagem de força, os roteiristas insistem no romance entre Eric e Sara. Não que tenha algo de errado com isso, mas o modo que é explorado chega a ser até covarde por parte do roteiro. Aliás, o distanciamento do casal só aconteceu porque Freya usa um poder que é jogado, por falta de palavra melhor, algo que não havia sequer dicas que ela poderia fazer. Ainda que aceitássemos a possibilidade da Rainha do Gelo ter habilidades ocultas, a trama precisa se justificar e explicar literalmente para a audiência o que aconteceu. Poderia haver mais drama na separação dos dois, gerando dúvida inclusive na audiência.
Se a proposta do filme era colocar três mulheres fortes – Ravenna, Freya e Sarah – elas precisavam de mais espaço. E há pontos onde a jornada de Eric poderia passar para Sarah, mas, de novo covardemente, a história segue a o caminho demasiadamente comum. Aliás, tudo é esperado: frases feitas e previsíveis assim como toda a trama apenas nos remetem à melhores exemplos de outras obras. É um roteiro tão preguiçoso que não desenvolve nenhum dos personagens, principalmente com os companheiros de jornada de Eric, os anões Nion (Frost) e Gryff (Brydon). Os dois não fazem absolutamente nada na história além de servir de alívio cômico. Podem notar que sem eles a narrativa terminaria do mesmo jeito, e o mesmo pode se dizer pelas anãs Doreena (Roach) e Bromwyn (Smith).
Essa preguiça de escrever – porque não há melhor palavra para descrever o trabalho de Spiliotopoulos e Mazin – é disfarçada de homenagens: Indiana Jones, Star Wars, e principalmente de O Senhor dos Anéis estão bem na nossa frente. O problema é que não são coisas pequenas, mas elementos importantes, em especial em relação ao Espelho Mágico. A dupla o transforma no Um Anel desse universo, com direito às inscrições em runas, vontade própria e uma essência ligada a ele. Aquele sexteto poderia muito bem ser chamado de A Sociedade do Espelho vista tantas similaridades com a obra de Tolkien.
Feito apenas e tão somente para arrecadar alguns trocados para o estúdio, O Caçador e a Rainha do Gelo é uma mistura de muitos outros contos que já vimos e sem a potência de nenhum deles. As subversões sobre o que é o amor irritam, os atores e atrizes estão claramente sem vontade nenhuma em serem sérios nas atuações e o clímax da batalha tem pouco impacto – poderia melhorar o filme, mas foi pouco explorado. Se a produção anterior tinha alguma boa intenção ao colocar mais ação com uma Branca de Neve guerreira, aqui foi tudo esquecido, deixando se levar pelo comodismo e pela pieguice extrema.
Sinopse oficial
“O filme se passa antes e depois de ‘Branca de Neve e o Caçador’ e conta a história da traição da Rainha Ravenna à sua irmã Freya e a consequência desse ato – o congelamento do coração de Freya para o amor, o que a transformou na Rainha do Gelo. Reinando em uma terra ao norte, Freya cria um exército de caçadores para protegê-la com apenas uma regra: dois deles jamais deveriam se apaixonar”.