La La Land: Cantando Estações | Crítica | La La Land, 2016, EUA
La La Land: Cantando Estações é como a vida – uma mistura de amor e coração partido.
Elenco: Ryan Gosling, Emma Stone, John Legend, Rosemarie DeWitt, J. K. Simmons | Roteiro e direção: Damien Chazelle (Whiplash: Em Busca da Perfeição) | Duração: 128 minutos
São tantos sentimentos que se passam depois de uma sessão de La La Land: Cantando Estações que é difícil expressar todos. Fica até uma ponta de medo de ser injusto e deixar algo de fora. O filme pode ser apreciado como homenagem ao cinema, um drama romântico, um musical, uma comédia ou ainda tudo isso – sem perder o equilíbrio entre um gênero e outro. Os personagens nos cativam, as situações nos arrebatam e os detalhes nos fascinam, sendo impossível dissociar um elemento do outro. E esses elos formam uma corrente que nos aperta tão forte que saímos marcados dela, com vontade de sorrir e chorar nessa mistura de sonho e realidade.
O gênero musical é bem negligenciado no cinema pelo público atualmente – apesar de sucessos pontuais, não há aquele sucesso de produções como Cantando na Chuva ou Um Violinista no Telhado – e Chazelle foi ousado na sua homenagem. Arriscou na abordagem e soube equilibrar as inserções musicais e a parte romantizada, apesar da música sempre estar presente como personagem. Seja num piano ou no som saído de uma vitrola essa paixão do diretor engloba os passos de Mia (Stone) e Sebastian (Gosling). Até mesmo simbolicamente, considerando o prólogo e epílogo. A percepção de não gostar de musicais vem muito comumente seguido de que ninguém na vida real para cantar e sapatear na rua – e o que o diretor mostra bem é que isso faz sentido por existir no mundo dos sonhos.
Entre cores fortes, vivas e alegres acontece esse breve momento que chamamos de vida e onde usamos a arte – o cinema, a pintura, a música – para nos agitar um pouco. Essas vozes e pessoas diferentes criam um cenário que em certos momentos pode parecer escapismo, principalmente para quem tem uma visão pragmática da vida. Mas Mia e Sebastian estão buscando seus sonhos, ainda que a vida os acorde para a realidade: o engarrafamento do epílogo, a buzina do carro de Sebastian, o celular de Mia tocando na cena do sapateado, a película que queima no cinema. O que não quer dizer que buscar esses sonhos seja inútil.
E nessa busca Chazelle nos conta entre estações, figurinos e música o que é, pelo menos na sua visão, viver um sonho. E nessa cidade onde sonhos são feitos, nada parece ser improvável, como os esbarrões entre Mia e Sebastian em seus humores diferentes. A princípio julgamos o jeito cretino do pianista ao passar por Mia em um bar, e por isso nos divertimos quando os dois se reencontram e ela o esfaqueia, metaforicamente, quando pede para o jazzista tocar uma música new wave – a morte para um pianista sério, como ele mesmo diz. Essa oposição também se reflete nos figurinos vermelho dele e amarelo dela, para terminar numa doçura que acontece num nascer do sol aonde os dois, pouco a pouco, vão encontrando um território comum – aqui representado pelo show de sapateado.
Podemos notar o uso de cores lisas durante todo o filme – sejam elas primarias ou secundárias – o que traz um ar de nostalgia e até simplicidade à produção. Apesar desse não ser um simples filme de romance por fugir de algumas das convenções do gênero, Chazelle prefere utilizar as cores dessa maneira para ser mais direto. Seja pelo azul que vai acompanhar a narrativa dos dois – algo carregado de certa melancolia – na luz ou nos figurinos, no branco do começo da história quando ainda não se conhecem – ainda inocentes um ao outro – ou no verde que traz momentos de dúvida ao casal, o diretor cria o clima preciso para cada cena, onde cada luz, iluminação e sombra faz sentido.
Assim, claro, como a música. Um pouco mais acima comentei como a trilha sonora, apesar de presente em boa parte da narrativa, não incomoda ou martela na sua mente. Pois Chazelle sabe quando e como usá-la – e até quando não usá-la, como na primeira discussão do casal quando a música da vitrola para por segundos que parecem minutos. Há também elementos de som que mudam o foco da narrativa – a buzina do carro de Sebastian que Mia se lembra no bar – que se mesclam com a sonoridade da música, mais uma vez remetendo a tal realidade. Há também a música como homenagem, percebida principalmente na dança de Mia e Sebastian no Planetário onde os dois dançam envolvidos pelas estrelas – homenagem à própria Hollywood.
Podemos nos perguntar, previamente e até mesmo durante o filme, o que o diferenciaria de outras produções do gênero musical e romance. E há um ponto de virada na narrativa que faz toda a diferença para a história – a cena em que você irá olhar para dentro de si e perguntar se há coragem de ser diferente ou se conformar com a mesmice. Para o bem ou para mal, e isso é decisão de quem assiste, Chazelle consegue separar sonho de realidade num lindo e triste epílogo de sete minutos, um passeio de dois apaixonados que apenas reforçam o que foi dito antes numa troca de confidências: “eu sempre vou te amar”.
E se Chazelle apresentou um musical que ao mesmo tempo em que homenageia o estilo e arrisca com caminhos se não novos, mas pelo menos não usuais, também é preciso pedir que nós, no papel de plateia, demos mais uma chance para entender o que ele fez e por que o fez. Vindo de uma carreira curta e acertando pela segunda vez em seguida, percebemos que o palco da vida é a tela de pintura do diretor e que ele tem domínio completo até agora. Basicamente, a vontade que fica é voltar mais de uma vez para esse espaço.
É lugar comum dizer que La La Land: Cantando Estações é um dos melhores filmes do passado – por ser um filme que está na lista de vários críticos renomados aqui e no exterior – mas é verdade. Desde detalhes técnicos, passando pela atuação da dupla de protagonistas, os paralelos sobre amor ao cinema e a música, é um daqueles filmes que trazem sentimentos conflitantes, pois não é difícil sair tanto amando quanto estar de coração despedaçado depois da sessão. Ao invés de destruir a humanidade de alguém como fez na produção anterior, aqui Chazelle nos faz apreciar a vida, a arte e os sonhos – ainda que eles não possam conviver juntos sempre que queremos.
La La Land: Cantando Estações | Trailer
La La Land: Cantando Estações | Pôster
La La Land: Cantando Estações | Galeria
La La Land: Cantando Estações | Sinopse oficial
“A ficção apresenta a história de Mia (Stone), uma aspirante a atriz, e Sebastian (Gosling), um músico de jazz dedicado, que estão lutando para sobreviver em uma cidade conhecida por esmagar as esperanças e quebrar os corações. Ambientado na moderna Los Angeles, este musical original fala sobre a vida cotidiana e explora a alegria e a dor de um casal que persegue os seus sonhos“.
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