O Ano Mais Violento | Crítica | A Most Violent Year, 2014, EUA
Com Oscar Isaac, Jessica Chastain, David Oyelowo, Alessandro Nivola, Albert Brooks, Elyes Gabel. Roteirizado e dirigido por J. C. Chandor.
Muitas coisas impressionam em O Ano Mais Violento. O diretor e roteirista J. C. Chandor é hábil em manter uma história tensa em praticamente todos os quadros e, na posição de espectadores, ficamos totalmente à sua mercê. E entre muitas sombras e meias-luzes, não sabemos de onde vem a surpresa. Adicione isso às cores do figurino e temos uma narrativa contada por meio de elementos que vão além do usual, coisas que podem ser difíceis de perceber à primeira vista. Esse é um drama pesado, denso e arrebatador, onde o protagonista tenta desesperadamente ficar num mundo aparte daquele ao seu redor: um lugar sujo, errado e depravado. E nada podemos fazer além de torcer e acompanhar sua luta.
Sinopse oficial
“O Ano Mais Violento é centrado na vida de um imigrante e de sua família tentando expandir os negócios e capitalizar oportunidades em meio ao inverno nova-iorquino de 1981, estatisticamente um dos anos mais violentos na história da cidade. Decadência, corrupção e rompantes são seus maiores adversários para evitar que tudo o que construíram entre em colapso.”
Por ser um hispânico, é fácil associar a figura de Abel (Isaac) com a de outro imigrante do cinema. O protagonista parece um anti-Scarface. Como no filme de Brian de Palma, ele se veste bem, quer viver o sonho americano e acredita que pode fazer isso mas, diferente do cubano, sem abrir concessões. E por isso vira alvo dos outros, esses sim tão parecidos com o personagem interpretado por Al Pacino em 1983. Para mostrar isso, e sem apelar para narrações off por exemplo, Chandor usa a corrida inicial de Abel como metáfora. Ele passa pela sua história – saí de um bairro mais chique, passando pelo subúrbio até as partes mais pobres da Nova York de 1981 – mas com a mente no futuro, representado pelos cortes que mostram o combustível chegando do outro lado do Atlântico até o porto da cidade.
Competente em criar tensão com o auxílio da fotografia de Bradford Young, é interessante que, apesar do filme estampar a palavra “violência” no título, pouco a vemos, mas ela esta lá, quase como uma cobra pronta para dar o bote. Fora os dois espancamentos feios, como do empregado e amigo de Abel, Julian (Gabel), vemos pouco sangue, poucos tiros. Porém, notem que sempre que Abel está em seu carro, ou quando há algum tempo para refletirmos sobre a história do filme, o diretor usa trechos de áudios que passam nos rádios sobre roubos e assassinatos de variados tipo. E, verdadeiramente, o ano de 1981 foi bem violento em Nova York, com muitos crimes envolvendo a máfia.
Indo além da fotografia, o diretor investe nas cores dos personagens para contar a história o mais visualmente possível. Abel, tentando ficar o mais distante possível desse mundo torpe e escuro, é constantemente visto vestindo um sobretudo bege, muito mais claro que o seu redor, ainda tem que num triste tom pastel. Um colega de negócios – por assim dizer – chamado Peter Forente (Nivola) também muda de cores durante a narrativa, ganhando mais cores escuras à medida que a situação de Abel vai piorando. E Anna (Chastain), esposa de Abel, em outra parte da história, confronta o marido sobre a realidade e como funciona o sonho americano. E nesse momento, o figurinista veste a personagem com cores azul e vermelho, as mesmas da bandeira dos Estados Unidos. Os momentos citados de Peter e Anna são acompanhados cuidadosamente por Young. À medida que o figurino de Peter vai escurecendo – como um perigo que se aproxima – a cena ganha uma luz bem fraca. Já Anna, no momento citado, está mais iluminada do que Abel, como se ela entendesse melhor o jogo.
Tudo parece convergir contra os planos de Abel. Desde os roubos, ele encarna a sua contraparte bíblica. Esse Abel é traído pelo irmão metafórico – Julian, também latino, vai contra as ordens do chefe de não se armar – e é tratado com violência pelo pecado – com grandes aspas – de estar prosperando sozinho. No desespero para conseguir dinheiro para completar seu grande sonho, ele é obrigado a passar pelos piores momentos. Notem que quando ele vai pedir dinheiro emprestado para um de seus competidores, ele se senta no pior lugar da sala de espera, a poltrona mais surrada. E que trabalho de fotografia fantástica é quando o diretor finalmente nos apresenta os gângsteres clássicos, sentados no fundo de uma cantina, onde Abel pede nada mais do que respeito para poder tão somente viver e trabalhar em paz. Porém, dessa vez diferente do que está na bíblia, não há descanso para os bons. Uma realidade nua e crua como todo o filme.
De fato, O Ano Mais Violento é uma reflexão sobre sonhos e como eles podem ser desconstruídos como castelos de areia. Não há sossego, nem do lado da lei, representado pelo procurador Lawrence (Oyelowo), pelo sindicato, pelos companheiros ou pelos empregados. Até em Anna ele encontra entraves, como na cena que nos assusta, pois verdadeiramente não esperamos os tiros que vem de fora do quadro. Digno de aplausos, essa é obra, não menos que apaixonante, nos faz pensar nas nossas motivações e se somos incorruptíveis até o fim ou, como diz Abel, só fazemos a coisa mais certa que é possível.
Veja o trailer de O Ano Mais Violento
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