Mad Max: Estrada da Fúria | Crítica | Mad Max: Fury Road, 2015, EUA

0 Flares Twitter 0 Facebook 0 Filament.io 0 Flares ×

Mad Max: Estrada da Fúria é uma aula de como se faz cinema de ação e supera todos os seus antecessores!

Mad Max: Fury Road, 2015

Com Tom Hardy, Charlize Theron, Nicholas Hoult, Hugh Keays-Byrne, Rosie Huntington-Whiteley, Riley Keough, Zoë Kravitz, Abbey Lee, Courtney Eaton. Roteirizado por George Miller, Brendan McCarthy e Nico Lathouris. Dirigido por George Miller (Mad Max).

10/10 - "tem um Tigre no cinema"George Miller é o maior fã de Mad Max, universo que ele próprio criou. O septuagenário diretor então esperou vários anos para mostrar ao mundo e aos outros fãs a visão definitiva desse universo. E a missão foi cumprida com Mad Max: Estrada da Fúria. Num misto de reboot e continuação, o diretor atualiza o seu estilo, ao mesmo tempo em que o mantém. São sequências impressionantes, muita velocidade e personagens que, mesmo não sendo muito aprofundados, cativam o espectador em uma verdadeira aula de como se fazer um blockbuster. Durante as duas horas, você será levado para um mundo que, apesar de futurista, tem um discurso familiar para nós, enquanto embarcamos numa aventura tão insana e louca quanto um guitarrista que toca seu instrumento presa a um caminhão.

Sinopse oficial

Assombrado por seu turbulento passado, Max (Hardy) acredita que a melhor maneira de sobreviver é vagar sozinho. No entanto, ele é levado por um grupo em fuga através da Wasteland em um War Rig dirigido por uma Imperatriz de elite chamada Furiosa (Theron). Eles estão fugindo de uma cidadela tiranizada por Immortan Joe (Keays-Byrne), que teve algo insubstituível roubado. Enfurecido, o senhor da guerra convoca todas as suas gangues e persegue os rebeldes impiedosamente na estrada de guerra que se segue.”

Apesar do cenário que vemos ser um deserto pós-apocalíptico, não é difícil ver a crítica social que Miller impõe ao filme. Os simples imploram por água, algo que o velho e decrépito Imortan Joe faz questão de segurar para si e tomar como propriedade privada, ao ponto de dar um nome comercial a ela. Ele diz em determinado momento “não se viciem pela água”, enquanto vemos os miseráveis da cidadela que ele comanda lutar a socos e pontapés por um gole. Como uma grande e ultrapassada corporação, Joe objetifica todas as pessoas. Quando Max é capturado, ele é tatuado com informações de tipagem sanguínea e vira uma bolsa de sangue ambulante. Assim é com os seus “bens” mais preciosos, guardados num cofre, e que Furiosa se compadece para salvar. Para esse vilão, a humanidade não é mais que uma propriedade.

Em paralelo, Max tem algo desse caráter. Na narração off introdutória – que ainda bem não se arrasta pelo resto do filme – o protagonista conta que foi um policial e das pessoas que perdeu durante sua jornada. Ele perdeu sua humanidade e Miller representa isso inicialmente por seu visual totalmente desarrumado, com cabelo e barba escondendo todo seu rosto, e depois na atuação de Hardy – confortabilíssimo na sua missão de atuar o mínimo possível – que praticamente não fala durante toda a projeção. Ele parece mais estar grunhindo suas curtas ordens: “água”, “corrente”, “você”, “fique”. Para finalizar visualmente, Max é colocado numa focinheira durante todo o primeiro ato, complementando esse estado feral numa ligação entre o quase fim da humanidade e da própria.

Diferente do original, a música de Tom Holkenborg (também conhecido como Junkie XL) é um elemento narrativo muito interessante, principalmente nos temas que acompanham Furiosa e Immortan. São imponentes e marcantes, cada um ao seu estilo. Há algo de diegético nas músicas, com baterias lembrando tiros disparados, e a inserção de música eletrônica mantém a atualidade para as músicas. Interessante que apesar desses dois personagens terem seus próprios momentos musicais, Immortan se destaca porque ele tem uma banda pessoal – um guitarrista com um instrumento que dispara chamas e percussionistas pessoais – que o acompanham em batalha, dando outro ar à música diegética.

A franquia sempre foi conhecida pelas marcas registradas do próprio Miller. Então, de novo, estão presentes a fúria, a câmera acelerada, a velocidade e a perseguição. E é nesse momento que os diálogos – claro, num sentido metafórico – acontecem. Num bom filme de ação, a perseguição e a velocidade querem dizer algo mais do que o simples ato de pisar no pedal. Correr e lutar é o que Max sabe fazer. No momento, é o que Furiosa precisa fazer. E Immortan Joe quer fazer para sua própria luxúria. E esse é o campo de batalhas dele, porque sabemos apenas por vislumbres que não é possível que esses personagens sentem e cheguem a algum consenso. Joe é um personagem capaz de mutilar – como ele fez com suas esposas e provavelmente com Furiosa e – e dar falsas esperanças aos seus comandados, inventando uma adoração a ele, à velocidade, e a uma religião há muito esquecida.

É nisso que Nux (Hoult) está bem representado, e por isso é o personagem mais desenvolvido do filme. Ele é criado para adorar um volante – a velocidade – o seu senhor – com um sorriso de caveira, representando o estado cadavérico e a própria morte – e até morrer por ele numa morte gloriosa no melhor estilo viking, misturado com os já citados elementos conhecidos por nós. O elemento da tinta prateada é detalhe incrível na construção daqueles que buscam a morte em nome de Joe. Nux passa pelos estágios de acreditar cegamente no que é dito até encontrar uma iluminação própria, ao perceber que todas suas oportunidades de passar pelos portões de Valhalla foram desperdiçadas.

O cenário do filme é cheio de detalhes interessantes para serem seguidos. Competentemente, Miller não deixa sua história ir muito além do nosso mundo conhecido, misturando elementos antigos com atuais. Além dos carros e motos que estão num estado que precisam ser constantemente reformados, há uma regressão – onde usam armas como lanças – com a adaptação necessárias – quando notamos serem lanças explosivas. E nessa produção a areia é atuante, ao ponto de salvar a vida dos personagens ao mesmo tempo em que, misturada com fogo e trovões, pode acabar com esse belo dia – a sensação é que saímos do cinema cuspindo areia nós mesmos. De quebra, o diretor homenageia o próprio universo com um rápido frame do primeiro Mad Max e um objeto singelo vindo do segundo.

Voltando ao tema atualização, Miller cria personagens femininas fortíssimas. A já citada Furiosa – dona de um braço mecânico e que vai à guerra pintada de graxa – que se equipara à ferocidade de Max, e o grupo de mulheres que mais tarde são acrescentadas à narrativa, dão um novo ar ao estilo majoritariamente dominado por homens. Ao contrário deles, elas são precisas e centradas, precisando de apenas um tiro para resolver a situação. As esposas de Immortan são mais frágeis, mas evoluem com o passar do filme. Elas são uma visão do paraíso, principalmente quando Max as encontrar seminuas, se banhando em água limpa numa visão quase machista de comercial de cerveja – tanto que a maioria das atrizes tem como profissão principal a passarela. No entanto, não é nada misógino, e serviu para Max questionar mais uma vez a própria sanidade.

Entendam que apesar desse filme ser classificado pejorativamente como tiro, porrada e bomba, há bem mais do que podemos ver se observamos além da superfície. Como comentei várias vezes, tanto aqui como nos podcasts, há camadas para serem destrinchadas. Portanto, podemos perceber que nesse filme de ação insana e trilha sonora empolgante há um cuidado com o roteiro – praticamente todos os elementos estão ligados – 80% dos efeitos especiais são práticos – o que dá outro ar à produção – a fotografia consegue passar a sensação de sujeira, e que até os personagens secundários tem um tratamento interessantíssimo. Notem como frequentemente as esposas fugitivas são iluminadas diferentemente de Max e Furiosa, seja pela luz do ocaso, ou de uma lamparina. Ou nos subcomandados de Immortan, um mafioso que se veste com um e tem um nariz metálico, e o matador que tem dentes de bala. Ou seja, eles respiram e comem suas funções – vivem disso.

Mad Max: Estrada da Fúria | Pôster brasileiro

O peso da trilogia original pairou como uma dúvida do que estava por vir. Pois bem, Mad Max: Estrada da Fúria não apenas respeita seus antecessores como os supera. Não é exagero nenhum cobrir esse filme de elogios nesse mar de blockbusters que entraram numa onda aparentemente eterna de continuações. Aqui, a ação e a velocidade mostram que existe algo a perder e a se buscar. Os anos estre a Cúpula do Trovão e a Cidadela fizeram bem ao versátil diretor George Miller, que trouxe um filme apto tanto para a nova geração como para aqueles já apaixonados pelo universo estabelecido nos anos setenta e oitenta.

Assista o trailer legendado de Mad Max: Estrada da Fúria

Veja a galeria de fotos de Mad Max: Estrada da Fúria

 

[críticas, comentários e voadoras no baço]
• email: [email protected]
• twitter: @tigrenocinema
• fan page facebook: http://www.facebook.com/umtigrenocinema
• grupo no facebook: https://www.facebook.com/groups/umtigrenocinema/
• Google Plus: https://www.google.com/+Umtigrenocinemacom
• Instagram: http://instagram/umtigrenocinema

http://www.patreon.com/tigrenocinema

 

Volte para a HOME

 

Share this Post

About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".